Carlos Magno Corrêa Dias*
A inovação sempre foi indispensável para o desenvolvimento e o progresso de qualquer Nação em quaisquer das Revoluções Industriais ao longo da evolução do mundo e das populações. Na verdade, a inovação sempre foi (e continuará sendo) fundamental para a melhoria da vida humana e do planeta como um todo.
Como se tem verificado as vantagens de se utilizar a inovação associadas à agregação de valor são diversas e notáveis em quaisquer períodos da humanidade em todo os setores dado que por seu intermédio obtém-se mais e melhores produtos, serviços e processos; geram-se economias competitivas em constante expansão e cada vez mais sustentáveis, determina-se o aumento significativo de marcas e patentes; surgem novos modelos de negócio, implantam-se novos métodos organizacionais, ampliam-se os postos de trabalho com melhores empregos e maiores salários; criam-se novos mercados; promove-se a melhoria das Ciências e das Tecnologias por meio de novas formas de ensinar ou aprender; dentre uma série de tantos outros vários benefícios para o bem viver.
Como “motor da competitividade” a inovação deve, acima de tudo, ser a base de qualquer projeto estratégico de desenvolvimento e progresso das Nações que almejam sucesso. A inovação se transforma, então, atualmente, mais que em tempos passados, principalmente devido à transformação digital, em diferencial que leva as Nações a serem mais ricas mantendo soberania e pujança.
Entretanto, quando se fala em inovação logo se percebe que é algo, de fato, sem precedentes dado que a história mostra que a cada nova ação do homem sempre se pode agir com inovação. Inovação não tem, então, necessariamente, um marco temporal para se determinar especificamente quando ou onde teve seu início. Todavia, em termos “didáticos” (ou por razões de historicidade, ou de pesquisa e estudo, seja como se queira), é comum, em se tratando da atividade humana, que classificações sejam adotadas ao longo da linha do tempo no sentido de distinguir características e determinações; não sendo diferente quanto ao processo histórico da inovação.
Durante muito tempo se associou a inovação com as Revoluções Industriais meio que considerando a inovação como coadjuvante embora, o conceito de inovação não seja, em absoluto, recente (ou trivial) e já por décadas passou a ser estudado sistematicamente (frequentemente relacionado com competitividade; sendo que muitos defendem que a inovação é um “catalisador” da competitividade).
Porém a competitividade é a característica (ou antes, a capacidade) que as organizações buscam para fazer cumprir seus objetivos e missões sempre com mais êxito que seus concorrentes; embora seja importante sempre frisar que não se deve esquecer que competitividade não excluir, de forma alguma, a cooperação e a responsabilidade social corporativa das organizações mesmo que competidoras entre si. Em termos de economia de mercado a competitividade está relacionada com a obtenção de rentabilidade igual ou superior aos concorrentes no mercado.
Assim sendo e levando em conta que em diferentes períodos da história os marcos tecnológicos representativos de grandes e significativas transformações ocorridas periodicamente no mundo impactaram de forma determinante o meio empresarial/industrial, a sociedade em geral e o fazer/realizar humano em particular optou-se por pensar em “Ondas de Inovação” para uma classificação da inovação ao longo dos tempos.
Pensando, então, a inovação como “motor do desenvolvimento econômico” capaz de criar novos produtos, processos, serviços, tanto quanto novos mercados que colocam abaixo os antigos e menos eficientes as “Ondas de Inovação” surgiram, enquanto teoria, pela primeira vez, em 1940 quando se objetivou o entendimento sistematizado de como as mudanças tecnológicas e sociais afetavam tanto a economia em geral quanto o desenvolvimento dos países em particular.
A ideia central ao se pensar em “Ondas de Inovação” está em se identificar um processo de “destruição criativa” gerador de crescimentos, desenvolvimentos, instabilidades e muita desigualdade nas sociedades que ocorreu em “ciclos de inovação” que chegaram a durar entre 30 e 60 anos e que cujos intervalos de tempo foram sendo reduzidos entre as ondas em razão da aceleração do desenvolvimento tecnológico desencadeado, principalmente, pela Computação, Internet e Inteligência Artificial (IA).
A teoria das “Ondas de Inovação” já identificou 6 (seis) grandes ondas; quais seja: (1) primeira onda de inovação: Onda da Revolução Industrial (1785-1845); (2) segunda onda de inovação: Idade do Vapor (1845-1900); (3) terceira onda de inovação: Era da Eletricidade (1900-1950); (4) quarta onda de inovação: Produção em Massa (1950-1990); (5) quinta onda de inovação: Redes e Tecnologias da Informação e Comunicação (1990-2020); e, (6) sexta onda de inovação: Onda da Sustentabilidade (2020-Atualidade).
A primeira onda de inovação ocorreu durante a Primeira Revolução Industrial (Indústria 1.0) a qual se baseava na energia hidráulica, na máquina a vapor, na produção têxtil e na siderurgia quando surgem as fábricas, as ferrovias e, propriamente, o capitalismo industrial, bem como o movimento operário e a determinação de tempo no controle da rotina de trabalho. Pode-se dizer que a primeira onda de inovação promoveu a transição do capitalismo comercial para o capitalismo industrial.
Associada à Segunda Revolução Industrial (Indústria 2.0) a segunda onda de inovação ficou determinada pelo uso do petróleo, da eletricidade, do telégrafo, do telefone e do automóvel; promovendo o surgimento dos grandes monopólios e corporações os quais foram garantidos tanto pelo consumo de massa quanto pela acelerada urbanização. A segunda onda de inovação é uma das responsáveis por se iniciar a transformação do capitalismo industrial no capitalismo financeiro.
Fortalecendo a ideia de “bem-estar social”, forma de organização política e econômica que chama o governo como responsável pelo bem-estar social e econômico da população, ocorre a terceira onda de inovação a qual, também, promove o surgimento das indústrias culturais, do cinema e da propaganda; ocorrendo no período da Terceira Revolução Industrial (Indústria 3.0).
Localizada na Quarta Revolução Industrial (Indústria 4.0) a quarta onda de inovação se baseia no plástico, na eletrônica, na informática e na biotecnologia; sendo responsável pelo surgimento de multinacionais, da globalização e da chamada sociedade da informação que engloba tecnologias nos campos da Automação, Controle e TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação).
Também em associação com a evolução das Revoluções Industriais a quinta onda de inovação, desenvolvida na Quinta Revolução Industrial (Indústria 5.0) associa-se ao desenvolvimento da Internet, das Telecomunicações, da Economia Digital, da IA, da Sociedade em Redes e da melhor compreensão da concepção de compartilhamento universal do conhecimento (Ciência Aberta - “Open Science”).
Em meados de 2020 (ou um pouco antes) surge a atual onda de inovação, a sexta onda de inovação, que se baseia na sustentabilidade, na Indústria C2C (Economia Circular), nas energias renováveis, no aprimoramento das ações de RSC (Responsabilidade Social Corporativa), nos princípios de ESG (“Environmental, Social, and Corporate Governance”, em português “Governança Ambiental, Social e Corporativa”), nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas).
O mundo deve ser sustentável. “SUSTENTABILIDADE: o atendimento das nossas necessidades atuais não pode comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras”.
Envolvendo as dimensões social, ambiental e econômica a sustentabilidade exige a preservação dos recursos naturais, a promoção do bem-estar humano e a geração da concepção do valor compartilhado.
Por sua vez o conjunto de práticos de ESG fundamenta-se em “uma abordagem específica para avaliar em qual medida uma corporação dedica seus esforços em favor de alcançar objetivos sociais indo para além da função precípua de maximizar os lucros em nome dos acionistas da corporação”.
A sigla ESG faz referência às boas práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa tendo seu surgimento pela primeira vez no Relatório de 2005 da ONU intitulado “Who Cares Wins” (significando “Ganha quem se importa”).
“As práticas de ESG na sexta onde de inovação pretendem fazer com que as empresas se adequarem aos aspectos sociais e governamentais associados às mudanças de hábitos organizacionais no que concerne ao ambiente não apenas para cumprir legislações, mas, principalmente, para alcançar conjunto de objetivos ambientais, medidas claras de movimentos sociais, bem como seguir princípios de governabilidade fundados na diversidade, equidade e inclusão”.
Conquanto na sexta onda de inovação a inovação siga sendo fundamental para as organizações tem-se na sustentabilidade a promoção de mudanças surpreendentes e mais determinantes haja vista ser a sustentabilidade um fator disruptivo e necessário para se manter cada vez competitivas as organizações.
A sexta onda de inovação, centrada na sustentabilidade, já tem provocado mudanças intensas na sociedade de forma que não apenas se espera que as organizações inovadoras como, também, sustentáveis e desenvolvam ações necessárias centradas em medidas de ESG. Assim, um novo paradigma sobre inovação se acentua na sexta onda de inovação dado que por intermédio da sustentabilidade as organizações devem transformar seus modelos de desenvolvimento criando e incorporando novas formas de pensar para seguir inovando ao mesmo tempo que se obriga a alinhar suas estratégias com os princípios da sustentabilidade. Chega-se a supor que aquelas organizações que não consigam “surfar” nesta sexta onda de inovação correm, seriamente, o risco de deixarem de existir no futuro próximo.
