Obter previsões mais rápidas e precisas para salvar vidas e diminuir os prejuízos causados pelas fortes chuvas são as principais metas do governo federal ao ampliar a rede de equipamentos contra desastres naturais, conforme divulgado pelo Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais. Ao todo, serão investidos R$ 100 milhões na compra de nove radares meteorológicos, 1.500 pluviômetros automáticos e 1.100 semiautomáticos, além de 280 sensores geotécnicos para áreas de deslizamento. Estão previstas ainda atividades e obras preventivas, corretivas e de planejamento urbano, além de um sistema de monitoramento e alerta.
De acordo com Agostinho Tadashi Ogura, diretor do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão ligado ao MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), a aquisição dos sensores já foi contratada e esses serão instalados a partir de março em diversos pontos do País. O objetivo é melhorar a base de observação através do monitoramento das áreas de risco visando a redução dos desastres naturais, informa ele. “Essa melhoria ocorrerá a partir de dados de chuva registrados pelos pluviômetros, de movimentação dos terrenos pelos sensores geotécnicos e de informações sobre o potencial de chuva futura indicado pelos radares meteorológicos que são enviados contínua e automaticamente ao Cemaden”, detalha.
Na prática, os radares trazem estimativa de quanto pode chover em algumas horas e em qual localidade. Os pluviômetros automáticos registram a quantidade de chuva que está caindo e podem enviar esses dados ao Cemaden a cada cinco minutos. Já os pluviômetros semiautomáticos servem para indicar ao técnico através de um visor quanto de chuva já caiu e o que representa esse valor em termos de potencial de risco de um determinado desastre natural, dando a possibilidade de agir preventivamente.
Também serão integrados de forma inteligente softwares e sistemas dinâmicos de análise de risco, dados de diferentes equipamentos e satélites. Dessa forma, o País poderá avançar no sentido de monitorar de maneira correta a possibilidade de situações de risco iminente, emitir alertas precoces e antecipar cenários de perigo, de modo a atuar na remoção emergencial e preventiva de pessoas que moram em áreas suscetíveis a desastres.
Para o geólogo Eduardo Soares de Macedo, pesquisador do Laboratório de Riscos Ambientais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a falta de equipamentos e de dados sempre foi um problema no Brasil. “As regiões Norte e Nordeste e o interior são desprovidos dessa tecnologia, ou seja, não têm a menor ideia de quando e onde vai chover. Acredito que com a aquisição desses novos radares e pluviômetros, vamos ter uma melhoria sensível na precisão da meteorologia que é base para trabalhar com defesa civil”, menciona.
Aprimorar a gestão
Para o diretor do Cemaden, as dificuldades na área de prevenção do Brasil envolvem questões culturais, políticas e sociais. Entretanto, ele acredita que o maior problema seja o de gestão. “É por isso que devemos atuar em diversas frentes, por conta do elevado número de áreas de risco que foram se formando de maneira descontrolada nas cidades” opina Ogura. Macedo, do IPT, avalia que grande novidade do plano nacional e da ampliação da rede é justamente unir Defesa Civil e as áreas de planejamento urbano, de atendimentos de emergência, de monitoramento e de meteorologia. Para ele, esse trabalho deve ser baseado em três pilares: “O primeiro é o conhecimento, que se refere a mapear todas as áreas para conhecer os motivos que fazem acontecer os deslizamentos e as inundações, entender as questões da meteorologia e da climatologia e criar cursos para formar profissionais para atuar nesse campo. O segundo ponto é a mitigação de risco, que significa resolver o problema que já está instalado, ou seja, a obra em si. O último pilar é o atendimento do desastre, a emergência. Portanto, quando se fala em gestão, é preciso pensar em todos esses aspectos para obtermos sucesso na prevenção.”
Na sua visão, o maior impasse é a falta de equipes municipais adequadamente treinadas para lidar com a complexidade do problema. “Não adianta colocar profissionais como engenheiro, arquiteto, geólogo e geógrafo, se eles não são sabem mapear, reconhecer uma área de risco, o momento que precisa retirar as pessoas, trabalhar com planejamento urbano ou mesmo avaliar um loteamento que possa dar problema no futuro”, alerta. (Por Lucélia Barbosa)
Imprensa – SEESP
Matéria publicada no jornal da FNE – Edição 129/FEV/2013
Imagem: site SOS Casa & Decoração