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19/11/2024

A potência e os grandes desafios da Engenharia de Petróleo

Jéssica Silva – Comunicação SEESP

 

Um mercado de trabalho aquecido, com salários atrativos, mas restrito, que exige dos profissionais resiliência. Assim a engenheira de petróleo Daniella R. de Moura Moreira descreve uma das indústrias mais imponentes do País e do mundo.

 

Moreira saiu de Simonésia, cidade de Minas Gerais com cerca de 20 mil habitantes, para ingressar no setor que representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (Ibp). “Quando concluí a escola, em 2009, tomei a decisão de cursar Engenharia de Petróleo. E era um momento favorável, em que se tinha uma grande especulação com relação ao pré-sal”, ela conta.

 

Daniella Moura Moreira Eng de Petróleo siteA engenheira de petróleo Daniella R. de Moura Moreira.
Foto: acervo pessoal
Depois de formada, pela Universidade Santa Cecília, em Santos (SP), no entanto, enfrentou dificuldades para conseguir trabalho. O ano era 2016 e o País entrava num período de turbulenta mudança de governo com agravamento da crise econômica, com impactos na principal companhia do ramo, a Petrobras. A engenheira desistiu da área e chegou a cursar Engenharia de Produção para ampliar possiblidades de atuação, mas conseguiu ingressar no mercado, numa prestadora de serviços da petrolífera nacional.

 

“Hoje eu trabalho em escritório, ainda não tive a oportunidade de embarcar [na plataforma], mas estou tentando. Levei sete anos para entrar na área, agora que estou, quero embarcar, não sei quanto tempo vai levar, mas eu vou”, almeja Moreira.

 

O Brasil é o novo maior produtor de petróleo do mundo. Conforme levantamento do Ibp, em 2023, a receita com exportação foi superior a US$ 54 bilhões. Os números relacionados à crise climática, contudo, são igualmente grandiosos. É o setor responsável por mais da metade das emissões de dióxido de carbono do segmento de energia, algo em torno de 280 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

 

Em entrevista ao SEESP, a engenheira de petróleo fala sobre os desafios para uma produção consciente e dá dicas aos profissionais iniciantes.

 

 

Por que você escolheu cursar Engenharia de Petróleo?

No ensino médio tive bastante afinidade com a matéria de química orgânica, em que a gente via muito sobre a cadeia de hidrocarboneto e, nessa cadeia, um dos resultados das ligações de carbono, hidrogênio, é o petróleo. Eu me apaixonei por essa matéria e, quando concluí a escola, em 2009, tomei a decisão de cursar Engenharia de Petróleo. E era um momento favorável também, em que se tinha uma grande especulação com relação ao pré-sal. Acabei juntando tudo isso, minhas afinidades com química e números com o cenário econômico e a oportunidade de ter melhores remunerações. Eu sou de Simonésia (MG), uma cidade com cerca de 20 mil habitantes, minha família era da zona rural e meus pais queriam que eu fizesse algo relacionado a agronomia. Até foi uma frustração para eles na época, mas hoje vejo que eles têm muito orgulho. Quando fui atrás da graduação, minha família não tinha dinheiro para me bancar, então fiz o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e consegui uma bolsa 100% para cursar Engenharia de Petróleo em Santos.

 

E como foi entrar nesse mercado de trabalho?

