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14/12/2021

Produção de alimentos aquáticos com mínimo impacto ambiental

 A engenharia de pesca estuda métodos e tecnologias aplicados em ambiente aquáticos – de água doce ou salgada.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

O Brasil tem 1.960 engenheiros de pesca – 1.380 homens e 580 mulheres – com registro ativo junto aos conselhos federal e regionais da categoria (Sistema Confea-Creas). As três primeiras graduações de Engenharia de Pesca, no Brasil, foram criadas, respectivamente, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE,) em 1971; na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1972; e na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em 1989. Não à toa, o nascimento da profissão se deu em regiões litorâneas e de grandes bacias hidrográficas.

 

Sanches pescaProfessor Eduardo Antônio Sanches, da Unesp de Registro, no Rio Kuluene, em Canarana (MT), em 2015. Observação: o peixe está vivo. Crédito: Domingos Garrone Neto.


Hoje, o País tem 26 cursos na modalidade, ofertados por instituições públicas federais e estaduais. Neste 14 de dezembro comemora-se o Dia do Engenheiro de Pesca, que desenvolve suas atividades ligada à produção de alimentos com qualidade e quantidade suficiente para atender à população. “É uma realidade no Brasil e no mundo, porém, isso não pode ser realizado de forma desordenada e sem critério. Neste sentido, pela ampla formação que obtém na graduação, esse profissional consegue associar a produção de alimentos com mínimo impacto ambiental”, observa o professor Eduardo Antônio Sanches, desde 2013, do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Registro, que já atuou na área de piscicultura e reprodução de peixes.

 

Segundo ele, o profissional da área vai ter o cuidado de atender as necessidades biológicas dos organismos “conciliando com a preservação do ambiente em que está atuando, algo que converge com os [17] Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU [Organização das Nações Unidas], em que a pesca e a aquicultura devem estar associadas à responsabilidade ambiental”, ressalta o docente. Além disso, lembra ele, o Brasil é um país com mais de 8000km de costa e com a maior rede hidrográfica do mundo, “o que demostra um grande potencial de se tornar um dos principais fornecedores de proteína aquática do mundo de forma economicamente rentável e ambientalmente correta”.

 

TICs e engenheiro do futuro
A engenharia de pesca, assevera o docente, tem se beneficiado dos avanços da tecnologias, notadamente as digitais. Ele explica: “As tecnologias digitais têm proporcionado a elaboração de sistemas de produção mais eficientes e com maior controle sobre parâmetros relacionados aos sistemas produtivos.”

 

Lana UnespLana Lopes Silva: em seu trabalho de conclusão, ela pretende fazer uma avaliação de mercado e nutricional da Alga Nori, na cidade de Registro. Crédito: Acervo pessoal.

 

Tais dispositivos, prossegue ele, incluem sistemas automatizados de controle de qualidade de água em viveiros de criação, mapeamento de ambientes georreferenciados utilizando sensoriamento remoto até sondas e sonares utilizados para localização e identificação de cardumes. “Além disso, as tecnologias digitais revolucionaram os meios de comunicação e hoje temos profissionais com uma ampla formação além dos muros da universidade, com maior facilidade de obtenção das informações que muitas vezes estão a um clique de distância”, referindo-se às tecnologias de informação e comunicação (TICs).

Hoje se fala muito no engenheiro do futuro, aquele que, além do saber técnico próprio da área, desenvolve habilidades comportamentais. Como destaca o professor, esse profissional não é mais do futuro, mas do presente. Para ele, a universidade deva dar todo o direcionamento técnico ao profissional para esteja habilitado a resolver problemas e estar no mercado de trabalho de forma positiva.

 

Todavia, ressalta Sanches, o profissional precisa ter uma visão interdisciplinar, o que vale dizer saber se relacionar com outras pessoas e com profissionais de outras áreas. “Tenho visto com maior frequência trabalhos em redes de colaboração, que ajudam no desenvolvimento de novas tecnologias produtivas e conservacionistas. Aqui, as habilidades comportamentais são fundamentais para o sucesso”, aponta. Ainda conforme o docente, em conversas recentes com alguns colegas que estão em cargos de chefias em empresas, “percebo que as corporações estão buscando não apenas o profissional com maior conhecimento técnico, mas aquele que saiba se relacionar com as pessoas que estão em volta, que é comunicativo e dinâmico para exercer a função”.

 

Proposta pedagógica
O professor explica que o curso da Unesp Registro tem 4.065 horas de disciplinas de conteúdos básicos, profissionais essenciais e profissionais específicos a serem creditadas de forma integral durante cinco anos. “Os conteúdos são ministrados em aulas teóricas expositivas e com metodologias ativas, bem como, nas aulas práticas que podem ser em laboratórios ou em campo, com a realização de visitas in loco em unidades aquícolas, pesqueiras, conservacionistas ou de beneficiamento de alimento”, descreve.

 

WaniltonO estudante Wanilton Polachini Batista já estagiou na Hidrelétrica de Itaipu (PR). Observação: o peixe está vivo. rédito: Acervo pessoal.Os alunos têm a opção de realizar atividades complementares específicas na área em que quer atuar no futuro, sendo recomendado a participação em trabalhos de pesquisa e extensão, bem como, em atividades acadêmicas organizadas pelos órgãos estudantis. “Neste ano, estamos elaborando uma proposta de reestruturação curricular, no intuito de deixar as disciplinas mais flexíveis, modernas e que direcionem os alunos para ter uma visão mais empreendedora, de modo que saiam da universidade sabendo resolver os problemas que porventura irão encontrar, e, assim, de uma forma interdisciplinar, empreender com uma visão mais moderna e dinâmica”, observa Sanches.

