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Mais negros na engenharia, mas ainda muito a avançar

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Soraya Misleh

 

De origem humilde, a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil, no ano de 1945, Enedina Alves Marques, carregava um revólver na cintura e dava tiros para cima para ser ouvida e levada a sério no ambiente de trabalho. Setenta e nove anos depois, esse recurso não é mais necessário, mas a profissão segue predominantemente masculina e branca. A percepção é compartilhada por acadêmicos, estudantes e profissionais ouvidos pela reportagem do JE. Sem estimativas precisas, eles observam que apesar da maior presença negra na engenharia nos últimos anos, ainda há muito por avançar.

 

José Reinado Silva, professor associado do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e idealizador da Comissão de Inclusão e Diversidade (CIP), formalizada em 2022 pela instituição, está entre os que enxergam que a mudança se dá timidamente. Um dos poucos docentes negros da Poli, ele crê que ampliar a diversidade racial passa por reconhecer as contribuições à engenharia e à sociedade de pioneiros como Enedina, responsável pela construção da Usina Capivari-Cachoeira, a maior central hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil, atualmente denominada Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, em Antonina (PR). “É um problema cultural. Antes da CIP, a Poli não reconhecia grandes engenheiros negros na história, como Teodoro Sampaio e os Irmãos Rebouças [os primeiros a se formarem no Brasil, ainda no século XIX], que desenvolveram o sistema de saneamento no Rio de Janeiro, no Paraná, em São Paulo”, avalia.

 

Coordenadora do Núcleo Negro para Pesquisa e Expansão da Universidade Estadual Paulista (Nupe-Unesp), a professora-doutora Monica Abrantes Galindo considera a política de cotas como a principal ação rumo à diversidade almejada nas engenharias nas instituições públicas e nacionalmente. Além disso, menciona que os programas de financiamento estudantil, como o Fies, também têm seu papel para contribuir com o acesso dos jovens negros aos cursos superiores. “As cotas têm mudado o perfil das universidades”, o que, na sua concepção, é importante não apenas para os alunos envolvidos, mas para as próprias escolas de ensino superior. “A entrada dos alunos e alunas negros e oriundos das escolas públicas tem trazido para a universidade a possibilidade de entrar em contato com outros espaços, outros problemas que demandam respostas através do conhecimento científico, além da exigência pelos próprios alunos de outras referências bibliográficas”, explicita.

 

Integrante do Coletivo Negro Voz do Morro da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp e estudante do terceiro ano da graduação, Rafaela Franco destaca, na mesma linha, que as ações afirmativas resultam em contribuição trazida por alunos pretos e indígenas de conhecimentos ancestrais, por exemplo, em agricultura, cuja integração ao conhecimento científico tem gerado debate na Feagri.

 

A Lei de Cotas

Aprovada em 2012 como resultado da luta sobretudo do movimento negro e atualizada em 2023, a Lei de Cotas reserva 50% das vagas nas universidades públicas a estudantes oriundos de escolas públicas, com destaque para baixa renda, pretos, pardos, indígenas, quilombolas e deficientes. No Estado de São Paulo, a Unesp saiu na frente e aprovou sistema de cotas em 2013; a USP o fez em 2017, seguida no ano seguinte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

Galindo traz indicativos de que a política de cotas teve efeito: “Dados do Censo da Educação Superior a respeito dos cursos de engenharia revelam que no período de 2010 a 2021 o número de estudantes pretos e pardos aumentou mais de quatro vezes.” Segundo ela, ampliou-se também a quantidade de brancos no período, mas não no mesmo patamar dos negros.

 

A efetividade da adoção das políticas afirmativas é constatada por Anarosa Alves Franco Brandão, professora-doutora do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Poli-USP e coordenadora da CIP: “A proporção de alunos pretos e pardos na Escola Politécnica vem aumentando paulatina, mas consistentemente, ano a ano. Acredito que em menos de cinco anos atingiremos a proporção prevista em lei, similar àquela definida pelo Censo de 2022 para o Estado de São Paulo.” Conforme os dados desse recenseamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretos e pardos no território paulista correspondem a 41% da população – a média nacional é 55,5%.

