"Os engenheiros são “fazedores” de coisas". A definição, bem-humorada, é do ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo), Antonio Hélio Guerra, que hoje preside o Conselho Curador da FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia). Em entrevista ao primeiro Jornal do Engenheiro na TV Aberta de SP, que estreou no dia 30 de abril último, Guerra falou um pouco da história da Engenharia no País e como ele vê a participação brasileira no desenvolvimento de tecnologias eletrônicas e digitais, como os tablets.
Considerado ícone da Engenharia do Brasil, Guerra também é membro do Conselho Tecnológico do SEESP.
“Patinho feio”
O desenvolvimento de computadores na década de 1970 tinha muito a ver com a evolução da engenharia elétrica no País, especialmente no ensino da Engenharia. Um dos exercícios que os alunos [da Poli-USP] receberam no curso, naquela época, foi desenvolver o que tinha num computador. Isso foi um argumento muito importante na disputa que nós, da escola Politécnica, estávamos travando com o chamado concorrente, na verdade os nossos amigos de Campinas [Unicamp]. A gente queria o contrato com a Marinha para desenvolver um computador profissional para ser reproduzido na indústria brasileira. Os nossos amigos de Campinas também queriam esse projeto e anunciaram que estavam desenvolvendo o que eles chamaram de “Cisne Branco”. E os nossos meninos, em brincadeira, batizaram o computador que eles fizeram de “patinho feio”. E deu certo. Acabamos ganhando o projeto, que, até hoje, foi um dos maiores projetos contratados fora da Poli.”
Tablets
“Essa geração de computadores [tablets] realmente tem um futuro muito grande, mas a gente precisa ter bem noção até que ponto vale à pena investir muito no desenvolvimento do tablet, estou falando do hardware, da máquina, para ser reproduzida no Brasil. Não podemos esquecer que o mundo é global, que a tecnologia é global e a produção é global. Pessoalmente acho que a gente deve desenvolver [essa tecnologia] desde que o Brasil consiga vantagem competitiva para exportar para todo o mundo, especialmente para aqueles que hoje estão exportando, que é China Continental, Coreia, Japão, Taiwan. Enfim, temos de ser competitivos antes de embarcarmos no programa de desenvolvimento do hardware. Isso não significa que estamos fora. Não, a gente pode e deve estar dentro do programa, na medida em que temos um número muito grande de jovens que hoje desenvolvem suas competências em computação e que podem desenvolver softwares.”
Inovação da Engenharia nacional
“Temos de voltar um pouco no tempo, porque a partir dos anos 1930, com a criação da USP, que seguiu o modelo da Universidade de Berlim (Alemanha), as escolas de engenharia foram incorporadas às universidades. O problema é que as universidades têm objetivos, aliás muito nobres, que é o desenvolvimento da ciência. E a engenharia claro que concorda, apoia e às vezes até participa do desenvolvimento da ciência, mas o pessoal da engenharia tem uma vocação para fazer coisas, quer realizar, implementar. Os alunos da minha escola [da Poli-USP] passaram a ter aula na Matemática, uma escola típica da USP e que trabalha com ciência básica. Os professores [da Matemática] reclamaram que os alunos dele sempre perguntavam “porque” e os alunos da Politécnica perguntavam “para que”. Isso distingue muito a cultura do cientista e do engenheiro, que não são conflitantes. A partir dos anos 1970, a grande novidade da Engenharia foi o desenvolvimento da engenharia elétrica no sentido mais amplo, que inclui a eletrônica e a digitalização.”
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Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa – SEESP
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