Jéssica Silva
A Engenharia Civil é uma das mais antigas modalidades da área. E se mantém no top 10 das graduações mais procuradas no País com amplo espaço de atuação referente a edificações, estradas, sistema de transportes, de abastecimento, portos, rios, canais, barragens, pontes e grandes estruturas, entre outras atividades – Confira no Mapa da Profissão do SEESP.
Para Elaine Fazollo, gerente de Gestão do Conhecimento e Inovação da Engeform, na atualidade é indispensável que o engenheiro civil exerça sua função em consonância com a preservação do meio ambiente. “Hoje não falamos mais em reduzir, reutilizar e reciclar, ou mesmo de destinação de resíduos para empresas recicladoras como item essencial para obter uma certificação ou atender a legislação; e sim como pontos básicos de um canteiro de obras”, ela atesta.
Na empresa de engenharia há 11 anos, Fazollo atuou no projeto do empreendimento Teoemp, icônico prédio no Largo da Batata, zona Oeste da Capital, que tem o selo ambiental internacional “LEED Gold”, referente a padrões de sustentabilidade e eficiência energética. “A nossa atuação na engenharia deve garantir a aplicação das melhores práticas ambientais e sociais. Devemos garantir que as políticas públicas tenham esse olhar e que sejam aplicadas de fato, garantindo um ambiente adequado para nossa geração e para as próximas”, defende a engenheira.
Fazollo fez carreira na área de engenharia dentro da empresa e encontrou na gestão a oportunidade de desenvolver e aplicar inovações. “Em quatro anos, consegui expandir o departamento e criar também subáreas: o PMO [escritório de projetos], a Engenharia com os especialistas, e a área de Projetos e BIM [Modelagem da informação da construção]. De duas passamos a ter 12 pessoas no time”, ressalta.
Formada em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela cursou pós-graduação em Gestão de Projetos e em Sustentabilidade em Edificações. Hoje atua na implantação de projetos de inovação, além de gerenciar e compartilhar experiências dos canteiros de obra e departamentos com foco em melhoria contínua, otimização de resultados, redução de custos, qualidade do produto e segurança.
Em entrevista ao SEESP, ela conta sua trajetória profissional e visão de mercado, aborda a importância da educação continuada no conceito “lifelong learning” e dá dicas aos profissionais que buscam aprimoramento e destaque: “não tem como falar de futuro sem falar em inovação, lembrando que a base de tudo é a relação e o cuidado com as pessoas, qualquer especialização nessa linha terá aplicação”.
Como entrou no mercado de trabalho?
Comecei meu estágio em janeiro de 2012, no canteiro de obra da ETEC Vila Maria, onde pude entender melhor como funcionava a Engeform. Sempre gostei de gestão e, mesmo no estágio, aproveitei a chance de aprender um pouco de tudo e vincular com a parte teórica que tinha aprendido na graduação. Depois disso, consolidei na carreira de engenheira de Planejamento e Custos nas obras Teoemp, do Hospital Municipal da Brasilândia e Hospital Emílio Ribas. Foram sete anos em obras que me deram oportunidade de conhecer muitas frentes diferentes dentro dos negócios. Um grande marco foi ter recebido o convite para iniciar a área de Gestão do Conhecimento e Inovação, onde consegui usar a bagagem de obra para identificar aplicabilidade das novidades do setor e evoluir com o registro e utilização das lições aprendidas. Hoje o departamento já evoluiu muito e as atuações estão bem além disso, estamos envolvidos em toda a estratégia da organização. Em quatro anos, consegui expandir o departamento e criar também subáreas: o PMO [escritório de projetos, em inglês Project Management Office], a Engenharia com os especialistas, e a área de Projetos e BIM [Modelagem da informação da construção, em inglês Building Information Modeling]. De duas passamos a ter 12 pessoas no time. É motivo de muito orgulho estruturar e manter um departamento com assuntos estratégicos para a companhia.
Qual o projeto de maior destaque de que já participou?
O projeto Teoemp Empreendimentos Imobiliários. Além de fazer parte da paisagem do Largo da Batata, em São Paulo, com a fachada arredondada, brises e um paisagismo marcante, também foi fundamental na minha trajetória como engenheira, pois pude acompanhar desde a fundação até a entrega de um edifício triple “A”, certificado “LEED Gold”.