 

Uma das dificuldades, no entanto, diz respeito à própria autodeclaração sobre raça/etnia. Um exemplo é, de acordo com a coordenadora da CIP, que os dados apresentados na última edição do Anuário Estatístico da USP ainda contêm um número expressivo de alunos que preferiram não declarar a raça. Para avançar na diversidade racial, como informa ela, a partir deste ano os alunos de graduação estão “obrigados a declarar sua raça no ato da matrícula”. Assim, aposta: “Na edição de 2025, já teremos uma visão mais real da proporção de pretos e pardos na USP como um todo e na Poli em particular.”

 

Permanência é desafio

Reconhecer, entretanto, o êxito das cotas, para a coordenadora do Nupe-Unesp, não significa que não há necessidade de continuar trabalhando no sentido dessa inclusão. “O acesso à universidade e aos cursos de maior prestígio é fundamental, mas o passo seguinte e urgente é garantir a permanência dos estudantes nesses cursos”, assevera. Isso passa, segundo ela, por enfrentar a desigualdade socioeconômica, bem como questões ligadas ao currículo dos cursos. Na Unesp, como afirma, para fazer frente a esse desafio, políticas de permanência estudantil preveem auxílios financeiros, “além de moradia e restaurantes universitários em algumas de nossas unidades”.

 

No caso dos cursos de Exatas, Galindo elenca ainda como barreiras “os fantasmas ligados às dificuldades das disciplinas de cálculo, às deficiências do ensino básico e do currículo, além das culturas da própria universidade que, muitas vezes, não colaboram também para que os estudantes negros possam estar ali”. Nesse sentido, considera que as ações de permanência estudantil precisam ser diversas e amplas, “obviamente apoiando os alunos através de auxílios financeiros, mas não só isso. O apoio acadêmico e a reorganização dos cursos são fundamentais”.     

 

Na Poli, Brandão explica que há dois grandes projetos sendo conduzidos pela CIP nesse sentido: um denominado Polis e outro chamado Censo Poli. O primeiro, detalha ela, “propõe ações concretas para promover a inclusão de pessoas de diferentes gêneros, raças e identidades sexuais, buscando criar um ambiente que celebre a pluralidade e garanta igualdade de oportunidades. A ideia é envolver a comunidade politécnica, ampliando sua conscientização e sensibilidade em relação às questões de diversidade através de palestras, mesas de discussão, criação de materiais educativos e participação em eventos institucionais”. Já o Censo Poli, segundo descreve, pretende identificar questões relacionadas à saúde e bem-estar da comunidade politécnica, para embasar a definição de políticas que promovam acolhimento e aumentem a sensação de pertencimento à comunidade.

 

Fazer frente a essas questões é fundamental. “O racismo na engenharia hoje é intrínseco, um racismo estrutural, em que não há xingamentos, mas se exclui a pessoa, evita conversar”, percebe Rafaela Franco. Dizendo que já sofreu essa discriminação, ela explica: “Principalmente na engenharia onde tem diversos grupos [de trabalho] em algumas disciplinas é o racismo mais doloroso, em que você se sente excluído da sociedade.”

 

Leonardo Bispo, estudante do quarto ano de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP e membro do Coletivo Poli Negra, afirma que em sua turma são apenas oito alunos negros, dos quais somente duas mulheres. Ele declara enfrentar cotidianamente os desafios do racismo, como jovem negro, pobre e de periferia, desde a autocobrança de excelência até situações vivenciadas em estudos em grupo. “Por exemplo, quando alguém tem uma dúvida e pergunta para todos, e o aluno negro responde, sua resposta não é creditada como verdadeira ou correta. Existe o pressuposto da inferioridade intelectual, até que outro aluno branco confirme a resposta. Já passei por essa situação algumas vezes, até que decidi parar de estudar em grupos majoritariamente brancos.”