É uma história muito legal, porque a Engenharia de Petróleo é maravilhosa, é um mercado incrível, mas não é fácil de entrar, é muito específico, muito restrito. Iniciei a faculdade em 2011 e concluí em 2016; eu procurava estágios e nessa época foi uma das poucas vezes que a Petrobras abriu processo seletivo para estagiários. A empresa Modec também, eu tentei em ambas e não consegui. Na Petrobras eram apenas cinco vagas, muito concorrido, o Brasil inteiro tentando, e eu tinha ficado em 11º. Acabei fazendo estágio acadêmico mesmo, na própria universidade. Depois de formada, muitas oportunidades eram no Rio de Janeiro e eu não tinha como mudar para lá. Iniciei um mestrado, mas vi que estava me restringindo ainda mais na área. E naquele momento o mercado do petróleo estava difícil, o preço do barril caiu, as questões da Lava Jato e casos de corrupção, foi uma época ruim para a indústria no geral. Então pensei em procurar uma área mais abrangente, e cursei Engenharia de Produção pela Uninove. Sete anos depois de formada que consegui entrar em uma empresa terceirizada da Petrobras. Então hoje eu presto serviço à Petrobras. Eu já havia desistido da área de petróleo, mas houve um alinhamento dos astros e eu consegui essa oportunidade (risos). Na verdade, o cenário econômico melhorou, o Brasil voltou a se tornar um país atrativo para investidores, o preço do barril subiu, o mercado inclusive está bem aquecido.

 

Como é hoje sua rotina de trabalho?

Eu trabalho dentro da gerência de poços, responsável por construir e manutenir os poços. A gente acompanha as sondas de perfuração, que, na maior parte dos poços atuais, ficam em águas ultraprofundas, a operação toda em offshore. São poços complexos, a cerca de 200 km da costa, chegando a até 7 mil metros de profundidade, são condições de pressão e temperatura bem delicadas. Hoje eu trabalho em escritório, ainda não tive a oportunidade de embarcar [na plataforma], mas estou tentando. Levei sete anos para entrar na área, agora que estou quero embarcar, não sei quanto tempo vai levar, mas eu vou.      

 

Qual projeto em que você atuou é um destaque em sua carreira?

Recentemente, a Petrobras divulgou a conclusão de um poço em tempo recorde. Participei das várias atribuições nesse projeto, concluímos o poço em 50 dias, a metade do tempo habitual, foi um marco importante. Falando dentro do meu escopo, eu emito relatórios técnicos. Os poços devem ter barreiras de segurança operacional, devido aos riscos que a atividade pode apresentar às pessoas, ao meio ambiente. Meu trabalho envolve fazer desenhos técnicos sobre essas barreiras de segurança, testes de válvulas, quase um ‘raio-x’ do poço, e tudo é notificado à ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], é um trabalho extremamente importante.

 

Com a urgência climática, sua área tem uma responsabilidade imensa com o meio ambiente, com o planeta. Como a Engenharia de Petróleo pode contribuir para a sustentabilidade?

Falamos muito sobre isso. Acho que dificilmente o petróleo vai ser totalmente substituído nos próximos 100 anos. É um material que representa um percentual muito grande na matriz energética mundial. E não só isso, desde insumo para asfalto a cosméticos, existe a utilização do derivado em diversos setores. O que já é uma realidade para nós, e essa seria a nossa contribuição, é buscar maneiras de produzir o petróleo de forma mais consciente. Temos fiscalização da quantidade de gás emitido pelas plataformas, estamos melhorando cada vez mais na questão de impacto ambiental. E isso é uma tendência não só da indústria petrolífera, mas de todas. Eu considero meu trabalho uma gotinha em meio a um oceano, mas estamos lá, buscando condições e construindo poços que sejam capazes de explorar o petróleo de forma segura e sustentável.

 

Tem alguma dica para o engenheiro que está ingressando na área?

É uma área com salário atrativos, mas bem exigente. Tem que ter conhecimento da língua inglesa, trabalhar a multidisciplinaridade, saber lidar com diversos profissionais e as questões comportamentais; investir em habilidades técnicas, mas também nas soft skills, ser um profissional resiliente. É importante ter uma estratégia também, elaborar um currículo específico para cada vaga a que se candidatar com as palavras-chave daquele processo seletivo. E ficar de olho nas empresas terceirizadas, prestadora de serviços, que têm mais oportunidades.

 

 

 

 

 

 

 

 

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