Também docente, Jônatas Franco Campos da Mata trabalhou na área durante 21 anos.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Neste 10 de julho, celebra-se o Dia do Engenheiro de Minas. Segundo os conselhos federal e regionais da engenharia (Sistema Confea-Creas), o Brasil, hoje, tem 5.753 profissionais com registros ativos na modalidade. A engenharia de minas é o ramo que estuda tecnologias e métodos de aproveitamento de alguns recursos oferecidos pela terra, os minérios, e compreende atividades de lavra (extração de minérios) e prospecção de recursos minerais (que podem ser minérios, águas minerais e hidrocarbonetos), além dos processos de tratamento e refinação desses recursos.
Vale a curiosidade de dizer que o nome do estado Minas Gerais foi dado pela grande quantidade e variedade de minas que ele possuía e ainda possui. Mas a exploração de minérios se estendeu por outros estados brasileiros, tornando-se uma atividade muito importante para a economia do País.
Como homenagem a todos os profissionais da área, o nosso entrevistado vem do próprio estado mineiro, o engenheiro de minas Jônatas Franco Campos da Mata. Com 28 anos de profissão, ele atuou, durante 21 anos, em minerações em diversos estados – Minas Gerais, Bahia, Pará, Amapá, Goiás e Mato Grosso – e há sete anos é professor universitário. Atualmente, é docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), no Campus Janaúba, cidade de Janaúba.
Exatamente por isso, Campos da Mata observa que o mercado para engenharia de minas é bastante amplo. Ele aponta: “O profissional pode trabalhar em minerações de minério de ferro, calcário, ouro, granito, minerais industriais, cimento, construção civil e outros tipos de mineração.” A modalidade, prossegue ele, ainda permite trabalhar em consultorias na área de legislação mineral e ambiental, implementação de projetos de mineração e reabilitação ambiental. “Pode, ainda, atuar em empresas de caracterização mineral e laboratórios de processo. Outra possibilidade é trabalhar como pesquisador e professor, em universidades e centros de pesquisa”, complementa.
Relação direta com o meio ambiente
A atividade se ocupa em explorar as substâncias minerais existentes no subsolo para, em seguida, deixá-las em condições de serem aproveitadas pelos diferentes setores industriais. O que significa uma relação direta e delicada com os recursos naturais e o meio ambiente.
O cenário da profissão, como aponta o docente da UFVJM, exige que se concilie essa intervenção com a preservação do meio ambiente. “É imprescindível, portanto, ao engenheiro de minas fazer um planejamento com antecedência com todas as intervenções que serão realizadas ao longo do trabalho, atendendo à risca os requisitos definidos pela legislação ambiental e da Agência Nacional de Mineração (ANM)”, enfatiza.
A medida, esclarece Campos da Mata, é necessária para identificar com precisão e acerto os impactos ao meio ambiente. “Com isso em mãos, devem ser definidas ações de mitigação e reabilitação ambiental para minimizar os impactos”, ensina.
Para ele, toda área minerada deve ser recuperada, de forma a devolver à sociedade uma área adequada para as finalidades definidas. “Por exemplo, uma cava de mina pode ser preenchida com material estéril e solo orgânico, sendo revegetada e transformada em um parque florestal”, indica.
Limites em defesa do ambiente
Para não ultrapassar essa linha em relação ao desenvolvimento sustentável, e observando-se que há um esgotamento do padrão de desenvolvimento econômico advindo da primeira Revolução Industrial, o profissional da área deve se pautar, sempre, pelos princípios éticos e responsáveis. “Na dúvida”, diz ele, “pense sempre o que uma ação incorreta significará para a sociedade e o meio ambiente”.
Apesar do uso em atividades econômicas as mais diversas, Campos da Mata ressalta que todos os recursos minerais e naturais devem ser protegidos. “A conduta do engenheiro de minas deve ser correta de forma a não esgotar, destruir ou poluir esses recursos”, diz.
O docente adverte que “não é justificável a destruição de uma reserva florestal somente para fins econômicos”. Por isso, deve estar no horizonte profissional verificar “as compensações ambientais que o empreendimento deve realizar, e se as comunidades locais e regionais estão de acordo com estas intervenções”.
Não tem como falar de engenharia de minas sem inseri-la dentro do contexto ambiental e como esses profissionais praticamente estão na linha de frente nessa transição produtiva – da atividade praticamente predatória para a sustentável. “Inclusive, ele possui a qualificação e autorização para cuidar do licenciamento ambiental de empreendimentos minerários e de outros tipos, como os relativos à agropecuária e demais tipos de indústria. Sempre os aspectos ambientais devem ser levados em conta e respeitados, em todas as atividades desse profissional”, faz questão de endossar.
Tecnologias emergentes
Além das emergências climáticas, a sociedade contemporâneo vive sob outros parâmetros relevantes, como as tecnologias emergentes. “As tecnologias de informação podem ser grandes aliadas do exercício profissional com responsabilidade. Na nossa atividade, utilizamos softwares especializados em planejamento de mina, automação de equipamentos de mina e plantas de beneficiamento e a indústria 4.0”, informa. Por isso, acrescenta Campos da Mata, as empresas buscam profissionais qualificados e interessados em trabalhar com as tecnologias mais modernas e digitalizadas.
Atualmente, diz o docente, as empresas de mineração gerenciam as operações de escavação e transporte de minério e estéril por meio de softwares de despacho de mina. “Esses programas permitem uma visão geral de todas as atividades através de uma sala de controle que recebe informações online das frotas de equipamentos”, explana.
A tecnologia da informação também está presente, prossegue Campos da Mata, no planejamento de mina, normalmente realizado utilizando-se softwares muito modernos, “eles possibilitam o modelamento geológico dos depósitos minerais, a otimização da cava e o sequenciamento de mina”.
Já com relação à indústria 4.0, Campos da Mata informa que existem, hoje, caminhões autônomos em empresas como a Vale, ou seja, são dirigidos sem a presença de motorista e comandados a distância por um sistema computadorizado. Além disso, “existem plantas de beneficiamento cujos equipamentos, como bombas de polpa, espessadores e correias transportadoras são controladas através de sistemas inteligentes de automação. Os engenheiros de minas analisam a produtividade destas atividades e ajustam os sistemas quando necessário”.
É necessário que o profissional de Engenharia de Minas procure se atualizar constantemente, participando de congressos, cursos de qualificação e atualização tecnológica e parcerias técnicas com outros profissionais. Aconselho aos engenheiros, dentro da possibilidade, voltar às atividades acadêmicas, buscando fazer pós-graduações, mestrado e doutorado. Estas atividades enriquecem bastante o currículo e os conhecimentos do profissional, tornando-o mais completo e preparado para o mercado de trabalho.
O entrevistado
Ao longo da carreira, o engenheiro e professor Jônatas Franco Campos da Mata procurou se atualizar constantemente. Por isso, fez pós-graduação em Gerenciamento de Projetos, na Fundação Getúlio Vargas, em 2014; concluiu mestrado em Ciência e Tecnologia de Radiações, Materiais e Minerais, no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em 2016. Atualmente, ele está cursando doutorado em Tecnologia Mineral, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com previsão de conclusão em 2022. Além disso, sempre participou de congressos técnicos como o Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa (ENTMME), o Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram) e outros eventos, participando de cursos de aperfeiçoamento e palestras técnicas.