 

Barreiras e acolhimento

O sentimento de exclusão e a necessidade de lutar contra isso estão na origem de coletivos negros nas universidades públicas. É o caso do Voz do Morro, cuja história está diretamente atrelada à adoção do sistema de cotas pela Unicamp, em 2018, surgindo logo na sequência. “Alguns alunos da faculdade acabaram se sentindo justamente excluídos da comunidade acadêmica da Feagri e isso causou alguma indignação, visto que são poucos, mas ainda próximos. A partir disso, esses alunos, que eram três pessoas, decidiram se reunir num banco da praça todo certo dia da semana para poderem conversar e entender os problemas que enfrentavam durante a graduação, os casos de racismo. Muitas vezes se sentiam sozinhos então ali era o momento de compartilhar as suas angústias e até mesmo enfrentar juntos esses problemas”, relata Franco.

 

Esses encontros vão dar origem ao Voz do Morro, o primeiro a ter sede física própria dentro da Unicamp, uma conquista da qual seus integrantes se orgulham e que o tornou referência dentro da universidade. Hoje, na instituição campineira, segundo Franco, são sete os coletivos negros em diversas faculdades e institutos, entre os quais das engenharias de alimentos e civil.

 

Estudante do quarto ano da graduação na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) na Unicamp, Maria Luiza D´Almeida Casaro participa do Coletivo Mandume. Ela relata muitas dificuldades, que vão desde precariedade das moradias universitárias ao desafio para alunos de outras cidades – como ela que cresceu em Guarulhos – de se manter, ao que as bolsas não são suficientes.

 

Isso, como desabafa, afeta o psicológico e prejudica a permanência na faculdade: “Quando você olha ao redor, são pouquíssimas pessoas negras, e elas, como eu, não tiveram o mesmo acesso a uma educação de base. A gente vem direto do ensino médio sem quase nada de matemática e física, e aí é desmotivada, porque não consegue lidar com informações tão complexas. Tem que se esforçar muito e ainda trabalhar para complementar renda. E a moradia é insalubre, tem mofo, é um lugar em que você não consegue estudar, não se sente bem, não é confortável, então são muitos desafios.”

 

Para D´Almeida, é preciso ações de acolhimento às pessoas negras que chegam na faculdade e melhorias na moradia. Além disso, frisa a importância fundamental de elevar a qualidade do ensino público fundamental e médio para que “a gente tenha uma base de exatas e não passe por todas essas dificuldades”.

 

O Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis) da Unicamp, uma espécie de curso preparatório para o ingresso na graduação, busca dar uma resposta a esse problema, mas é limitado. Oferece 120 vagas a partir de notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), como descrito em seu site, a estudantes que cursaram o ensino médio de escolas públicas de Campinas.

 

Diante disso, a aluna da FEA é categórica: “Falta muito investimento, falta muito cuidado e olhar para essas pessoas, porque eu sinto que as pessoas pobres são jogadas, entre aí e boa sorte. Tornar-se engenheiro é realmente um desafio muito, muito difícil. Não somos incentivadas como mulheres negra a estarmos aqui. É importante fortalecer os coletivos porque a permanência se dá por olhar para o lado e ver pelo menos uma pessoa na qual você se reconheça, tenha essa troca.”

 

Rafaela Franco salienta que um espaço de união dos estudantes negros da Unicamp e troca é o Aquilomba Fórum, “onde resolvemos as questões e enfrentamos as dificuldades na universidade, visto que a política de ações afirmativas é importante, mas não é suficiente para garantir a permanência de seus alunos pretos, pardos e indígenas que hoje somam mais de 25% das pessoas da Unicamp [não só da engenharia]”. O Aquilomba Fórum, continua “se tornou o lugar plural em que debatemos pautas importantes para promover a inclusão das nossas vozes e nossas opiniões sobre as ações da universidade relacionadas aos alunos cotistas”.

