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19/11/2021

Racismo estrutural brasileiro exclui negros da engenharia

Embora representem 54% da população, pretos e pardos ainda são marginalizados e têm escassa presença na profissão

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Edição Rita Casaro - Comunicação/SEESP

 

As estatísticas dos Conselhos Federal e Regionais da Engenharia e Agronomia (Sistema Confea/Creas), referência oficial para o tema, não informam o perfil racial dos inscritos no órgão, mas sabe-se que pessoas pretas e pardas – que compõem a população negra e representam 54% dos brasileiros – têm presença escassa na profissão e nas escolas. Mesmo quando em 2018 os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicavam que esse estrato social era maioria dos matriculados nas universidades públicas, não passava de 40% nos cursos de engenharia, conforme estudo do Idados baseado no Censo da Educação Superior daquele ano.  

 

Àqueles que vencem o desafio de ingressar e concluir um curso de engenharia apesar dos obstáculos socioeconômicos e culturais, resta ainda conquistar um lugar no mercado e ascender na carreira, superando os entraves presentes numa sociedade que segue racista e excludente, passados 133 anos da suposta abolição da escravidão, tragédia cuja herança é determinante da abissal desigualdade no País. 

 

A falta de oportunidades na engenharia para a maioria negra se coaduna, portanto, com o quadro desolador de iniquidade, agravada pela pandemia do novo coronavírus. Conforme dados do IBGE, o desemprego que na média nacional aumentou para 13,5% em 2020 chegou a 17,3% para a população preta e a 15,4% para a parda.

 

Porém, independentemente da crise sanitária, as disparidades são gritantes. A Síntese de Indicadores Sociais 2020, também do IBGE, com dados de 2019, mostra que dos 10% mais pobres, 21,9% são brancos e 77,0% são negros. Já nos 10% mais ricos, a proporção se inverte: 70,6% são brancos e 27,2% são negros. De um total de 23,8 milhões de jovens com 15 a 29 anos de idade e sem ensino superior completo e que não frequentavam escola, 57,6% dos homens pretos ou pardos e 53,2% das mulheres pretas ou pardas estavam nessa situação.


A presença dos pretos ou pardos é maior na agropecuária (62,7%), na construção e nos serviços domésticos (66,6%), em atividades cujos rendimentos eram inferiores à média em 2019. Já nos serviços de informação, atividades financeiras e outras atividades profissionais e administração pública, educação, saúde e serviços sociais, cujos rendimentos médios foram bastante superiores à média, a maior participação de pessoas ocupadas era branca.

 

600 Salário negrosFonte: Síntese de Indicadores Sociais - 2019

 

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou, nesta sexta-feira (19/11), dois materiais sobre a população negra e o mercado de trabalho no País. Boletim Especial 20 de novembro - Dia da Consciência Negra: Desigualdade entre negros e não negros se aprofunda durante a pandemia; e Gráficos com informações sobre a população negra no mercado de trabalho no Brasil e regiões.

 

Com a palavra, as engenheiras negras

Para contribuir com o debate e a luta pela igualdade racial na profissão e na sociedade em geral, o Portal do SEESP entrevistou as engenheiras Tatiana Vitório Isidorio e Maria Beatriz Lisboa, além da estudante Mariana Antunes. Representantes da parcela duplamente minoritária na profissão, elas contam suas trajetórias e relatam os obstáculos enfrentados para ocupar um lugar que lhes cabe por mérito e direito como cidadãs.

 

Tatiana Vitório Isidorio
Desistir nunca foi uma opção para mim

Tatiana destaque inicialTatiana Vitório Isidorio: uma vitória para todas as crianças pretas. Crédito: Acervo pessoal

 

Na entrevista concedida enquanto preparava as malas para uma viagem de trabalho ao Suriname, Tatiana Vitório Isidorio contou sua trajetória de vida como mulher preta, que aos 27 anos atua como engenheira de projetos numa multinacional.

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Maria Beatriz Lisboa
Sou mais uma mulher preta na engenharia


Maria destaque inicialMaria Beatriz Lisboa: ensinar desde criança que a humanidade tem todas as cores. Crédito: Acervo pessoal Engenheira de Petróleo, Maria Beatriz Lisboa tem 27 anos e trabalha para uma grande multinacional do setor. Nesta entrevista, ela escolheu cuidadosamente as palavras que usou, “porque elas fazem sentido para mim, e para o povo preto”.
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Mariana Antunes
“Uma sobe e puxa a outra”, aconselha estudante

 

Mariana destaque inicialMariana Antunes ensina a lutar e seguir com coragem. Crédito: Acervo pessoalMariana Antunes completa 25 anos neste 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, que festeja ainda com mais alegria. Graduanda em Engenharia Civil na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, ela é colaboradora da escola de negócios Voitto, responsável pela parte de novos produtos.
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* Imagem do destaque desta matéria foi reproduzida a partir do portal da Prefeitura Municipal de Unaí. 

 

 

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Comentários  
# Engenheira Negra? Parda?..Eliana Maria Saletti 25-11-2021 13:34
Acredito que tanto o Crea quanto o Sindicato dos Engenheiros não tenham noção de quantas mulheres são Engenheiras quanto mais se são negras ,pardas etc....Sou engenheira parda, formada em 1979.

Um dia muda........... ...
Responder
# Engenheiro MecanicoMoises Romano 26-11-2021 14:02
Sou engenheiro mecânico a 40 anos e nunca ouvi falar de racismo no meu meio de trabalho. Ouço, sim, todos os dias comentários que não condizem com a verdade, pois estimo meus irmão de qualquer raça; já trabalhei com negros, pardos, bolivianos, chilenos, japoneses, e até com brasileiros, todos, sempre formamos uma equipe única e unida em prol de um Brasil melhor, Não desistir é a regra!
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