Acidente na Linha 6: apurar as causas e corrigir os problemas
Evitar episódios como o que ocasionou cratera na Marginal Tietê exige bons projetos, fiscalização e engenharia de manutenção; audiência pública nesta quarta-feira coloca tema em pauta.
O acidente nas obras da Linha 6 – Laranja, sob responsabilidade da empresa espanhola Acciona – que ganhou a concessão para projetar, construir e operar a expansão prevista no metrô entre a região central e a zona norte da cidade de São Paulo –, segue na pauta dos debates técnicos e políticos, como seria de se esperar.
A cratera aberta no dia 1º de fevereiro em plena Marginal Tietê, umas das principais vias de tráfego da capital paulista, tem enorme repercussão na vida da população e na atividade econômica. Junte-se a isso o impacto ambiental com o esgoto vazado no local, atrasos que o empreendimento terá e demais prejuízos, e tem-se um quadro gravíssimo.
Felizmente, não houve vítimas, mas está presente a preocupação com o que poderia ter ocorrido com os trabalhadores e o questionamento se as normas de engenharia de segurança do trabalho estão sendo plenamente cumpridas com a devida participação de profissional habilitado.
Por tudo isso, é essencial apurar com precisão como e por que ocorreu o desastre. Um esforço nesse sentido acontece nesta quarta-feira (9/2), às 19h, com a realização de uma audiência pública virtual convocada pela Assembleia Legislativa de São Paulo, com apoio do SEESP, Sindicatos dos Metroviários e Sintaema (que representa trabalhadores da Sabesp).
Para além da disputa judicial relativa a quem arca com os enormes custos financeiros, é essencial que se faça um debate sério sobre como expandir a infraestrutura urbana, na área da mobilidade e também em outras, de forma adequada.
Conforme apontou nota do SEESP, mesmo com os motivos específicos ainda desconhecidos, já vem à tona uma série de questões que denotam falhas de planejamento e execução. Segundo técnicos de larga experiência no ramo, não houve o cuidado necessário para se realizar a escavação com o shield, o conhecido Tatuzão, o que deveria ter sido feito a distância bem maior do interceptor de esgoto existente no local e de pleno conhecimento dos responsáveis pelo trabalho. Além dessa precaução básica, recomenda-se nesses casos, de acordo com os especialistas, reforçar a galeria com injeção de cimento, tubo de aço ou estacas raiz. Na ausência desses cuidados, mesmo não havendo o choque, a trepidação causada pelo equipamento em proximidade perigosa à tubulação pode ter ocasionado seu rompimento.
Tal cenário chama a atenção para a fundamental fiscalização pelo poder público como forma de garantir excelência técnica e segurança ao empreendimento. Tudo leva a crer que se houvesse acompanhamento por parte do corpo técnico do Metrô, detentor de conhecimento e expertise incontestáveis, eventuais equívocos cometidos poderiam ter sido evitados.
E, finalmente, a situação remete à imprescindível Engenharia de Manutenção, conforme vem sendo proposta pelo projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”. Para que essa seja efetiva, é necessário que sejam instituídos, nas três esferas administrativas – municípios, estados e União – órgãos cuja função seja atuar na prevenção e correção de problemas de estruturas, edificações, vias, frotas, redes, instalações e demais bens físicos estatais, assim como daqueles a cargo da iniciativa privada, mas com função pública.
Seguiremos participando desse debate, em defesa da boa engenharia e do interesse público.
Murilo Pinheiro – Presidente