 

Além dos coletivos, não há outros programas na Unicamp voltados a essa ação, diz a estudante da Feagri. O que existem são os núcleos de Consciência Negra (NCN) e de Consciência Trans (NCT), que “hoje representam as pessoas negras dentro da universidade e também ajudam a instituição a promover alguns eventos, debates e fazem parte de algumas tomadas de decisões dentro dos conselhos da universidade”.

 

Ana Luiza Custódio, estudante do terceiro ano de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP e integrante do Coletivo Poli Negra, dá ênfase à importância desses espaços nas universidades e à necessidade de políticas de permanência e acolhimento. Também oriunda de escola pública e vinda de outra cidade, a pequena Tuiuti, no interior paulista, afirma, “sem hesitar”, que já enfrentou racismo e machismo, “de forma mais sutil no começo, de fato com olhares, com questionamentos realmente se você é capaz, principalmente em laboratórios, atividades práticas”.

 

O coletivo do qual faz parte nasce em meados de 2014-2015 também em meio a esse sentimento de exclusão. “Surge com um grupo de meninas pretas que se reunia para falar sobre negritude e sobre como era ser uma mulher preta na Poli. Posteriormente o grupo foi também se expandindo para homens pretos, pessoas pretas no geral”, apresenta. Segundo a estudante, seu objetivo é integrar e empoderar a comunidade preta na Escola Politécnica, ao que se realizam eventos, como a Semana da Consciência Negra que acontece sempre por ocasião do 20 de novembro, e também “lutar por nossos direitos dentro da Poli, lutar contra o racismo”. Ela vaticina: “O coletivo é muito importante para as pessoas reconhecerem seus iguais, é um lugar onde tem muito acolhimento.”

 

Assim como D´Almeida, ela observa como um dos principais desafios a falta de nivelamento nos estudos em função de a maioria das pessoas pretas serem oriundas de escolas públicas. “Uma política a ser adotada é mudar essa estrutura curricular para que, nos primeiros anos, a gente tenha uma base de cálculo que não teve no ensino médio. Para além disso, garantir mais qualidade desde o ensino básico, permitindo que pessoas que saiam da escola pública entrem nas universidades públicas não defasadas”, sublinha.

 

No mercado de trabalho

Formado pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP e aposentado pela antiga Cesp, seu primeiro e único emprego, o diretor do SEESP Alberto Pereira Luz acredita que ter feito graduação em uma escola conceituada lhe facilitou o acesso ao mercado de trabalho. Tendo atuado em empresa estatal, diz que nunca sentiu exclusão como negro que prejudicasse a progressão na carreira.

 

A despeito disso, ele reconhece que a discriminação racial segue sendo realidade. E enxerga como maior desafio a engenheiros e engenheiras negros terem que demonstrar maior competência e compromisso para acesso a uma carreira de sucesso. Não obstante, vislumbra que a inclusão nos debates do tema da diversidade contribui para diminuir a marginalização, “à medida que se constatam que culturas e experiências diferentes podem enriquecer carreiras profissionais”.

 

A diversidade, complementa, “contribui para uma cultura organizacional inteligente e sadia, típica da filosofia da engenharia, que utiliza do conhecimento científico para planejar e construir da melhor forma”. Na sua visão, as entidades sindicais necessitam, nesse sentido, manter constantemente políticas que garantam tal diversidade, tanto como divulgação em suas mídias quanto em seus acordos coletivos de trabalho.

 

O SEESP ajudou Aristides Galvão, hoje vice-presidente de sua Delegacia Sindical em Piracicaba, a superar obstáculos, que foram muitos. Enfrentando muita discriminação ao se formar no início dos anos 1990 em Engenharia Civil e bastante dificuldade na Prefeitura de Piracicaba, em que foi fiscal de construção civil, ele conta que conheceu o sindicato em 1992-1993 através do atual presidente da subsede em sua cidade, Walter Becari. “Estava se implantando o Promore [Programa de Moradia Econômica] e o SEESP foi peça-chave para que pudesse vencer etapas. Foi muito racismo, muita pedra no caminho.”

 

Aos jovens, Galvão aconselha: “Tem que lutar para vencer as barreiras. É mais complicado, mas tem que enfrentar e não desanimar.” É o que fez o engenheiro civil e de custos Rogério Magela, coordenador do Núcleo Jovem Engenheiro (NJE) do SEESP. “Fui tentando me integrar ao mercado e houve momentos em que percebi um olhar diferente. Uma vez cheguei a uma fábrica e um profissional que me atendeu questionou: ‘você que é o engenheiro orçamentista? Imaginei um senhor branco, barbado, mais velho’. Eu respondi: Se quiser, pode tentar em outra empresa’. Quando terminei de montar o orçamento, ele disse que o surpreendi.” Primeiro jovem a se formar no ensino superior em sua família paterna e na materna o pioneiro na área de exatas, Magela, que hoje é sócio-diretor da RM Engenharia, persistiu: “Aos poucos fui ganhando espaço no mercado.”

 

Essa determinação também é marca da engenheira civil Tamires Pinheiro da Silva, ex-coordenadora do NJE, diretora adjunta do SEESP e conselheira do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP). Tendo começado a trabalhar muito cedo, aos 14 anos de idade, oriunda de escola pública, ela afirma que a maior dificuldade durante a faculdade foi ter que conciliar estudos e trabalho. Já no mercado, como conta, além dos desafios de início de carreira, destaca: “Não posso negar que por ser uma área ainda maioritariamente masculina e elitizada tem suas dificuldades. Ainda existe muito preconceito, mas pouco a pouco as barreiras vão sendo quebradas.”

Pinheiro observa que há muitas pessoas capacitadas que não conseguem ingressar no mercado devido a questões raciais, de classe social e de gênero. “Infelizmente isso muitas vezes está acima da capacidade profissional. Mas não podemos desistir, e sim persistir para que as próximas gerações não tenham que passar por isso.”

 

Como em todas as áreas, os desafios para as mulheres negras na engenharia são sempre maiores. Elas enfrentam taxas mais elevadas de desemprego e a falta de representatividade em cargos de liderança, segundo observa Franco. Algumas iniciativas importantes para fazer frente a isso já se notam no mercado, ainda de acordo com ela: “Dentro de algumas empresas há grupos de apoio às mulheres negras na engenharia, outras têm programas de diversidade que ajudam a promover o acolhimento e a capacitação, ajudando-as e às pessoas negras em geral a serem reconhecidas, vistas e valorizadas.”

 

“A ideia de interseccionalidade nos ajuda a compreender um pouco essa situação. Nas mulheres negras se manifestam de maneira articulada diversos tipos de opressões, em especial as relacionadas ao racismo e ao sexismo de nossa sociedade. No caso da engenharia, assim como da medicina e do direito, chamadas profissões imperiais, paira o status de profissão de destaque para as quais em nossa sociedade sexista e racista as mulheres e os negros não são esperados”, enfatiza a coordenadora do Nupe-Unesp. 

 

A mudança ainda lenta dessa realidade é resultado do racismo estrutural, como ratifica Silva, “cada dia mais velado, portanto, mais difícil de combater”. Para garantir a transformação necessária, Franco propugna como fundamental ensino antirracista desde o ensino básico e médio, que “nada mais é do que uma abordagem educacional que visa desconstruir os preconceitos raciais e promover também a igualdade e inclusão. Esse modelo vai além da presença simples de alunos de diferentes raças que incentivam também a compreensão crítica dessas estruturas e do poder das desigualdades que perpetuam o racismo”.

 

“É uma mudança estrutural muito grande que vai demorar muitos anos para ocorrer, mas que acredito, sendo muito esperançosa, que vai sim ocorrer e a gente vai poder viver num país melhor, menos racista, com mais equidade e igualdade. E é muito bom estar quebrando as estatísticas, não virando mais uma, sempre lembrando que a luta não é por mim, é por todos nós, por todas nós”, conclui Custódio.

 

 

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