 

Os discentes
Lana Lopes da Silva entrou no curso da Unesp Registro aos 17 anos, em 2018. Já Wanilton Polachini Batista foi aprovado no curso aos 19 anos, também em 2018. Ambos escolheram a graduação por razões distintas, mas afirmam, hoje, que escolheram a profissão certa. Batista já fez estágios na área, um deles foi na Usina Hidroelétrica de Itaipu (PR), fazendo coletas de água, de organismos (peixes) e sedimentos para a realização da biometria “desses animais, fazendo medida de comprimento, altura, peso e averiguando qual alimento mais presente no estômago dos animais e qual seu estado de maturação (imaturo, juvenil, reprodutor ou em recuperação)”, explica. O discente conta que estagiou, ainda, no campus do Centro de Aquicultura da Unesp de Jaboticabal, dentro do laboratório de patologias. “Nessa experiência, testamos novos bactericidas nos patógenos presentes no campus, para averiguar o nível de estagnação da bactéria e o nível de morte da mesma, também testamos se o bactericida é tóxico para os animais”, diz.

 

Ele também já fez algumas iniciações científicas na área de química, extraindo e identificando as proteínas de algas. “Nessa pesquisa, purificamos as algas para tirar qualquer patógeno e outras impurezas para testar em uso com medicinal. Ainda realizei atividades como na biometria de manguezais com ostras e as três diferentes árvores do mangue, junto à comunidade [local]”, descreve, entusiasmado.

 

Já a estudante Silva ainda não fez estágio na área. A sua procura, informa ela, foi interrompida por causa da pandemia do coronavírus, em março de 2020. Com a imunização avançando, ela voltará a procurar estágio para não comprometer a sua conclusão prevista para 2023. Todavia, afirma a futura engenheira, ela já se dedica ao projeto de conclusão de curso (TCC) que tratará de realizar “uma avaliação de mercado e nutricional da Alga Nori, na cidade de Registro. A ideia é fazer entrevistas com donos de restaurantes japoneses e mercados para saber o volume de Nori comercializado mensalmente, para entender o tamanho do mercado e valor”.

 

A discente se vê “trabalhando em empresas nacionais e multinacionais na produção e cultivo de algas voltada à suplementação nutricional humana e/ou para formulação de produtos e fertilizantes agrícolas a base de algas”. Silva destaca que, atualmente, produtos e fertilizantes à base de algas estão sendo muito utilizados na agricultura como soluções naturais e seguras, produtivas e sustentáveis. Para ela, estudar e pesquisar áreas que poucas pessoas têm conhecimento, algo novo que está no início e que nós como profissionais podemos criar e levar novas ideias para essas pesquisas e projetos é essencial e destaca muito a profissão.

 

Batista, que se formará em 2022, pretende atuar, no início de carreira, com consultorias, “ajudando novos piscicultores e antigos a atingir o maior lucro, beirando a perfeição da conservação do ambiente e com a melhor saúde e qualidade dos animais produzidos”.

 

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Raio X – Engenharia de Pesca

Objetivo – O Bacharel em Engenharia de Pesca ou Engenheiro de Pesca atua na aplicação de tecnologias para localizar, capturar, cultivar, beneficiar e conservar espécies aquícolas (peixes, crustáceos e frutos do mar). Em sua atividade, planeja e gerencia as atividades pesqueiras acompanhando a industrialização e distribuição do pescado. Implanta fazendas aquícolas desenvolvendo técnicas de criação, beneficiamento e conservação das espécies. Projeta, instala e mantém: construções, infraestrutura de irrigação e drenagem; motores e equipamentos mecanizados usados em operações de pesca, cultivo, beneficiamento e processamento. Realiza a análise e manejo da qualidade da água e do solo das unidades de cultivo. Coordena e supervisiona equipes de trabalho; realiza pesquisa científica e tecnológica e estudos de viabilidade técnico-econômica; executa e fiscaliza obras e serviços técnicos; efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres. Em sua atuação, considera a ética, a segurança e os impactos socioambientais.

Carga mínima do curso – 3.600 horas

Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

Temas abordados na formação - Aquicultura; Biotecnologia Animal e Vegetal; Cartografia e Geoprocessamento; Ecossistemas Aquáticos; Oceanografia e Limnologia; Gestão de Recursos Ambientais; Investigação Pesqueira; Máquinas e Motores; Meteorologia e Climatologia; Microbiologia; Navegação e Pesca; Tecnologia da Pesca e de seus Produtos; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Áreas de atuação - O Engenheiro de Pesca atua em empresas e indústrias nas áreas de tecnologia de pesca e de pescado; em estações de aquicultura, com objetivo de produção ou experimental; em áreas de produção pesqueira; em projetos de defesa do meio ambiente; em empresas e laboratórios de pesquisa científica e tecnológica. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.

Piso profissional – Lei 4.950-A/66.

Legislação pertinente – Lei 5.194/1966

Fonte: Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação

 

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