Os franceses têm uma peculiar expressão política e falam no fenômeno do “cliquet” (ou seja, da trava em uma engrenagem): uma evolução da lei, das mentalidades, dos direitos políticos ou sociais que se revela não retroagível na prática.
É o que eu tenho chamado (copiando um pouco os norte-americanos) de terceiro trilho do metrô, aquele que eletrocuta quem pisa nele.
Vou dar um exemplo atual de “cliquet” ou de terceiro trilho no Brasil: a escravidão do negro. Ai de quem a defender, ai de que a insinuar!
A estabilização da moeda tem sido um terceiro trilho: coitado de quem defender a inflação (mas há práticas inflacionistas e indexação).
A coisa já não é tão clara quando se trata de evitar seus efeitos; mesmo com o sucesso das campanhas salariais permanece sempre um resíduo de acordos e convenções negociados livremente em que os reajustes ficam abaixo da inflação. Ela come os salários.
Parecia-me que a política de valorização do salário mínimo fosse um terceiro trilho e quem propusesse sua eliminação seria liquidado politicamente. Mas, o sindicato dos metroviários de São Paulo denunciou e o Estadão manchetou, na segunda-feira, que o metrô tem uma grave pane a cada três dias, 113 falhas de energia de mais de seis minutos de duração no ano.
Comecei a ficar preocupado com o salário mínimo.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical