A preocupante inflação mundial desapareceu quando a economia mundial implodiu no final de 2008, mas aumentos de preços estão novamente sendo temidos em todo o mundo. A diminuição das preocupações quanto à deflação estimulou a Austrália a elevar os juros, ontem, pela quinta vez desde outubro. Os motoristas britânicos certamente sabem que os preços estão em alta. No mês passado, a compra um litro de gasolina passou a custar 28% mais do que no ano anterior. E o que está incomodando os motoristas londrinos está começando a causar preocupação em outras partes do mundo.
Uma estimativa preliminar para a zona do euro mostrou que a inflação saltou de 0,9% em fevereiro para 1,5% em março; para o consumidor chinês, a subiu de 1,5% em janeiro para 2,7% em fevereiro. Na Índia, o Banco Central elevou os juros em resposta ao principal indicador inflacionário aferido em fevereiro, que registrou forte alta, ficando pouco abaixo de uma taxa de dois dígitos, em 9,89%.
Mas para cada caso de aumento da inflação existem contra-exemplos, sugerindo que o mundo está longe de entrar num período inflacionário. A mediana anual da inflação nos EUA, mensurada pelo Fed de Cleveland, caiu para 0,8% em fevereiro, recorde de mínimo na série. E no Japão, os preços, excluindo alimentos e energia, ficaram, em fevereiro, 1,1% abaixo do ano passado, uma taxa de deflação pior do que em 2001, no auge das preocupações.
A despeito da preocupação com a alta nos preços, as autoridades econômico-financeiras nas nações desenvolvidas não estão preocupadas, e tampouco os investidores. Eles veem o pequeno aumento nas taxas de inflação plena como ajustes não recorrentes no nível de preços, refletindo aumentos nos preços de commodities ou altas nos preços de importações, e não um processo autorreforçado dos aumentos de preços que alimente as percepções de inflação por parte de famílias ou empresas.
Escrevendo a Alistair Darling, ministro das Finanças britânico, para explicar a elevada taxa de inflação em fevereiro, Mervyn King, presidente do Banco da Inglaterra, insistiu em que o problema da inflação é temporário e que os preços estão mais propensos, no médio prazo, a exceder, para baixo, sua meta de 2%. "O esfriamento nos gastos criou uma substancial margem de capacidade ociosa na economia, que, ao longo do tempo, espera o comitê (de política monetária), pressionará para baixo as pressões inflacionárias." Sua visão sobre a atual evolução da inflação é compartilhada pelos dois principais bancos centrais.
Preocupações sobre a inflação nos países ricos são manifestadas principalmente por economistas preocupados com a enorme expansão da atividade dos bancos centrais em cada economia e que acreditam que isso tenha relações com a inflação no médio prazo. Esses economistas são, no entanto, uma pequena minoria, em meio a uma recuperação tão frágil.
Mesmo assim, a ausência de pressões inflacionárias fundamentais na economia mundial não impede que a inflação se manifeste em economias individuais. A rápida recuperação nos mercados emergentes, que agora já dura um ano, está começando a criar uma ameaça de inflação - da China à Argentina. O Fundo Monetário Internacional está ficando cada vez mais enfático em suas advertências de que as políticas fiscal e monetária precisam conter a demanda em muitas economias emergentes. No mês passado, Murilo Portugal, vice-diretor gerente do fundo, disse: "Em algumas importantes economias emergentes na Ásia e na América Latina, hiatos de produto estão estreitando rapidamente, e os riscos de superaquecimento aumentaram". Ele elogiou os esforços da Índia e da China no sentido de conter a demanda, mediante o início da reversão do estímulo monetário.
A divergência entre economias emergentes e avançadas em termos de inflação deverá crescer, no médio prazo, se a demanda continuar a crescer nos países mais pobres, ao mesmo tempo em que permanecer fraca na Europa, nos EUA e no Japão.
Chris Giles, Financial Times, de Londres - Valor Econômico
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