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19/03/2024

Engenharia Ambiental para garantir sustentabilidade nas empresas e cidades

Soraya Misleh

 

Com mercado de trabalho promissor, a Engenharia Ambiental reúne hoje 29.519 profissionais registrados no Conselho Federal de Arquitetura e Engenharia (Confea), dos quais 12.758 são mulheres. A percepção de maior inserção feminina é observada por Talita Raquel Carvalhaes, para quem tem se ampliado a diversidade e inclusão na área, em meio à demanda crescente por ESG (governança ambiental, social e corporativa) nas empresas e sustentabilidade nas cidades.

 

Atuação como assistente ambiental no Parque Estadual Carlos Botelho. Fotos: Engenheira Talita Raquel Carvalhaes / Acervo pessoal

 

Formada em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) em 2023 e hoje consultora em Engenharia Ambiental na área de ESG, ela é categórica: “As perspectivas são totalmente otimistas. É uma profissão que vem ganhando destaque nas últimas décadas. Com o agravamento da crise ambiental urbana, as novas frentes de atuação acabam se concentrando em planejamento e gestão de cidades inteligentes e sustentáveis. É muito importante a gente solucionar problemas de forma inovadora porque, na minha visão, esse será o engenheiro ambiental requisitado no futuro.”

 

Por que optou pela Engenharia Ambiental? Conte sobre sua formação e trajetória profissional.

Minha paixão pelo tema veio desde muito cedo, a partir das experiências com a minha avó, em sua chácara. Ela plantava ervas medicinais e foi me apresentando todos os chás e seus benefícios, sempre fui uma pessoa muito curiosa. Então essa busca por entender melhor o meio ambiente, juntamente com a minha aptidão pelas exatas, me levou a escolher Engenharia Ambiental. Durante a minha vivência acadêmica, como era um curso integral, participei de muitos grupos dentro da Unesp. No GeraBixo, um cursinho popular, eu dava aula de geografia, e durante a Semana do Meio Ambiente, fui diretora de sustentabilidade e fiz muito trabalho voluntário. Um dos que quero destacar aqui foi como assistente ambiental no Parque Estadual Carlos Botelho [unidade de conservação de proteção integral, cujos 37 mil hectares estão distribuídos pelos municípios paulistas de Capão Bonito, São Miguel Arcângelo e Sete Barras]. Também estagiei no Grupo Ultra, na área de riscos ESG, e isso me trouxe um grande desenvolvimento no mundo corporativo, acabei desenvolvendo muitas habilidades. Por exemplo, aprendi ali, na prática, a fazer tabelas dinâmicas em Excel. Desenvolvi também alguns soft skills [competências comportamentais], e um dos que quero destacar aqui é a adaptabilidade. Como uma área muito dinâmica que lidava com vários temas no mesmo dia, você ganha muito se se adaptar [a mudanças]. Foi ali que tive contato com o ESG, um tema que vem se intensificando muito nos últimos anos.

 

Quais as suas áreas de atuação e projetos de destaque que participou voltados à inclusão e sustentabilidade?

Atualmente sou autônoma, presto consultoria em Engenharia Ambiental na área de ESG, com foco em mudanças climáticas, e realizo treinamentos voltados à educação ambiental. Tenho participação em dois projetos que trazem muito a questão de inclusão e sustentabilidade. No GeraBixo, projeto de extensão universitária onde nós buscávamos a inclusão de estudantes em situação de vulnerabilidade econômica dentro das universidades do País, cursinho popular gratuito, fui professora de Geografia, e posteriormente assumi a comissão de docentes. Queríamos ser um cursinho humanizado em que os alunos poderiam contar conosco para além das aulas, então a gente promovia saraus para trabalhar o lado cultural, tinha um workshop com os alunos para desenvolvê-los e também entender qual era a maior dor que eles vinham sentindo desde o cursinho. Tínhamos psicólogas voluntárias para conseguir dar maior apoio para os alunos em todas essas fases, então era muito gratificante ver muitos deles sendo aprovados em grandes universidades, que a gente sabe que não é uma realidade dentro da classe de vulnerabilidade econômica. Foi uma troca muito gratificante, tanto para a gente, como professor, quanto para os alunos. Focando em sustentabilidade, eu também participei de um projeto de empreendedorismo sustentável que consistia em roupas doadas, retalhos de fábricas de tecidos, e a gente transformava essas peças em novas por oficinas de mulheres solteiras, e a verba gerada era revertida às trabalhadoras. Era uma forma de trabalhar o empoderamento dessas mulheres e, ao mesmo tempo, reduzir os resíduos sólidos por meio de uma economia circular.

 

Revitalização de horta durante a pandemia de Covid-19.  

Quais as possibilidades no mercado para o engenheiro ambiental?

Quando a gente fala de possibilidades no mercado de trabalho para o engenheiro ambiental, tem que ter em mente que é uma profissão muito recente, se comparar com civil, mecânica e elétrica. É um curso bem generalista. A gente tem um curso de Engenharia Ambiental com demanda crescente que permite atuação em várias frentes, por exemplo resíduos sólidos, gerenciamento, a gente pode cuidar do acondicionamento, transporte, destinação adequada, toda empresa hoje em dia gera resíduos. O engenheiro ambiental pode atuar também em recursos hídricos, gerenciamento de áreas contaminadas, licenciamento ambiental, mas destaco duas áreas muito promissoras que estão em alta hoje: o georreferenciamento, que é uma área totalmente voltada para tecnologia, uso de inteligência artificial para manusear dados e fazer mapas, e ESG, que é a área que eu atuo, a qual abrange meio ambiente, social e governança dentro das empresas. Hoje é pré-requisito ter uma estratégia muito bem definida em cima desses temas para a gente conseguir trazer mais transparência para os stakeholders [partes interessadas nos negócios e atividades da empresa], com destaque para os investidores. Como se pode ver, as possibilidades de mercado para o engenheiro ambiental são inúmeras. Essas são só algumas que acho muito pertinentes no momento.

 

Quais os desafios que enfrenta ou já enfrentou como mulher na engenharia? Tem havido avanços na profissão em relação à inserção feminina?

Falar de engenharia é falar de uma profissão que é majoritariamente masculina. Dados do Confea mostram que apenas 20% dos registros nos Creas são de mulheres. Somos minoria nessa profissão. Durante os meus cinco anos de faculdade eu presenciei algumas situações de machismo, como comentários desnecessários de professores, a maioria dos exemplos que são trazidos em sala de aula são de homens; assédios em festas, que eram uma coisa muito constrangedora; colegas de trabalho que desacreditam a nossa capacidade; e é nítido que os cargos de alta hierarquia também têm predominância masculina. Apesar disso, quando a gente fala de avanços e inserção feminina na profissão, o último Censo de Educação Superior do Ministério da Educação de 2018 mostra que em algumas engenharias as mulheres em sala de aula são a maioria, e podemos falar com otimismo da engenharia ambiental, que está inserida nesses dados.

 

No Laboratório de Mecânica dos Solos da Unesp.  

Qual a dica para jovens mulheres que pretendem seguir a profissão?

A dica é: lutem pelo lugar de vocês. Lugar de mulher é onde ela quer estar. Parece clichê, mas não é. Apesar desses desafios, o cenário vem se alterando bastante, então quanto mais mulheres preencherem esses espaços, as mudanças serão bem significativas e seremos valorizadas pelas nossas qualificações.

 

Quais as perspectivas para a Engenharia Ambiental?

As perspectivas para o futuro, na minha opinião, são totalmente otimistas. É uma profissão que vem ganhando destaque nas últimas décadas. Com o agravamento da crise ambiental urbana, as novas frentes de atuação acabam se concentrando em planejamento e gestão de cidades inteligentes e sustentáveis, uma frente promissora daqui para a frente. É muito importante a gente solucionar problemas de forma inovadora porque, na minha visão, esse será o engenheiro ambiental requisitado no futuro. Tenho boas perspectivas, sou bem otimista quando a gente olha para a profissão a longo prazo.

 

 

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