A prefeitura decidiu iniciar uma campanha para reduzir o número de acidentes com pedestres nas ruas de São Paulo. A idéia é ótima. Não tem sentido a quantidade de mortes no trânsito brasileiro. Tudo que for feito para mudar isso é bem vindo. Se não for por nada, em nome da vida e da dignidade humana.
Assim, essa campanha é mais que bem vinda. Mas para ter sucesso ela precisa levar em conta algumas verdades, sem as quais ficará só nas boas intenções.
A primeira delas é que no Brasil o pedestre é menos que bicho. Basta ver a quantidade de veículos com adesivos informando que brecam para animais para se ter certeza. Afinal, quem é que já viu um adesivo com os dizeres “breco para pedestres”? Com certeza, ninguém. E o que é mais grave, boa parte dos motoristas não breca mesmo.
A falta de respeito dos motoristas fica clara na quantidade de vezes, todos os dias, em que vemos veículos de todos os tipos parados em cima das faixas de pedestres. É como se não fosse com eles ou como se as faixas estivessem no chão para enfeitar a rua. Tanto faz se o pedestre tem o direito de passar por elas, protegido da agressividade dos veículos. Para estes motoristas, as faixas de pedestres são menos do que os cruzamentos que eles fecham para andar dez metros a mais.
De outro lado, um dado importante para mostrar a gravidade do quadro é que a maioria dos acidentes com pedestres acontece fora das faixas de pedestres. Quer dizer, o pedestre é atropelado porque não respeita as regras de trânsito e desafia o perigo atravessando em qualquer lugar, da forma que lhe dá na veneta, sem se preocupar com o trânsito em volta ou em pensar que ele é a parte mais fraca numa eventual colisão.
A cena é tão comum que deixou de ser espantoso assistir na televisão um marronzinho parando o trânsito numa marginal, ou noutra avenida de tráfego intenso, para um pedestre, volta e meia uma mãe com uma criança no colo, atravessar a pista fora do local apropriado, como se o correto fosse isso.
Nos países mais civilizados – e no caso vale a Argentina - o pedestre tem a precedência e todos os motoristas param para ele atravessar, desde que no local apropriado. Se atravessar fora da faixa, ou com o sinal fechado, dependendo do país, ele pode ser multado.
Quer dizer, a relação pedestre/veículo é de mão dupla e os dois lados precisam conhecer e respeitar seus limites. E a melhor forma de se conseguir isso é pela educação.
Se a campanha da prefeitura atuar em todas as pontas, educando motoristas, motoqueiros, pedestres e marronzinhos, será um grande passo para melhorar o que hoje está ruim. Mas só boa intenção não adianta. Educar, às vezes, exige punição. Assim, a melhor forma de educar é jogar duro com quem não respeita a lei, seja lá quem for, pedestre, motorista ou motoqueiro.
* por Penteador Mendonça Advocacia
Imprensa - SEESP