Lucélia Barbosa
Contribuir para que os preparativos ao mundial de futebol que acontecerá no Brasil deixem um legado positivo às 12 cidades-sedes é a principal meta da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) ao propor a série de debates “Cresce Brasil e a Copa 2014”. A iniciativa que integra o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” teve início em 16 de maio último, com o primeiro evento realizado no auditório do SEESP, na Capital. “Queremos colaborar com propostas factíveis e ajudar para que as obras sejam finalizadas em tempo hábil”, ressaltou Murilo Pinheiro, presidente desse sindicato e da FNE.
Gilmar Tadeu Alves, secretário especial de Articulação para a Copa 2014 da Prefeitura de São Paulo, ressaltou que o órgão pretende garantir que a cidade seja a sede da abertura do evento. Outra meta é a implementação do Centro Internacional de Mídia no Anhembi Parque e a construção de um complexo de exposições em Pirituba para abrigar o Congresso da Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado). Conforme Alves, a cidade também não abriu mão de sediar a Copa das Confederações, que acontece em 2013. O secretário descartou assim as notícias veiculadas pela mídia segundo as quais tanto essa quanto a partida inaugural do mundial estariam fora da Capital paulista em decorrência da indefinição quanto ao estádio. De acordo com ele, junto à arena que deve ser construída no bairro de Itaquera, na zona leste da cidade, estão previstas uma rodoviária e uma Fatec (Faculdade de Tecnologia). Além disso, o Estado e a Prefeitura assinaram um convênio que destinará R$ 480 milhões à construção de um novo anel viário que garantirá acesso rápido ao futuro estádio do Esporte Clube Corinthians.
A previsão otimista foi reforçada por Rodrigo de Carvalho, assessor do ministro do Esporte, Orlando Silva. “Estamos sintonizados com os municípios e estados e perfeitamente dentro do prazo”, afirmou. Segundo ele, serão investidos R$ 1,2 bilhão no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Em Viracopos, em Campinas, serão construídos um módulo operacional e um novo terminal de passageiros, além de outras adequações que somarão R$ 742 milhões. O Porto de Santos também receberá melhorias e serão destinados R$ 119,9 milhões ao alinhamento do cais e à implantação de linhas de acesso.
Mais cético, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS/SP), que preside a Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura Nacional, questionou a posição do governo sobre o andamento das obras. “Se tudo estivesse ocorrendo dentro do prazo, não haveria necessidade de votar a medida provisória que altera os critérios de licitação”, ironizou.
Chance de evoluir
Para Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o evento mundial traz a oportunidade de dar continuidade ao ciclo de desenvolvimento do País, além de um grande salto tecnológico. Essa é justamente a expectativa de Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). Ele acredita que o Brasil pode ser a primeira nação do globo a fazer as transmissões da Copa em ultra-alta definição (qualidade de imagem cinematográfica). “Os jogos mundiais são vitrines das tecnologias de ponta dos países. Esse é um desafio viável para a engenharia nacional, mas temos que começar a trabalhar agora”, recomendou.
Outra necessidade apontada por Zuffo é a expansão da banda larga. Na sua visão, o governo federal deveria fazer uma conexão entre as demandas da Copa e o PNBL (Plano Nacional de Banda Larga). “Os investimentos do programa deveriam ser priorizados nas 12 cidades-sedes. Assim seria possível acelerar o cronograma e garantir que milhões de turistas tenham acesso à banda larga móvel”, sugeriu.
Para cumprir essas metas, Pochmann alerta que o País deverá investir na formação de mão de obra qualificada. “Não há dúvida de que vivemos um momento chave para a recolocação do Brasil no mundo, mas é preciso recuperar o atraso de infraestrutura e capacitar os engenheiros – categoria síntese de todo esse processo de desenvolvimento e avanço tecnológico”, ressaltou.
Falando também da importância da engenharia, Marco Aurélio Cabral Pinto, técnico do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), enfatizou que a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 devem ser utilizadas para transformar as cidades. Na sua ótica, o Brasil tem a oportunidade de repensar o atual processo de urbanização criado a partir do crescimento desordenado e da elevada desigualdade. “Precisamos colocar o País em outra trajetória, e os engenheiros têm grande responsabilidade no redimensionamento dos espaços urbanos”, destacou.
Seguindo o mesmo raciocínio, o vice-presidente de arquitetura do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), Leon Myssior, elegeu o turismo como um dos principais legados que o País pode produzir antes e depois do evento mundial de futebol. Para tanto, ele sugere que as obras de infraestrutura sejam planejadas com harmonia e beleza. “A arquitetura sempre foi a grande indutora do turismo regional e global, seja através de obras sacras e artísticas ou conjuntos arquitetônicos. Esse é o legado que não podemos deixar de ter.”
Myssior criticou o fato de a maior parte dos projetos dos estádios desconsiderar sua inserção urbana e herdar especificações dos europeus. Além disso, as exigências da Fifa são incompatíveis com o modelo brasileiro e podem resultar na inviabilidade econômica das construções.
No último painel, entrou em pauta a questão da mobilidade em São Paulo durante o grande evento esportivo, com a apresentação dos projetos do governo estadual, feita por Ivan Carlos Regina, técnico da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) do Estado de São Paulo, acompanhado do diretor-presidente da companhia, Joaquim Lopes da Silva Júnior. O programa prevê expansão do metrô, que deve chegar a cerca de 100km de linhas até 2014. No total, até o ano da Copa, estão previstos investimentos de R$ 20 bilhões no setor. Algumas das obras incluídas no cronograma são: implantação do Expresso ABC Paulista e do Expresso Aeroporto – ligação Cumbica e centro da cidade; Trem Regional São Paulo-Jundiaí; VLT Guarulhos-ABC Paulista; corredores Guarulhos-Tucuruvi, Noroeste-Campinas, Alphaville-Cajamar, Arujá-Itaquaquecetuba; Sistema Viário de Interesse Metropolitano; e corredor perimetral Leste-Jacu Pêssego, com 41 estações.
O evento contou ainda com a presença de José Maria Marin, vice-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), do deputado estadual Pedro Bigardi (PCdoB/SP), do vereador Jamil Murad (PCdoB/SP), do superintendente do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Amazonas, Afonso Lins, e da vice-presidente da FNE, Fátima Có, que prestigiaram a cerimônia de abertura.
Com a colaboração de Rosângela Ribeiro Gil