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23/04/2024

Engenheiro de custos à gestão sustentável de projetos e obras

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

 

“Empresas que crescem são as que levam mais a sério a questão financeira, sempre buscando o melhor custo-benefício.” A afirmação do engenheiro orçamentista Robson Pucinelli Quieregato resume a importância de sua profissão para a gestão sustentável de projetos e obras.

 

Engenheiro civil graduado pela Uninove no ano de 2009 com MbA em Engenharia de Custos, ele exerce hoje a função de gerente de orçamentos e traz na bagagem mais de 20 anos de experiência no segmento. Para ser um profissional completo na área de custos, passou por construtoras, incorporadoras, obras, suprimentos, projetos. Na sua visão, essa é uma necessidade para quem deseja ocupar esse espaço no mercado.

 

Robson Pucinelli Quieregato: BIM é aposta para futuro a médio e longo prazo na Engenharia de Custos. Foto: Acervo pessoal

 

Conforme o Guia das Engenharias do SEESP, cabe ao engenheiro de custos a gestão financeira de um projeto, envolvendo atividades como estimativa, controle de gastos, previsão de custos, avaliação de investimentos e análise de risco. “Inclui aspectos como a concepção do empreendimento, viabilidade técnico-econômica, análises, diagnósticos, prognósticos e tudo o que envolve estimar, planejar e projetar os números relativos às diversas etapas” da obra. Entre outras atribuições, “esses profissionais planejam e monitoram projetos de investimento e buscam o equilíbrio ideal entre os gastos, a qualidade e os requisitos de tempo”.

 

Nesta entrevista, Pucinelli fala sobre sua trajetória, projetos de destaque dos quais participou, inovações e perspectivas no setor, além de dar dicas valiosas a jovens profissionais que desejam seguir por esse caminho.

 

Conte um pouco de sua trajetória profissional.

Eu comecei a trabalhar muito cedo, antes dos 18 anos. Fiz curso de Edificações na Escola Técnica da Fundação Getulio Vargas. Meu primeiro contato com esse mundo foi logo depois, quando tive a oportunidade de fazer estágio em uma empresa de orçamentos terceirizada e de gerenciamento de obras. Isso foi em 1997-1998. Eu acompanhava as obras, fui adquirindo conhecimento e gostando da área, mas ainda tinha um pouco de incerteza sobre qual segmento seguir. Passei brevemente por obras, suprimentos, projetos, pela parte técnica e vi o viés de custo, a parte financeira. Resolvi investir nessa área. Atuei na Rossi, Cirella, fui galgando cargos na Engenharia de Custos, em que você cuida de orçamento, planejamento, viabilidade da obra e controle de custos. Fiz Faculdade de Engenharia Civil e, em seguida, MbA focado em Engenharia de Custos (2012-2014). Nesse período já ocupava cargo de gestão na Cirella e decidi abraçar a incorporação, indo então para a Fibra Expert, onde fiquei por quase quatro anos. Ganhei experiência também em incorporação, fazer gestão de obras, contratar construtoras. Passei a fazer orçamento para contratar o melhor preço, captar terreno, loteamento inclusive smart. Depois atuei em outra incorporadora em Alphaville. Voltei então à construtora Canopus, de grande porte, com negócios em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, era responsável por uma equipe de 15 pessoas, focado na parte de custos, desde a captação do terreno até o acompanhamento da obra e entrega das chaves, para direcionar a empresa ao negócio mais rentável. Fiquei quase quatro anos nessa empresa e então fui para a Conx, construtora com 35 anos em São Paulo, como gerente de orçamento, focado nessa parte. Setenta por cento da minha carreira é focada na Engenharia de Custos. Orçamento nada mais é do que um compilado de informações de todas as áreas. É preciso ter bom conhecimento de projetos, obras, incorporação, suprimentos, contratação, tributação.

 

Quais os projetos de destaque em que atuou?

Uma obra em frente ao Cemitério da Consolação [na região central da Capital] que une hotel, usos residencial e comercial, que acompanhei quando estava na Fibra Express, desde a viabilidade [técnico-econômica da obra] e compra de terreno. Foram quatro a cinco tipos de fundação e quatro tipos de contenção, uma obra gigante que exigiu equipamentos modernos, pesquisa e tecnologia, a instalação do revestimento foi em pele de fibra, bem sofisticada. Hoje está pronta. E também na Cirella, um orçamento para outro empreendimento gigantesco, de seis torres, em Santos. Era faceado a uma encosta litorânea, um prédio de 50 metros de altura, e a encosta, de 150m, em que desciam rochas. Fomos buscar sistema de contenção no exterior, com profissionais de empresas holandesa, suíça... Tivemos o trabalho de descascar a encosta e tirar rochas soltas para não ter deslocamento. Escavava 50cm e já tinha água, era um solo muito arenoso. O escavamento foi 100% na rocha. Essa obra custou muito além, e a gente teve que chamar o Exército para implodir a rocha. Foi bem desafiadora. Já na fase de orçamento tivemos que buscar soluções, projetos, fornecedores estrangeiros, passar previsão de sustentabilidade para a empresa, e conseguimos entregar dentro do prazo.

