Lucélia Barbosa
Segundo o levantamento feito em 2010 pelo MCT (Ministério da Ciência e da Tecnologia), com a colaboração da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), 65% da população brasileira interessa-se por ciência, superando temas populares como esportes (62%) e arte e cultura (59%). O resultado divulgado em janeiro mostrou um salto em relação a 2006, quando o assunto chamava a atenção de 41%.
Intitulada “Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil”, a pesquisa ouviu cerca de 2 mil pessoas, em várias regiões do País. O objetivo foi medir o interesse, grau de informação, atitudes, visões e conhecimento que os brasileiros têm da ciência e tecnologia e, a partir disso, elaborar políticas públicas, conforme informa Ildeu de Castro Moreira, coordenador do estudo e diretor do Depdi (Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia) do MCT.
Entre os fatores que contribuíram para o interesse ter se expandido, Moreira destaca a maior presença no cotidiano das pessoas. “O Brasil teve nos últimos anos crescimento econômico com ascensão social de várias camadas que tiveram mais acesso à informação. Além disso, a mídia passou a divulgar mais as questões da ciência e da tecnologia”, salienta. A atuação dos meios de comunicação quanto à ciência foi avaliada na enquete. Cinquenta e dois por cento dos entrevistados estão satisfeitos com a divulgação feita pela TV dos temas científicos e 46,3% aprovam a cobertura dos jornais. Entretanto, a maior razão para a insatisfação é a pequena quantidade de matérias disponíveis sobre o assunto.
Destaques
Para 83% dos entrevistados, meio ambiente é o tema mais relevante, seguido de medicina e saúde, que atrai a atenção de 81%. Segundo os participantes, as áreas de maior importância para o desenvolvimento do País são medicamentos (32%), agricultura (15%), mudanças climáticas (14,8%), energia solar (14%) e biocombustíveis (6%).
Os brasileiros avaliaram também a posição da ciência nacional em relação a outros países. Ao todo, 49,7% disseram que o segmento está num patamar intermediário.
Na visão de 51%, a pesquisa científica é essencial para o desenvolvimento da indústria. Para 31%, o progresso da ciência brasileira não é maior porque os recursos são insuficientes. Nesse sentido, 68% dos consultados responderam que o governo deve aumentar as inversões na pesquisa científica e tecnológica e 72% acreditam que as empresas privadas brasileiras também deveriam investir mais nessa área.
Outra constatação importante é que 42,3% dos participantes declararam que a ciência traz mais benefícios para a sociedade do que malefícios; 38,9%, que o segmento traz apenas benefícios. Saúde e prevenção de doenças foram o maior ganho citado, somando 26% das respostas. Além disso, para 30% dos entrevistados, o desenvolvimento científico e tecnológico levará a uma diminuição das desigualdades sociais no País.
Desafios
Apesar da compreensão quanto à importância do tema, apenas 8,3% dos consultados visitaram algum museu ou centro de C&T nos últimos anos. “Esse número dobrou com relação a 2006. Existe um movimento grande, mas o índice está muito abaixo da média europeia hoje, em torno de 20%”, comenta Moreira. Entre as razões mencionadas, a principal é a inexistência desses espaços na região de residência, problema apontado por 36,8% dos entrevistados. “Esses dados são importantes porque ajudarão a traçar uma política pública visando criar mais planetários, museus de ciências e observatórios, especialmente nas periferias”, afirma.
Além disso, a grande maioria dos brasileiros tem pouco conhecimento sobre o tema. Das 2.016 pessoas entrevistadas, 81,9% foram incapazes de citar uma instituição científica do Brasil e 87,6% não souberam indicar o nome de um cientista importante.
Para o diretor do MCT, a principal causa desse problema está na educação. “A escola brasileira não discute a ciência. Não existe um livro didático no Brasil que trate o tema adequadamente. A pesquisa mostra um grande desconhecimento sobre a história da ciência e da tecnologia nacional. Temos que somar esforços para mudar esse quadro”, conclui.