O Brasil é reconhecido como o país que possui o sistema mais eficiente do mundo para a produção de biocombustíveis – a partir da cana de açúcar, principalmente. O sucesso que obteve em transformar a planta em fonte de bioenergia, contudo, deve-se muito mais à iniciativa pioneira de montar um sistema industrial de produção do etanol do que à gramínea em si.
O sistema começou a ser desenvolvido nos anos 1930, quando também foi estabelecido um programa de desenvolvimento agronômico que tornou a planta altamente eficiente. Apesar disso, o desempenho agronômico da cana é inferior ao de outras matérias-primas testadas nos últimos anos em diferentes partes do mundo para essa finalidade.
Tais conclusões são de um estudo feito por pesquisadores do Laboratório de Fisiologia Ecológica de Plantas (Lafieco), do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), no âmbito do Instituto Nacional de Biotecnologia para o Bioetanol (INCT do Bioetanol) e do Centro de Processos Biológicos e Industriais para Biocombustíveis (CeProBio), financiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os resultados do estudo foram publicados na edição de setembro da revista BioEnergy Research.
“Concluímos que o sucesso da cana-de-açúcar no Brasil não está relacionado à planta em si, mas a contingências históricas (como sucessivas crises no preço do petróleo) que levaram o país a construir um sistema industrial de produção de etanol a partir da cana. Isso tornou o biocombustível mais eficiente do que os outros existentes no mundo hoje, baseados em outros tipos de matérias-primas”, disse Marcos Silveira Buckeridge, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores compararam a duração do ciclo de colheita, o rendimento, a quantidade de água, os nutrientes e pesticidas utilizados no cultivo – entre outros parâmetros agronômicos – de diferentes espécies vegetais utilizadas atualmente para a produção de biocombustível. Entre elas, a própria cana de açúcar, além da switchgrass (Panicum virgatum), o miscanto (Miscanthus spp), o sorgo doce (Sorghum vulgare), a beterraba açucareira (Beta vulgaris L.), o milho (Zea mays), o choupo (Populus ssp) e o salgueiro (Salix spp).
A comparação agronômica revelou que a cana tem um rendimento maior em termos de produção de biocombustível por litro por hectare do que o sorgo doce, o miscanto e outras gramíneas. A cultura, no entanto, requer mais água – e, ao contrário da switchgrass, do miscanto e do sorgo doce, tem ciclo de colheita maior e não é produzida durante o ano inteiro.
Razões do sucesso
Um dos motivos apontados pelos pesquisadores para o sucesso da transformação da cana em uma fonte de bioenergia no Brasil é o fato de o país ter sido o primeiro a usar leveduras e de tentar produzir etanol a partir da planta na década de 1930, no Nordeste.
Desde então, e em razão de sucessivas crises de preço do petróleo – como a da década de 1970 –, o país começou a desenvolver novas tecnologias de fermentação para produzir bioetanol economicamente viável a partir de cana-de-açúcar e a montar um sistema industrial muito bem adaptado a determinadas regiões brasileiras. (Para ler todo o texto clique aqui)
Fonte: Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo)