Monitorar o consumo de energia em tempo real, de modo a otimizá-lo, ordenar o tráfego, emitir sinais de alerta para a prevenção de deslizamentos e inundações. Essas são algumas possibilidades com projetos de cidades inteligentes.
Segundo Oswaldo Massambani, professor titular da USP (Universidade de São Paulo) e assessor de desenvolvimento urbano sustentável do município de São Paulo, o conceito traz embutida a capacidade de integração tecnológica e de informação para o bem das pessoas.
Como explica o especialista, que é membro do Conselho Consultivo da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados), recursos como redes de comunicação eletrônica devem ser usados, na sociedade do conhecimento, para tornar as cidades mais eficientes no uso de seus recursos, em “redução de custos, economia de energia e qualidade de vida dos cidadãos”. A preocupação ambiental, ainda de acordo com ele, está inserida nesse contexto, com o uso de “tecnologia voltada para a economia verde”.
Para alcançar esses resultados, Massambani considera algumas ações fundamentais. Entre elas, a implementação de infovias e sensoriamento eletrônico. As primeiras seriam vias de tráfego de informações através de fibras ópticas ou sistemas que irradiam sinais, como wi-fi (sem fio), para uma região da cidade. “Já temos uma importante, que conecta significativa parte do Brasil.” A partir dessa infraestrutura, é preciso ter “instrumentação que permita a coleta de informação”. De acordo com ele, uma estratégia é contar com uma central de operação que reúna dados sobre consumo de energia e propicie disponibilizar o recurso de forma mais eficaz. Outro caso é o do transporte. Mediante o uso de TIC (tecnologia da informação e comunicação), é possível ter uma sala de controle para ordenar melhor a mobilidade, por exemplo verificando a demanda e a oferta em determinados pontos e equilibrando os fluxos. Em outras palavras, melhorar a gestão dos serviços públicos nas cidades.
Observando que existem iniciativas pontuais em grandes centros urbanos brasileiros – onde se concentra atualmente 80% da população –, entre os quais São Paulo e Rio de Janeiro, ele reconhece que as infovias não alcançam todo o seu território. Na Capital paulista, por exemplo, a região leste não é contemplada, a não ser por sistemas de TV e internet a cabo colocados por provedoras a determinado custo ao consumidor. No País como um todo, os projetos inteligentes acabam por reproduzir a desigualdade ainda à espera de solução. Assim, conforme Massambani, enquanto em determinadas aglomerações a informação trafega a velocidade de 10 gigabytes por segundo, nas regiões Norte e Centro-Oeste a capacidade é menor. “A preocupação é adequar e tornar mais acessível a infovia, evidentemente fazer com que haja inclusão digital. A cidade inteligente tem que partir desse princípio e da sustentabilidade.” Na sua ótica, o planejamento urbano precisa levar em conta esse conceito. O que significa dotar o município de ofertas de trabalho, emprego e moradia próximos, diminuindo os deslocamentos e a poluição atmosférica. “É preciso rever esse modelo em que pessoas necessitam viajar muito. Deve-se redesenhar e reordenar o local pensando-se em uma cidade compacta, de tal modo que se levem todos os serviços do mundo contemporâneo a todos os lugares, de forma eficiente.”
Inverter a situação atual
Na concepção da economista e pesquisadora Ceci Juruá, a realidade está bem distante dessa proposta. Membro do Conselho Consultivo da CNTU, ela é categórica: “Pelo contrário, acho que estamos agindo em sentido inverso.” Focando na mobilidade, ela considera que “em todas as médias e grandes cidades do Brasil, as pessoas em geral e os trabalhadores em particular são submetidos a um massacre diário”. O modelo perverso, de predomínio do transporte individual sobre o coletivo, segundo Juruá, urge ser revisto. Nesse cenário, ela lamenta que se tenha abandonado e desmantelado as ferrovias e que não se priorizem projetos para atendimento a passageiros nos grandes centros urbanos. A crítica é ao trem-bala, na sua opinião, um desperdício de dinheiro público tendo em vista outras ações que seriam emergenciais para se resolver o caos no transporte. O equivalente a usar a inteligência para “a dominação, a violência e a opressão”. A economista acredita que o caminho para transformar esse quadro seria “aprofundar a democracia e resgatar o Estado das mãos do grande capital”.
O manifesto Brasil Inteligente, lançado pela CNTU em 18 de novembro último, como resultado do 1º Encontro Nacional dessa confederação, segue essa linha e aponta a importância da utilização adequada das TICs, bem como de valorização da criação nacional de novas tecnologias de informação e comunicação. E salienta: “É fundamental que as políticas de inclusão digital estejam inseridas nas políticas de fortalecimento da educação, da produção cultural, do incentivo à pesquisa, à criação artística, à invenção técnica e da vida social e à inovação de produtos e processos.”
Soraya Misleh
Imprensa – SEESP
* Matéria pública no JE, Edição 408/MAI/2012
Leia também
* Manifesto do 1º Encontro Nacional da CNTU
* EDITORIAL - Um projeto de País