Entre os dias 6 e 11 de fevereiro, aconteceu em Dakar, no Senegal, a 11ª edição do Fórum Social Mundial. Tendo estreado em Porto Alegre, em 2001, o encontro continua a ser espaço privilegiado para ecoar as reivindicações dos povos e permitir importantes trocas entre as entidades e movimentos (leia nota na página 8). Realizada pela segunda vez na África – a primeira foi no Quênia, em 2007 –, esta versão do FSM lançou luz sobre as questões do continente, nem sempre visíveis ao restante do mundo. A necessidade de assegurar à região democracia, desenvolvimento e soberania política foi colocada em pauta inclusive pelo ex--presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dividiu a mesa com o presidente senegalês, Abdoulaye Wade.
Na ocasião, defendeu um projeto de aprimoramento da agricultura para assegurar a autossuficiência em produção de alimentos. Tema fundamental e de importância especial para a numerosa delegação brasileira que foi a Dakar foi a diáspora de milhões de africanos levados para as Américas e a escravidão a partir da Ilha de Goré, um entreposto de tráfico humano, hoje patrimônio histórico de dolorosa memória.
Como não poderia deixar de ser, as revoltas que tomaram as ruas da Tunísia e em seguida do Egito tiveram destaque na agenda do FSM 2011. Por um lado, demonstram a possibilidade de uma mudança real, em que pese todas as incertezas sobre o que virá a seguir nesses países após a derrubada dos ditadores Ben Ali e Hosni Mubarak. Por outro, suscitam certa perplexidade pela aparente espontaneidade dessas ações, que não tiveram lideranças claras ou conexão formal com os partidos e movimentos organizados.
Temas distantes para o mundo ocidental, como a disputa pelo Saara ocidental, cujo domínio marroquino é contestado pelo movimento que reivindica a independência do território, ou a luta das mulheres que clamam por paz em Casamance, no sul do Senegal, ganharam a atenção dos ativistas de todo o mundo.
O fórum deu voz ainda às tradicionais lutas sociais, como a das mulheres, dos trabalhadores, dos migrantes, dos povos indígenas, dos sem-terra, daqueles que lutam por educação, saúde e preservação ambiental. Assunto de grande importância, que vem ganhando também corpo no Brasil, foi a mobilização pela democratização da comunicação, a liberdade de expressão e o acesso à informação. O tema, que reúne os ativistas da mídia independente e dos movimentos sociais, ganhou as ruas durante a marcha de abertura e foi objeto de seminários e debates.
Com público estimado de 75 mil participantes de 132 países, de acordo com a organização, o FSM mais uma vez parece ter mostrado sua relevância para as lutas sociais. Está claro que não substitui a ação política das organizações e indivíduos do planeta, mas funciona como um catalisador dessa energia transformadora, renovando esperanças para os que sonham com um mundo melhor para todos.