É tido como certo que se uma organização não conseguir se adaptar às condições da sexta onda de inovação quanto a atender exigências ambientais, sociais e de governança com vistas a garantir a sustentabilidade, não conseguirá sequer se manter competitiva no mercado.
A sustentabilidade vem promovendo, também, o aumento do número de vagas no mercado para profissionais que se especializam em áreas tais como energias renováveis, meio ambiente, economia verde, governança sustentável, engenharia C2C, economia circular, tecnologias limpas.
Estudos do Fórum Econômico Mundial dão conta que cerca de um milhão de novas vagas de emprego serão abertas na área de ESG até 2027 e que a busca por profissionais especializados em ESG deve seguir crescendo pelas próximas duas décadas (até cerca de 2045) tendo a onda de sustentabilidade uma previsão de crescimento de 33%.
Diferentemente das demais ondas de inovação anteriores a sexta onda de inovação meio que foi sendo desenvolvida como uma consciência universal para garantir o bem social e a preservação do planeta por intermédio de mudança do sistema produtivo e de consumo objetivando instituir um modelo sustentável que exige novas competências e habilidades centradas nas denominadas “green skills” (habilidades verdes) as quais estão ligadas ao ESG.
As habilidades verdes ou “habilidades sustentáveis” focam em habilidades associadas com conservação de energia, gestão de água, controle de emissão de gases de efeito estufa, bem como em habilidades socioemocionais (“soft skills”) tais como comunicação, liderança, criatividade e resolução de problemas sendo exigido inclusive a formação de uma nova força de trabalho que necessitará conhecimento próprio para pode se desenvolver adequadamente.
A UNIDO (Organização do Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas) partindo da premissa que no desenvolver da sexta onda de inovação são necessários tanto conhecimentos técnicos quanto consciência ambiental e social, capacidade de trabalhar em equipe e em rede, criatividade e visão sistêmica, já estabeleceu a seguinte lista tipos básicos de “green skills”; quais sejam: (a) Habilidades de engenharia e técnicas (“hard skills”), (b) Habilidades científicas, (c) Habilidades de gerenciamento de operações, e, (d) Habilidades de monitoramento.
No primeiro tipo se faz alusão às competências envolvidas no design, construção e avaliação de tecnologia visando sempre a economia de energia.
No segundo tipo chamam-se as competências geradas por intermédio do domínio conhecimentos essenciais para atividades de inovação tais como os saberes reunidos na Física e na Biologia.
Quanto às habilidades de gerenciamento de operações refere-se aos conhecimentos que se fazem necessários à mudança na estrutura organizacional da organização afim de instituir atividades verdes e uma visão integrada da empresa gerenciando o ciclo de vida, a produção pensada e a cooperação com atores externos.
Por fim, as habilidades de monitoramento referem-se aos conhecimentos para se realizar a avaliação dos aspectos técnicos e legais das atividades comerciais.
Então vê-se a necessidade de novos padrões de formação dos profissionais dado que surgirão muitos outros desafios tanto na produção quanto no consumo os quais por sua vez gerarão enormes impactos negativos sobre o meio ambiente e a sociedade dado que a alcançar a sustentabilidade envolverá impactar as organizações e o mercado de trabalho de várias formas diferentes quando se trabalhar para gerar produtos e serviços mais verdes, mais éticos e mais inclusivos.
Atualmente, a implementação da abordagem ESG nas empresas não é tão somente uma tendência, mas, efetivamente, trata-se de uma necessidade urgente e sem volta para enfrentar desafios e perspectivar soluções. RSC, Sustentabilidade, Governança, são hoje prerrequisitos indispensáveis para a estruturação sólida de organizações que são impulsionadas pela inovação centrada na geração de valor a longo prazo.
Há de se salientar, também, que as práticas de ESG possibilitam o mais adequado gerenciamento de riscos e a identificação mais rápida de novos negócios voltados para se atingir qualidade de vida das pessoas sem contar que a ESG permite, também, a clara definição de metas a atingir tendo por base um futuro sustentável.
Embora se estabeleça que o início da sexta onda de inovação tenha sido no ano de 2020, há de se pontuar que a atual onda de inovação foi em muito impulsionada desde 2015 quando se iniciaram os trabalhos para o alcançar os 17 ODS da Agenda 2030 da ONU; ação internacional que dava continuidade ao, também, movimento global dos ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) da ONU instituídos em 2000 juntamente com a Declaração do Milênio. Atualmente o movimento em torno dos ODS é o maior e o mais proeminente conjunto de ações globais alinhado com as práticas de ESG estando na base da atual concepção de RSC.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).