O LEED é um selo de sustentabilidade e eficiência energética internacionais. O que essa e outras certificações representam no mercado atualmente?
As certificações de sustentabilidade em edificações são de aplicação tanto nacional quanto internacional, como a Casa Azul, AQUA, Procel, LEED, Fitwel, entre outras, e abrangem muitos pontos ambientais e sociais. Mas, atualmente, tenho visto muitas empresas não somente da construção, mas de todos os setores na América Latina, buscando uma certificação específica de ESG, que é a certificação do Sistema B. Para essa certificação é preciso implantar ações e medir o impacto nos pilares: governança, trabalhadores, comunidades, meio ambiente e clientes. Acho válido irmos no conceito da importância de aplicação das iniciativas e não apenas na pontuação que conseguimos ao aplicarmos para alguma certificação. A cultura da empresa deve estar voltada para esse fim, e a certificação ser uma consequência, somente assim teremos resultados de fato.
Nesse sentido, qual sua visão sobre o mercado de trabalho da engenharia? Como a área está alinhada a práticas de sustentabilidade e compromisso com o meio ambiente?
O mercado tem aberto diversas opções de atuações em diferentes áreas dentro da engenharia, seja diretamente nas engenharias ou nas áreas que dão suporte à engenharia, como sustentabilidade e ESG; PMO; gestão de projetos e processos; gestão ágil, inovação e transformação digital; mercado financeiro; consultorias de estratégia; engenharia de dados; entre outros. Vendo isso, aqui entra o conceito de lifelong learning [educação continuada], onde temos a premissa de que não paramos de aprender, alinhado ao mundo da volatilidade em que vivemos e o acesso à informação tão prático, podemos sempre nos readaptar e nos desenvolver, dependendo das necessidades.
Desde a década de 1990, quando tivemos o início do conceito de construções sustentáveis, as questões ambientais têm sido abordadas de diversas maneiras, desde a concepção do projeto quando otimiza os recursos energéticos, escolha de materiais reciclados e recicláveis locais, utiliza técnicas de biomimética até o design biofílico. Com a implantação de certificações voltadas às práticas ambientais o assunto teve sua importância atrelada ao marketing e poder de vendas. Porém, com o passar do tempo, a necessidade de práticas ambientais sustentáveis se tornou um atributo intrínseco aos valores pessoais e corporativos. Dessa forma, as certificações começaram a se tornar naturais e consequentes das boas práticas aplicadas culturalmente. Ou seja, hoje não falamos mais em reduzir, reutilizar e reciclar, ou mesmo de destinação de resíduos para empresas recicladoras certificadas como item essencial para obter uma certificação ou atender a legislação, e sim como pontos básicos de um canteiro de obras.
Com o assunto de ESG em alta desde 2004 no Pacto Global, muitas práticas empresariais foram revistas, não somente na construção civil, e incluímos aqui com a mesma importância as questões sociais e de governança. Diversos processos passaram a ser revistos para adequar e minimizar não somente o impacto ambiental gerado pelo produto ou serviço de uma empresa, mas também o que esse produto gera na população, como influencia a vida das pessoas que estão próximas a ele, as condições de prestação de serviços, benefícios diferenciados aos trabalhadores e comunidade do entorno.
E qual é a importância dessa forma de trabalho?
A nossa atuação na engenharia deve garantir a aplicação das melhores práticas ambientais e sociais, seja qual for a área de especialização, mas a atuação como cidadão vai muito além disso. Devemos garantir que as políticas públicas tenham esse olhar e que sejam aplicadas de fato, garantindo um ambiente adequado para nossa geração e para as próximas. É nossa responsabilidade buscar e lutar pelo mínimo de saneamento básico e condições de vida adequadas para a sociedade. A engenharia é a porta de entrada para criarmos um mundo melhor e mais justo, valorizando sempre a vida das pessoas.
Tem dicas de cursos e especializações para quem está ingressando na engenharia?
Para quem está ingressando, minha dica é focar na aplicação da transformação digital. Inteligência artificial, análise de dados, inovação, BIM. E para quem já está no mercado de trabalho, sempre aconselho os cursos de habilidades interpessoais como técnicas de comunicação, inteligência emocional, trabalho em equipe. Não tem como falar de futuro sem falar em inovação, lembrando que a base de tudo é a relação e o cuidado com as pessoas, qualquer especialização nessa linha terá aplicação.