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24/09/2010

Governo para obra que destruía caverna

Decisão aconteceu após Folha ter noticiado que obra do PAC estava atropelando complexo no sudoeste baiano

       O governo paralisou a pavimentação de uma estrada na Bahia que atropelou a caverna onde está o maior lago subterrâneo do Brasil.
       A decisão ocorreu após a Folha ter noticiado, no domingo, que a BR-135, uma obra do PAC, estava destruindo o chamado Buraco do Inferno e outras cavernas do município de São Desidério, sudoeste baiano.
       A denúncia foi feita por um espeleólogo (especialista em cavernas) e motivou uma vistoria do Instituto Chico Mendes ao local.
       Os técnicos do instituto presenciaram a queda de blocos de rocha do teto da caverna -um deles do tamanho de uma geladeira.
       "Todas as confirmações são de que os impactos são causados pelas obras da BR", disse o chefe do Cecav (Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas) do Instituto Chico Mendes, Jocy Cruz.
       Segundo Cruz, os impactos estão ocorrendo no trecho da estrada que teve licença de instalação concedida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) neste ano.
       O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), responsável pela obra, informou na quarta-feira (22/9) à Folha que a paralisação foi feita "por precaução", até uma nova visita de técnicos do Ibama ao local, programada para hoje.
       O Dnit afirmou, porém, que dados do estudo geofísico da obra "não apontaram nenhum perigo". A caverna é considerada de relevância máxima por abrigar o lago subterrâneo do Cruzeiro, de 13.860 m2.
       Ela integra o sistema de João Rodrigues, no carste (formação de rocha calcária com cavernas) de São Desidério. O sistema contém cerca de 30 grutas importantes.
       A vistoria do Cecav não esclarece se o Ibama sabia da existência das cavernas no trecho licenciado.
       A Folha solicitou ao Ibama acesso ao estudo de impacto ambiental da obra, documento público.
       A assessora de imprensa do órgão, Sandra Sato, afirmou que a pessoa que poderia autorizar o acesso estava "numa reunião no ministério". Sugeriu à reportagem que obtivesse o documento junto ao Dnit.
       A assessoria do Dnit, por sua vez, afirmou não possuir nem o estudo de impacto, nem a licença de instalação do trecho, nem o levantamento geofísico que indicaria a "ausência de risco". Pediu à reportagem que procurasse o Ibama.

 

Cláudio Ângelo
Folha de SP, 23/9

 

 

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