Soraya Misleh – Comunicação SEESP
Alusivo ao aniversário do patrono da profissão, Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho – idealizador do Instituto Tecnológico da Aeronáutico e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), que deu origem ao atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) –, o Dia do Engenheiro Aeronáutico é celebrado em 28 de outubro.
O Estado de São Paulo concentra, segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), a maioria dos profissionais registrados na modalidade: 1.148, sendo 1.027 homens e 121 mulheres – no País são apenas 1.435 engenheiros aeronáuticos, sendo 162 do gênero feminino e 1.273, masculino.
Estes são responsáveis, conforme o Mapa da Profissão elaborado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP, por projetar “sistemas e conjuntos mecânicos, componentes, ferramentas e materiais, especificando limites de referência para cálculo, calculando e desenhando”. Além disso, “implementam atividades de manutenção, testam sistemas, conjuntos mecânicos, componentes e ferramentas, desenvolvem atividades de fabricação de produtos e elaboram documentação técnica. Podem coordenar e assessorar atividades técnicas”.
Clique aqui e confira mais no Mapa da Profissão elaborado pelo SEESP
Um deles é Denner Miranda Borges, formado em 2016 pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre na área e engenheiro responsável técnico da Diamont Aviação e Aliança Aviação. Em homenagem à profissão neste dia 28 de outubro, o SEESP conversou com ele, que revela a importância do engenheiro aeronáutico ao País enquanto “precursor do desenvolvimento”.
Nesta entrevista, Borges aborda áreas de atuação aos formados no segmento, conta sua trajetória e fala sobre perspectivas e oportunidades no mercado de aviação no Brasil. Confira a seguir:
O que o levou a escolher a profissão de engenheiro aeronáutico?
Sempre pensei em fazer engenharia e aliado ao meu gosto por avião, optei pela graduação. É um curso bem escasso, não há muitas universidades públicas federais que oferecem. Ingressei em 2011 na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em que o curso foi implementado no ano de 2010 com recurso do Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, instituído pelo governo federal em 2007] para fortalecer a Engenharia Mecânica e fomentar demanda crescente por engenheiros aeronáuticos. Com a abertura do curso, não precisei sair da minha cidade e me formei em 2016.
Conte um pouco sobre sua trajetória profissional.
Em 2015 eu havia começado um estágio que durou um ano e dois meses na área de manutenção para aviação geral (aeronaves, turbo hélice, jatinhos executivos) na Algar Aviation. O setor de aviação é muito dependente da economia mundial e me graduei em 2016 num período de crise global, a Embraer, por exemplo, estava com um programa de demissão em massa. A empresa em que fiz estágio foi vendida para o grupo Voar Aviação, de Goiânia, e comecei a trabalhar lá, em paralelo a um mestrado na UFU que concluí em 2019 no segmento de pesquisa e desenvolvimento em aerodinâmica. Goiânia é hoje um dos polos de manutenção aeronáutica no Brasil, principalmente para aeronaves turbo hélice, e me estabeleci na cidade. Em 2020 migrei para a empresa que trabalho hoje, a Aliança Aviação, do Grupo Aliança/Diamont Aviação, em que sou o engenheiro responsável técnico. Libero as aeronaves menores, de aviação geral, para voltarem ao serviço após a manutenção, atestando o retorno seguro à operação. Faço a análise da aeronavegabilidade, dos itens de manutenção.
Quais as áreas de atuação para um engenheiro aeronáutico?
O profissional pode atuar no mercado de aviação tanto na manutenção quanto na operação. É o responsável por projetar e desenvolver aeronaves, cujo maior expoente no Brasil é a Embraer, que absorve muita mão de obra formada e neste momento está chamando engenheiros de desenvolvimento de projetos, mas é muito cíclico. Esta é uma área pequena frente ao mercado diverso, projetos representa algo em torno de 15% a 20%. O mercado inclui aviação comercial e geral, a qual representa o grosso e abrange táxi aéreo, transporte aeromédico, pulverização agrícola, setor aeroagrícola, fotometria. O engenheiro aeronáutico pode ser diretor de empresas nesses segmentos, atuar em manutenção e aeronavegabilidade, no suporte de aeronaves. Faz o checklist do status da manutenção para possibilitar seu retorno à operação, que é meu trabalho. Mas o engenheiro aeronáutico precisa ter no mínimo três anos de experiência, conforme legislação da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] para ser o responsável por liberar a aeronave ao serviço [depois de aprovada a manutenção].
Quais as competências fundamentais ao profissional da área?
Precisa entender da parte técnica e legislação, que é muito bem definida para operação e manutenção de aeronaves. É indispensável inglês avançado e buscar um estágio o mais breve possível.
E quanto às perspectivas e oportunidades?
Independentemente da engenharia, e sobretudo na aeronáutica, o mercado é muito sensível ao ciclo econômico. O momento é bom para quem se graduou há dois anos ou vai ser formar nos próximos dois anos. Mas o profissional que se dedica e segue firme sempre terá oportunidades. É um mercado necessário, precursor do desenvolvimento, que depende da aviação, no transporte de alimentos, de remédios, na circulação de pessoas e mercadorias. Não se consegue desenvolver uma cidade ou sociedade sem uma perspectiva global. Um país que investe em aviação é mais soberano e desenvolvido. A profissão é vinculada ao investimento em tecnologia, desenvolvimento e pesquisa, o que impacta a economia nacional. O que o Brasil exporta de soja em um trimestre [em arrecadação] não equivale a uma patente tecnológica de motor aeronáutico americano – e o Brasil não desenvolve esse motor, cujo valor agregado reverte em desenvolvimento ao longo do tempo. Os engenheiros aeronáuticos são uma necessidade ao País.
Na profissão vinculada ao desenvolvimento tecnológico, a educação continuada é imprescindível?
É quase uma obrigação. A aviação é uma área muito dinâmica em que se aprende muito com os erros, está em constante evolução. O profissional também tem que ser dinâmico. Nos próximos anos uma frente dominante serão os carros voadores elétricos, os veículos autônomos aéreos, o transporte espacial com aeronaves autônomas. Portanto, o engenheiro aeronáutico precisa de atualização constante em relação à regulamentação e às novas tecnologias.