A protagonista da Copa do Mundo de 2014 é a Brazuca, a 12ª bola criada pela Adidas para os mundiais de futebol e que traz um design inspirado em cores vibrantes e muita tecnologia. Após uma votação pública no Brasil, em setembro de 2012, que envolveu 1 milhão de fãs do esporte, “Brazuca” foi o nome escolhido, popular expressão que significa "brasileiro". As cores e o desenho dos seis painéis da bola foram inspirados nas fitas da sorte do Senhor do Bonfim da Bahia e simbolizam a paixão e alegria associadas ao futebol no Brasil.
Antes de se tornar a protagonista do momento, a Brazuca passou por um completo processo de testes durante mais de dois anos e meio, envolvendo mais de 600 dos melhores jogadores do mundo e 30 equipes de dez países espalhados por três continentes. Esta é a bola que mais provas enfrentou, de forma a garantir uma performance perfeita em todas as condições. Equipes como o AC Milan, o Bayern de Munique, o Palmeiras e o Fluminense participaram dos testes. Leo Messi, Iker Casillas, Bastian Schweinsteiger e Zinedine Zidane foram alguns dos jogadores envolvidos no processo. A bola já havia sido testada em campo em encontros internacionais durante o Campeonato do Mundo sub-20 da Fifa, ainda que com um design diferente, e também num jogo amigável entre a Suécia e a Argentina em fevereiro de 2013.
A tecnologia por trás
A bola deste Mundial conta com seis painéis, dois a menos do que os oito da Jabulani e os 14 da Teamgeist (a bola da Copa da Alemanha, em 2006) ou os 32 das bolas tradicionais. Os painéis são termosselados, ou seja, são unidos com calor e não costurados à máquina, como na Jabulani. Ela incorpora, ainda, uma nova superfície, com pequenas protuberâncias para criar mais aderência. A forma dos painéis e a maneira como são unidos são elementos cruciais, pois mudam a forma como a bola agita o ar ao se deslocar.
Simon Choppin, pesquisador do Centro de Engenharia de Esportes da Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, analisou as uniões dos gomos da bola. "Descobrimos que a profundidade das emendas da Jabulani é de cerca de 0,48mm, enquanto as da Brazuca têm 1,56mm - mais de três vezes. Por outro lado, medi a longitude das uniões de cada bola delineando-as com uma corda. A longitude total é cerca de 203 cm na Jabulani e 327 na Brazuca", relatou.
Choppin explicou que, quando uma bola se move no ar, suas emendas "agitam o ar, assim como a felpa de uma bola de tênis". Apesar do menor número de painéis, as emendas mais profundas e longas aumentam uma das características cruciais: a rugosidade.
Rugosidade
"O mais importante em uma bola de futebol é seu grau de rugosidade, porque isso afeta a velocidade na qual se produz o máximo do chamado knuckling effect", disse Rabi Mehta, especialista em aerodinâmica do centro de pesquisa Ames, da Nasa (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration – Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço). Esse efeito, também conhecido como knuckleball, é produzido quando a bola, movendo-se sem ou com pouca rotação, torna-se imprevisível e muda de direção ao alcançar certa velocidade. "Quanto mais lisa a bola, maior a velocidade na qual ela produz esse efeito", disse o engenheiro da Nasa. Para ele, o problema da Jabulani era justamente sua menor rugosidade. “A velocidade crítica para esse efeito no caso da Brazuca é de cerca de 48 km/h. Acredito, então, que ela se comportará mais como a bola tradicional de 32 painéis, por isso deve haver menos queixas do que as que vieram à tona no Mundial anterior," disse Mehta.
Uma bola rugosa também vai mais longe, e isso pode ser visto nas bolas de golfe. "Todo mundo sabe que as bolinhas de golfe têm umas protuberâncias. Isso surgiu quando os 'caddies' praticavam golfe com bolas velhas e notaram que elas iam mais longe do que as novas", explicou o engenheiro Raúl Bertero, professor titular de Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade de Buenos Aires.
O efeito Magnus
"Quando a bola não gira ou gira muito pouco, temos o chamado efeito knuckling. Quando gira, temos o efeito Magnus, que faz com que a bola tenha o efeito de uma curva," explica Rabi Mehta, da Nasa.
Raúl Bertero explicou que esse efeito "é conseguido ao se fazer girar a bola sobre seu eixo. Ao fazer isso e ao avançar na corrente de ar, cada lado da bola passa por uma velocidade do ar distinta". "Como a diferença de velocidade implica em uma diferença de pressão, a bola recebe uma força lateral - e isso se chama efeito Magnus."
A altitude
Segundo Bertero, o efeito Magnus varia com a altitude porque a densidade do ar é alterada. Em 2013, ele se propôs a investigar se era factível o que havia dito o então técnico da Argentina, Daniel Passarella, quando sua seleção perdeu por 2 x 0 em uma partida eliminatória em 1996, em Quito, a mais de 2.700 metros de altitude: "Aqui, a bola não faz curvas."
"Propus-me a fazer um modelo do comportamento de uma bola em um planície e no estádio de Siles Suazo, na Bolívia, que está a 3.700 metros de altitude", contou o engenheiro.
Ele pegou como exemplo o famoso chute de Roberto Carlos, que colocou a bola no ângulo com uma curva espetacular, que deixou atônito o goleiro da França, Fabian Barthez, em um amistoso em 1997.
"Se essa mesma bola entra no ângulo na planície, vimos que em La Paz ela chega 4 metros fora do arco", explica. "Assim, Passarella, que foi muito criticado e ridicularizado, tinha razão. Na altitude, a bola faz menos curvas, mas não da mesma maneira."
Poliuretano
Os painéis da Brazuca são de poliuretano. "Ao se passar das bolas de couro para esses materiais artificiais, como o poliuretano, as bolas se tornaram totalmente impermeáveis, de maneira que, quando chove, a massa da bola não muda", explica Mehta, da NASA.
No entanto, a água pode afetar outro aspecto: "Quando [o argentino] Riquelme vai bater um escanteio, ele seca a bola com a camiseta. Isso não é uma mania dele", disse o engenheiro Bertero. "Ele faz isso porque sabe, instintivamente, que a bola tem um comportamento diferente se está molhada. A água cobre os gomos e deixa a bola lisa - então o efeito que se quer dar com um determinado chute pode não funcionar por não haver essa rugosidade necessária", completa.
Imprensa SEESP
Fonte: VDI-Brasil