 

Quais as inovações na área?

O que tem evoluído e acompanho desde 2007 é o BIM [Building Information Modeling, em português Modelagem da Informação da Construção]. Algumas construtoras já estão trabalhando para implantar esse sistema que traz vários benefícios para o engenheiro de custos, em projetos, obras, tem uma interface com obras e suprimentos muito boa. Com o BIM você pode gastar apenas um dia para fazer um quantitativo, [esse sistema] confere mais rapidez e barateia o custo, mas ainda é uma realidade um pouco distante. Para implantação o custo é mais alto, e empresas acabam não querendo investir. Mas o futuro é o BIM, garante processos mais rápidos, mais certeiros, projetos mais bem elaborados e compatibilizados, melhor solução, informações integradas. O BIM é a aposta para a gente neste momento, não há nenhum outro sistema construtivo além dele, é o futuro a médio e longo prazos na Engenharia de Custos.

 

Como está o mercado para o engenheiro de custos?

Se o mercado construtivo aquece e há lançamentos, é bom. Contudo, sempre vai ter demanda. Tem perspectiva, tem campo. Mas o mercado está cada dia mais exigente e universal, globalizado. Se não atender a isso, ficará obsoleto. Para se manter no mercado e galgar degraus precisa pensar muito fora da caixinha. A engenharia de custos vai ter demanda e num futuro breve não vai ter profissional para atender.

 

Como fazer frente a esse desafio?

Tem que qualificar mão de obra. Hoje há profissionais sem experiência e migrando para outras áreas. Essa leva da minha época, dos anos 1990 e 2000, é a que está no mercado. Há extinção do engenheiro orçamentista, vai ser mais difícil captar e satisfazer o mercado. A área enfrenta cada vez mais escassez. Demanda muito tempo conhecer de tudo um pouco para ser um bom orçamentista. Hoje vejo preenchedores de planilha. Os profissionais mais experientes são mais caros. A maioria das empresas que passei tem boa noção da importância do engenheiro de custos, das economias que pode trazer, controlar o custo uma vez que virou obra, é ele quem garante que a obra vai contratar certo, pelo melhor preço, garante o cronograma. Se a empresa não tiver visão do papel fundamental do engenheiro de custos, não vai valorizar. Sua função é passar previsibilidade com indicadores como de perda, utilidade, tem que ser um esforço mútuo para que o orçamento dê certo. Isso está muito atrelado à cultura da empresa andar de mãos dadas com a Engenharia de Custos. Empresas que crescem são as que levam mais a sério a questão financeira, sempre buscando o melhor custo-benefício.

 

Quais as dicas para quem deseja seguir a carreira de engenheiro de custos?

Experimentar na prática, através de estágios, passando por todos os departamentos. E que saiba qual o seu perfil, se é para trabalho na obra, planejamento. Tem muita oportunidade de estágio, deve usar e abusar disso, ver como funciona o mercado e assim criar uma carreira consolidada. Ir se aprimorando, estudando, fazendo cursos, se conhecer muito bem, entender seus limites e o que almeja, se especializar e saber que tudo leva tempo, anos e anos. Precisa ter resiliência e ir aprendendo, aprender coisas novas, estar aberto a novos conhecimentos, novas metodologias e tendências. Entender qual o seu papel como engenheiro de custos para a empresa. Ache seu lugar e importância, e o que a empresa espera de você.

 

O que é preciso em soft skills?

Postura e comportamento. Ser uma pessoa resiliente, extremamente curiosa, saber trabalhar sob pressão, gostar de número, cálculos, planilha, essa parte mais operacional e técnica. Ser uma pessoa muito focada. Para ser gestor, supervisor, ocupar gerência tem que ser exponencial, gostar de lidar com pessoas, saber se comunicar, extrair a qualidade de cada um, tem que ter inteligência emocional muito grande, esforçar-se para ser um exemplo para todo mundo. O gestor é o espelho. Querer formar novos líderes é a parte mais importante e difícil, passar conhecimento e investir nos profissionais, senão não cria uma cadeia sustentável. No operacional, na fase de gestão, tem que desenvolver outros aspectos, como gerir conflitos e fazer as pessoas performarem.

 

 

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