Chamou minha atenção nas comemorações do aniversário de São Paulo a completa ausência da indústria como característica de sua vida produtiva, de seu histórico, de seu passado modernista e atraente para milhões de brasileiros.
Tudo se passou como se a indústria que míngua e perde posições na vida econômica de São Paulo tenha já desaparecido do imaginário da cidade; indústria é coisa feia.
Sob o comando dos rentistas, na mídia e na academia, a produção física tem desaparecido das preocupações modernas. Essa é uma das características da globalização, em que a humanidade preocupa-se com tudo e mais alguma coisa e é levada a desprezar a capacidade humana de produzir, relegando-a a guetos nacionais.
Neste enevoamento (garoa paulistana?) a grande perdedora é a fábrica, local econômico moderno, dinâmico e articulador, até então, da economia e dos sonhos de cada sociedade, objeto de desejo dos trabalhadores.
Se, em geral no capitalismo, a indústria perde posição, aqui em São Paulo a indústria vira estorvo. A desindustrialização é perversa porque contribui para a confusão urbana quando a indústria é contraposta artificialmente à urbanização.
As entidades sindicais dos trabalhadores fabris que enfrentam a pressão do desemprego, da evasão das fábricas e ao mesmo tempo as dificuldades da urbanização descontrolada e especulativa (moradias caras e afastadas do emprego, transportes precários, situações sanitárias intoleráveis e insegurança) são obrigadas a lutar em duas frentes: a do emprego e a das condições urbanas de vida.
E, no entanto, estas tarefas caracterizam o papel do trabalhador fabril na vida da cidade grande e podem impulsionar formas mais efetivas de luta e de vivência na metrópole.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical