Profissão auxilia no desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
“A engenharia biomédica é um campo de atuação interdisciplinar que faz interface entre as ciências exatas e a área da saúde. O engenheiro biomédico aplica conceitos de engenharias, física, matemática...para estudar, modelar, medir e/ou intervir sobre sistemas biológicos.”
Quem faz a introdução sobre a profissão é a professora Karina Rabello Casali, coordenadora do curso de graduação em Engenharia Biomédica, do Instituto de Ciência e Tecnologia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em São José dos Campos (SP). Segundo ela, a especialidade surgiu exatamente neste contexto, a partir da demanda, principalmente tecnológica, na área da saúde. “Relatos históricos apontam o fim da Segunda Guerra Mundial como marco do surgimento, ou início da atuação, do engenheiro biomédico, especialmente na área de reabilitação de soldados, abrindo espaço para pesquisa e desenvolvimento na área de instrumentação hospitalar e engenharia clínica”, ensina.
Já, no Brasil, prossegue Casali, o primeiro centro de formação na área foi o curso de Mestrado do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fundado na mesma época da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, em meados dos anos 1970. “Em seguida, foram surgindo outros cursos e centros multiprofissionais para atuação nas diversas linhas da engenharia biomédica. Hoje, segundo o MEC [Ministério da Educação], existem 19 instituições públicas e privadas que oferecem cursos de graduação na área de engenharia biomédica”, informa a coordenadora do curso da Unifesp.
A professora faz questão de informar que o curso de Engenharia Biomédica da Unifesp acaba receber selo de melhor curso de graduação em instituição pública brasileira oferecido pelo jornal O Estado de S.Paulo. “É uma forma de reconhecimento do trabalho que fazemos”, exalta a docente, com muita emoção.
A avaliação dos cursos, explica Casali, é feita oficialmente pelo Ministério da Educação. A graduação da Unifesp recebeu o conceito 4 na última avaliação, sendo que a nota 5 (máxima) não foi atribuída a nenhum curso no País. “Ou seja, para o MEC, também estamos com a nota máxima”, comemora.
Gêneros equilibrados
O número total de profissionais registrados na modalidade, no País, conforme estatísticas dos conselhos federal e regionais de engenharia (Sistema Confea-Creas), é de 451 engenheiros biomédicos, numa participação igual entre homens (226) e mulheres (225).
Gabriele Fernandes Garcia, 21 anos de idade, será mais uma mulher a ajudar nesse equilíbrio nas estatísticas da profissão. Ela entrou no curso da Unifesp, em 2018, ainda bem jovem, aos 17 anos. Garcia está no quarto ano e com previsão de conclusão no fim de 2022. A profissão entrou na vida dela quando ainda pesquisava uma atividade que transitasse “entre as carreiras focadas na área da saúde e biologia, mas com uma forte afinidade pela área das exatas, assim que vi a grade da Engenharia Biomédica, encontrei o que estava procurando. Foi quando o meu coração bateu mais forte”. Ela ainda revela que “pensava que não gostava da parte de elétrica e eletrônica, que são as bases dessa modalidade, mas foi o que mais gostei de estudar e aprender. E estou aqui até hoje, cada dia mais apaixonada pelo curso”.
A relação entre essas áreas (exatas e biologia), buscada pela jovem Garcia, não é trivial, explica a professora Casali: “A formação interdisciplinar é fundamental para que esse interfaceamento exista. O engenheiro biomédico tem formação para dialogar com o profissional da área da saúde, entender o problema que deve ser solucionado e propor soluções com aplicação de ferramentas da área das exatas. Esse é exatamente o diferencial do aluno formado no curso de graduação em engenharia biomédica, em relação aos demais profissionais que também atuam nesta área. A formação pura não tem esse enfoque e pode dificultar esse trânsito.”
Salvando vidas
A docente afirma que a engenharia biomédica está presente na vida das pessoas, muito mais do que elas imaginam. “Quando fazemos um exame de imagens, quando medimos a pressão arterial, quando fazemos uma cirurgia, por mais simples que seja, tudo isso envolve um engenheiro biomédico na manutenção, na calibração ou até no desenvolvimento do equipamento”, avisa.
Como lembra a professora, antigamente não se tinha “tanta tecnologia envolvida nos procedimentos clínicos e hospitalares”. Por isso, relaciona Casali, o avanço tecnológico “nos trouxe muitas vantagens e até aumento na expectativa de vida, nos torna dependentes dos profissionais que garantem o uso adequado e fidedigno destes instrumentos”.
A futura engenharia biomédica está ciente dessa presença e reforça que a sua profissão “pode transformar a vida das pessoas, principalmente dos pacientes, que são sempre o nosso foco”. Para Garcia, é muito gratificante exercer uma profissão que contribui com a saúde das pessoas, pois “o que move um engenheiro biomédico é poder fazer a diferença na vida de alguém por meio da tecnologia”.
Ambientes de atuação
O engenheiro biomédico, devido a sua formação interdisciplinar, pode atuar em diversos ambientes, desde o acadêmico, envolvido em pesquisas científicas, até o industrial, trabalhando no desenvolvimento de novos equipamentos biomédicos. A observação é da professora Casali, acrescentando que outra área de atuação com muita demanda da engenharia biomédica é a hospitalar. Esse profissional, nesse local, indica ela, vai atuar em “gestão de clínicas e hospitais, calibração e manutenção de equipamentos hospitalares e até acompanhamento de cirurgias envolvendo dispositivos de alta tecnologia e robótica”.
Garcia confirma essa tendência, informando que iniciou o seu estágio na GE Healthcare, empresa na área de equipamentos médico-hospitalares. A discente relata, com entusiasmo, que está conseguindo aplicar, na experiência, o que vem aprendendo na faculdade na área técnica de especificações de equipamentos de cirurgia da empresa. Ela arrebata: “Poder atuar dentro da minha área de estudo e em uma das áreas que sinto mais afinidade é gratificante. Além de fazer o que gosto, consigo aprender muito mais e repassar meu conhecimento, agregando também à empresa e ao meu grupo de trabalho. O estágio é essencial para a complementação da formação do engenheiro e do aprendizado na prática.”
A professora observa que a profissão é vista como das mais promissoras no mundo e, já há alguns anos, tem sido apontada em diversos rankings internacionais como aquela com melhores perspectivas no mercado. Ela afirma que, no Brasil, é a mesma tendência. “Antes, poucos sabiam sobre a atuação do engenheiro biomédico, hoje recebemos um ótimo retorno do mercado, inclusive de grandes empresas, por meio da efetivação de egressos da Unifesp e de solicitações de estagiários”, revela.
Formação multidisciplinar
A coordenadora do curso da instituição pública federal acredita que a formação multidisciplinar do engenheiro será cada vez mais exigida, por ser, segundo ela, uma tendência mundial. “Quando falamos que nossa formação é multidisciplinar, não nos referimos que os alunos possuem disciplinas da área de exatas e da saúde. Eles também desenvolvem habilidades comportamentais com disciplinas na área de humanas, envolvendo conceitos de sociedade, ambiente e o seu papel como engenheiro no mundo. Além disso, prezamos a atuação do aluno em projetos de extensão como forma de compreensão de seu papel como estudante de instituição pública e seu compromisso com a sociedade”, relata Casali.
A estudante
Garcia já se mostra muito ativa na faculdade. Participou de dois projetos de iniciação científica, ambos na área de Processamento de Sinais e Imagens Biomédicas, de monitoria e, ainda, na representação discente e organização de eventos científicos.
Nos projetos de iniciação científica, foi contemplada por bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp). O primeiro projeto foi na área de eletrocardiograma, com o desenvolvimento de um programa computacional para extração automatizada dos parâmetros das 12 derivações de um exame de eletrocardiograma normal. O segundo, que está finalizando agora, é sobre o desenvolvimento de um método de segmentação automatizada da valva mitral em imagens de ecocardiograma, utilizando redes neurais. “Ambos os projetos visaram criar uma solução que facilitasse e auxiliasse o auxílio médico, especialmente na prática clínica, exatamente o objetivo da área de atuação da Engenharia Biomédica: a inclusão de tecnologia para a evolução da medicina e qualidade de tratamento para o paciente”, explica.
Como monitora, Garcia participou das disciplinas “Cálculo em uma variável” e “Cálculo em várias variáveis” durante cerca de dois anos, dentro do maior projeto de monitoria da Unifesp, diz ela e completa que “foi muito importante para meu desenvolvimento na parte educacional e também para lidar com pessoas”.
Garcia foi representante discente do curso de ingresso unificado, o Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, durante um ano, e, atualmente, é uma das representantes discentes do curso específico, a Engenharia Biomédica. “Identifico-me bastante com a posição de representar os alunos, pois sempre fui muito preocupada com questões de ensino e de os alunos terem uma voz dentro de seu aprendizado e dentro da universidade. Os professores do curso são muito abertos e preocupados com a nossa opinião, então é um prazer muito grande trabalhar junto a eles para a evolução do curso de graduação”, emociona-se.
A professora
Karina Rabello Casali se defini com perfil multidisciplinar semelhante aos demais docentes do curso. Ela se apresenta: “Sou formada em Engenharia Elétrica, com ênfase em Eletrônica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mestrado na Escola Politécnica da USP [Universidade de São Paulo], na área de Processamento de Sinais Biomédicos. Meu doutorado foi em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com estágio de dois anos no exterior, na Universidade de Milão na Itália, sempre na área de processamento de sinais.”
Casali completou sua formação em ambiente clínico e hospitalar realizando três pós doutorados em hospitais públicos na área de cardiologia e endocrinologia. Em 2013, ela prestou concurso na Unifesp e participou na elaboração da matriz curricular do curso, “tenho muito orgulho de fazer parte da história da graduação em engenharia biomédica da Unifesp e presenciar hoje o seu reconhecimento em diversos âmbitos”, diz. Para ela, vivencia-se um aumento no interesse dos estudantes brasileiros por esta área e “esperamos receber e formar cada vez mais engenheiros biomédicos de qualidade para atuar no Brasil e no mundo”.
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