Quando o dia está ensolarado e a estrada é reta e conhecida pode-se dirigir sem quase prestar atenção, automaticamente. Mas dirigir a noite, com chuvas e trovoadas, em estrada desconhecida e cheia de curvas, isto exige atenção redobrada.
Nesta singularidade que assola a política brasileira e as eleições, o movimento sindical deve mais que nunca redobrar sua atenção.
Há uma onda de novidade que, a acreditar nas pesquisas, é formada pelos trabalhadores e trabalhadoras que ganham de dois a cinco salários mínimos, têm idade de 18 a 45 anos e moram nas grandes cidades brasileiras. Descrevi as bases orgânicas do movimento sindical dos trabalhadores (apesar de 80% deles não serem sindicalizados) e esta coincidência- entre base sindical e onda novidadeira- me preocupa.
A onda não se forma no povo do salário mínimo, seja da ativa, seja aposentado. Ela se avoluma exatamente na base sindical das grandes categorias que têm piso profissional.
A preocupação decorre do fato de que a candidata-novidade e seu entorno, não têm nenhuma relação orgânica com o movimento sindical, sua estrutura, suas experiências e sua plataforma de luta. São dois mundos paralelos que, quando confrontados, reagem como estranhos um ao outro; matéria e antimatéria que se aniquilam.
O simbolismo, mais que os interesses, reforça a onda em detrimento da experiência.
Onde, na onda, identificar a pauta trabalhista? Onde, na onda, buscar o peso da instituição sindical? Onde, na onda, encontrar respaldo às nossas reivindicações unitárias e às experiências unicitárias? Não será o sindicalismo, tanto quanto a política, o velho a ser varrido pela onda nova?
Durante a tempestade leva-se o barco devagar. É preciso reforçar nossa plataforma unitária e valorizar as candidaturas que podem representar nossos interesses e isto não tem nada de novidade.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical