Jéssica Silva
A construção civil foi o terceiro setor no ano que mais gerou empregos formais no País, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apurados até o último trimestre, ficando atrás somente dos segmentos serviços e indústria. Com o saldo acumulado de 231.337 novos postos de trabalho, até então 33% a mais do que em 2023, mostra um mercado de trabalho aquecido.
“Isso se deve principalmente ao aumento de investimentos em infraestrutura e ao reaquecimento do setor imobiliário, que tem apresentado sinais claros de retomada. Esses fatores impulsionam uma demanda significativa por profissionais qualificados em diversas frentes da construção civil”, afirma Thais Carrino, gerente de negócios da Robert Half, uma das maiores empresas globais de recrutamento e seleção.
Dentre as profissões que estão em alta, ela lista três que são destaques: o engenheiro civil, com foco em planejamento de projetos e de obras; o gestor de projetos, que atua na coordenação de cronogramas e orçamentos; e o especialista em sustentabilidade. Segundo Carrino, a principal recomendação para quem busca uma vaga de emprego na área é investir em qualificações técnicas e certificações.
Foi exatamente o que a engenheira civil Andrea Lopes fez ao finalizar a graduação, em 2021. “Ter me especializado em gestão de projetos foi de grande relevância quando comecei atuar em obras”, ela conta. Durante os estudos, Lopes procurou já integrar-se ao mundo do trabalho, participando de visitas técnicas, palestras e montando uma rede de contatos profissionais, inclusive, junto ao Núcleo Jovem Engenheiro do SEESP.
“Comecei a colaborar em projetos prestando serviço, de forma autônoma, para empresas e engenheiros. Com a pandemia de Covid-19, no entanto, ficou difícil conseguir uma oportunidade fixa”, ela relata. A porta de entrada para o mercado formal se deu por meio da área ferroviária, como operadora de trem. Dois anos depois, na mesma empresa, Lopes conseguiu migrar para engenharia, área em que trabalha atualmente na fiscalização em implantação de obras rodoviárias.
“Foi onde obtive experiência prática em um setor que jamais havia imaginado atuar, e em diversas áreas de projeto simultaneamente como hidráulica, elétrica, sinalização viária, pavimentação, terraplanagem e estruturas. Tenho a oportunidade de acompanhar obras de grande porte e de grande relevância econômica e social para o estado de São Paulo, e ainda com métodos executivos de construção modernos”, destaca a engenheira.
Ela agora está cursando duas pós-graduações, em Engenharia Geotécnica e Ferroviária, justamente, conforme explana, para estar mais capacitada e preparada para outras oportunidades. “A faculdade é uma base, mas é necessário um desenvolvimento constante, seja em uma especialização, cursos livres, de idiomas ou tecnologia”, ratifica Lopes.
Desafios
A Sondagem da Construção realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) identificou que mais de 70% das empresas abordadas pelo estudo relataram dificuldades em contratar trabalhadores qualificados.
“A falta de mão de obra é generalizada, diante do aquecimento da demanda”, confirma Yorki Oswaldo Estefan, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP). O dirigente avalia que mesmo no próximo ano, em que há perspectiva de elevação da taxa Selic, a demanda por obras de habitação popular e infraestrutura deverá se manter.
Para Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), falta motivação para que as pessoas queiram ingressar nesse mercado. “O engenheiro não quer que o filho dele seja mais engenheiro civil, quer que ele seja advogado, médico. O mestre de obras não quer que o filho seja mestre de obras. O operário aqui, como em qualquer outro lugar do mundo, trabalha com roupas sujas, exposto ao sol, à poeira, produtos químicos; é um trabalho pesado, com riscos, o que pode afastar as pessoas da área. E o salário é baixo”, ele pontua.
De acordo com o portal Vagas.com, a média salarial de um cargo técnico na construção civil é de R$ 2.515,00. Na função de engenheiro, o profissional tem o piso de R$ 7.272,00, estipulado pela Lei 4.950-A/66, e pode variar a até R$ 18.000, segundo a agência Robert Half, dependendo da experiência e da complexidade do projeto.
A engenheira Lopes confirma a sensação de que os salários ficam aquém das atividades exercidas. “As vagas que são remuneradas proporcionalmente à carga de trabalho e responsabilidade ocupadas estão, na maioria das vezes, em empresas que atuam em setores mais valorizados, ou que são de grande porte, e consequentemente são vagas muito disputadas”, expõe.
Nesse sentido, Ramalho reforça o papel da ação sindical: “Precisamos convencer o trabalhador que o mundo do trabalho mudou, que ele precisa ser sócio do seu sindicato para unir forças, para valorizar a profissão”.
Oportunidades
O presidente do Sintracon-SP não descarta a necessidade de educação continuada no setor. “Há muitas coisas que mudaram e se a gente não se qualificar, acaba ficando sem emprego”, ele frisa.
Na análise da coordenadora da área de Gestão de Pessoas e Oportunidades na Engenharia do SEESP, Alexandra Justo, o uso de inteligência artificial, gerenciamento de dados e o BIM são as habilidades técnicas do momento. “São ferramentas aliadas ao planejamento, à redução de custos. A gente observa raramente vagas que citam o conhecimento em Autocad. Isso já foi substituído”, diz a gestora.
“Cursos de BIM, gestão de projetos e sustentabilidade, por exemplo, são diferenciais que ampliam significativamente as chances de inserção e crescimento nesse mercado”, concorda a gerente Carrino.
Justo ainda destaca que muitas empresas buscam engenheiros para implantação e avaliação das práticas de governança ambiental, social e corporativa, o ESG. Desenvolver a liderança, gestão emocional e a comunicação são habilidades comportamentais imprescindíveis.
“O que percebo é que algumas empresas, que são melhores estruturadas, passam a desenvolver as pessoas, são as trilhas de desenvolvimento de carreira, de talentos. Chama muito a atenção o grau de exigência em processos seletivos para trainee, por exemplo, porque chegou a essa necessidade. As empresas estão buscando ali um futuro CEO”, ela diz.
O SEESP pode te ajudar na qualificação para o mercado O sindicato conta com um programa de extensão chamado “SEESP Educação”, que oferece cursos de excelência com foco na atualização e aprimoramento profissional. Dentre as formações está a qualificação em BIM, com preços especiais aos engenheiros associados. Ainda, em parceria com a Associação Paulista de Municípios (APM) e as delegacias sindicais no interior do estado, promove a qualificação dos gestores municipais em BIM no projeto “SEESP Prefeituras”. Saiba mais clicando aqui.
Não perca aquela vaga ideal A área de Oportunidades na Engenharia do SEESP ajuda o engenheiro a ficar de olho no mercado e aproveitar as melhores vagas de emprego, estágio ou trainee, por meio do mural de vagas no site. Mas esse é só um dos serviços que a área disponibiliza para auxiliar o profissional em sua carreira. Há também o Mapa da profissão com diversas informações de legislação e atualizadas sobre o exercício da engenharia; dicas para elaboração de currículo e para processos seletivos; e – exclusivo aos associados ao SEESP – o atendimento personalizado, com acompanhamento aprofundado aos objetivos do profissional. Saiba mais aqui.