Estamos em uma conjuntura de resistência em que as más notícias vão se acumulando e as boas passam a ser raras.
Demissões e dificuldades vão se somando no cotidiano dos trabalhadores e transformando sua apreensão em algo bem mais forte, que pode ser previsto de maneira muito vaga, porque tem a característica do intempestivo.
Para que a apreensão se materialize em protesto e este acerte o alvo, será preciso modificar, com urgência, as formas de luta adotadas até agora.
No período do protagonismo, com a conjuntura favorável, o movimento sindical funcionava essencialmente como pressão organizada, como lobby. As manifestações, positivas em seu esforço unitário, eram manifestações de dirigentes sindicais e de ativistas, que buscavam com suas bandeiras a visibilidade social midiática e davam respaldo às intervenções das lideranças em seus contatos e reuniões em Brasília e em outras capitais com as esferas de poder.
Agora, não. Com o “salve geral” em curso é preciso recalibrar nossos instrumentos de análise e de mobilização. O desconforto de hoje, se materializado amanhã em verdadeiras explosões, precisará de algo mais que as bandeiras e palavras de ordem para ser orientado e dirigido pelas organizações sindicais.
Em 2013, por exemplo, o movimento sindical foi ausente das manifestações e foi, até mesmo, hostilizado por elas. Como dirigir manifestações de trabalhadores com motivações semelhantes às dos jovens em 2013 e com a impetuosidade, explosividade e imprevisibilidade daquelas?
Estas cogitações reforçam o empenho pela unidade na base em todas aquelas questões que afligem os trabalhadores hoje, aonde o calo dói.
Reforçam o empenho em escutar os trabalhadores e atentar para os mínimos sinais precursores da avalanche e preparar – as direções, os ativistas, os delegados sindicais e o conjunto da base – para os tempos duros de resistência, sem politiquices.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical