Marchas, protestos e manifestos. Das palhaçadas para atrair novas gerações ao luto para homenagear as que morreram lutando, as celebrações do Dia Internacional da Mulher tomaram conta do país, com uma certeza: o machismo ainda é a principal característica das relações sociais, econômicas, políticas e culturais no Brasil, causa da violência e da falta de direitos para a população.
Em São Paulo, o ato começou na véspera, com integrantes de movimentos por moradia em passeata pelas ruas do centro da capital paulista para marcar o Dia Internacional de Luta das Mulheres, com cerca de 400 pessoas percorrendo vários órgãos públicos nos quais entregam carta com reivindicações de políticas públicas com corte de gênero.
Foto: Rita Casaro
Marcha 8 de Março em São Paulo
“A mulher é que fica mais vulnerável pela ausência de políticas básicas. Uma das principais é moradia. Na maioria dos casos, elas são responsáveis pela família. Sem moradia, não tem cidadania”, disse Neuma Silva, do Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo, um dos grupos que fazem parte da União Nacional por Moradia Popular, coordenadora da manifestação. Ela pede também a criação de vagas em creches para facilitar a vida das paulistanas que trabalham e têm filhos pequenos.
No dia seguinte saíram às ruas as participantes do Ato Unificado pelo 8 de Março que se concentraram no Vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, para denunciar a opressão contra as brasileiras e celebrar a luta. Um manifesto da Marcha Mundial das Mulheres acusou o modelo capitalista patriarcal como causador das desigualdades, voltou a cobrar a descriminalização do aborto e defendeu a reforma do sistema político para assegurar igualdade de condições na participação das mulheres na política.
Em Brasília, as crianças foram o foco de atenção de um grupo de palhaças que se apresentou no Parque da Cidade, na manhã de sábado, com brincadeiras e músicas. O evento fez parte da Temporada de Palhaças no Mês da Mulher (TPMs), que ocorre todos os anos, no festival realizado pela CiRca Brasilina, que promove ações culturais variadas na capital.
Clima vem diferente seu viu em Salvador, na Bahia, onde as integrantes da UBM (União Brasileira de Mulheres) tomaram a praia do Porto da Barra, onde está o Marco de Fundação da cidade, com uma grande instalação ao ar livre que marcou seu ato de conscientização pelo fim da violência e por mais participação nos espaços de decisão.
Elas fincaram nas areias da praia cerca de 200 cruzes e cada uma delas representando simbolicamente, uma das mulheres mortas na Bahia, nos últimos anos. Segundo Daniele Costa, coordenadora estadual da UBM, a bandeira pelo fim da violência ainda necessita estar erguida, apesar das conquistas.
Manifestações no interior dos estados também tiveram visibilidade. No Sertão de Pernambuco, as mulheres que vem realizando atividades nas universidades de Juazeiro e Petrolina, e na Cada da Mulher Rendeira de Petrolina, utilizaram técnicas teatrais e batucada para chamar atenção da população para as suas lutas, com o chamado "Nem silenciosas, nem silenciadas". Integrantes da Marcha Mundial das Mulheres, as pernambucanas do sertão devem lutas regionais, ligadas à terra, ao MST e ao Movimento dos Atingidos por Barragens, e também as lutas nacionais do movimento, como a realização do plebiscito para uma Constituinte da Reforma Política. A estudante Jaqueline dos Santos, de 24 anos, afirmou ao G1 de Petrolina que, como “uma mulher negra vinda do campo, me vejo como uma peça que move o movimento, que defende a ideologia e que defende o que acredita”, enfatiza.
Nas capitais, os atos unificados tiveram por referências praças e logradouros centrais que vão entrando no percurso dos protestos sociais. O Rio de Janeiro teve ato unificado às 13h, com protesto "arrastão" nos Arcos da Lapa. Em Belo Horizonte (MG), o ato unificado começou na Praça da Estação. Em Porto Alegre (RS), no Largo Glênio Perez. Em Belém (PA), na escadinha da estação das Docas.
Em Curitiba (PR), na Praça Santos Andrade. Em São Luís (MA), na Praça Deodoro. Em Fortaleza (CE), o na Praça da Bandeira. Em Aracaju (SE), em frente à sede da Petrobrás. Em Recife (PE), na Praça do Derby (na sexta-feira). Em Maceió (AL), também na sexta, no Centro da cidade. E as manifestações devem continuar pelo mês de março. Em Natal (RN), nesta terça-feira, dia 11, às 14h, haverá o ato “Para a Copa bilhões, para as mulheres migalhas”, com concentração na Praça Vermelha. Por Rita Freire, texto publicado originalmente no site da CNTU.