Lucélia Barbosa
Responsável pelo tratamento de 33 mil litros de água por segundo e pelo abastecimento de aproximadamente 50% da Região Metropolitana de São Paulo, o Sistema Cantareira da Sabesp, empresa pública paulista, é um dos maiores produtores de recursos hídricos do mundo e é considerado um feito notável de engenharia.
Unindo quatro represas em diferentes níveis, que se interligam por 48km de túneis e canais, supera ainda a barreira física da Serra da Cantareira com a elevatória Santa Inês, que bombeia a água 120 metros acima, até o reservatório de Águas Claras. Os equipamentos da elevatória foram escavados em rochas a 60 metros da superfície. No total, existem quatro unidades de bombeamento com capacidade de 11 mil litros por segundo cada. A energia elétrica necessária para manter a estrutura em operação plena corresponde ao volume consumido por uma cidade de cerca de 280 mil habitantes. Por conta disso, existe no local uma subestação elétrica que gera 138 mil MWh para manter o funcionamento.“A conta mensal de energia da elevatória ultrapassa os R$ 6 milhões”, mencionou Rosa Monaro, do Departamento de Promoções e Eventos da Superintendência de Comunicação da Sabesp.
O Complexo Cantareira é composto por quatro reservatórios. O primeiro fica na cidade de Bragança Paulista, sendo alimentado pelos rios Jacareí e Jaguari, cujas nascentes estão situadas em Minas Gerais. O segundo é abastecido pelo Rio Cachoeira, localizado no município de Piracaia. O terceiro encontra-se em Nazaré Paulista, sendo alimentado pelo Rio Atibainha. Em Mairiporã, é o Rio Juqueri que abastece a quarta barragem, denominada Engenheiro de Paiva Castro. Abriga também a represa de segurança Águas Claras, reservatório intermediário que consegue manter o sistema em funcionamento durante três horas, caso haja um corte de energia impedindo o bombeamento de água pela elevatória Santa Inês. Conhecer esse sistema e entender o processo de captação e tratamento de água foi o objetivo da visita técnica realizada pelo Conselho Tecnológico do SEESP, em 19 de agosto último.
Purificação
Após percorrer o longo trajeto e chegar ao pé da Serra, a água segue para a ETA (Estação de Tratamento) Guaraú. No local, os engenheiros do sindicato conheceram de perto todo o processo de purificação que é dividido em várias etapas. No reservatório inicial, o líquido passa por três válvulas dissipadoras de energia para diminuir a velocidade e segue para a bacia de tranquilização onde começa o tratamento. Chamada de desinfecção, a primeira fase consiste na adição de cloro e outros produtos químicos para destruição de micro-organismos patogênicos capazes de causar doenças. “Como o cloro é utilizado em várias fases do processo, o consumo diário é de aproximadamente dez toneladas”, explicou Monaro.
A segunda etapa de limpeza é a coagulação. Nela é adicionado sulfato de alumínio com o qual se obtém uma mistura rápida para facilitar a agregação das partículas de sujeira. Depois, o líquido segue para o processo de floculação, em que é diminuída a velocidade de mistura da água para provocar a formação de flocos com as partículas de sujeira.
Em seguida, a água passa pelo processo de decantação para separar os flocos formados na etapa anterior. Dessa forma, permite que as impurezas se assentem em local reservado antes que a água seja coletada pelas canaletas dos decantadores. O próximo passo do tratamento é a filtração, processo que permite a remoção das partículas suspensas na água que não foram removidas no decantador. A ETA Guaraú possui 48 filtros constituídos de carvão antracito e areia, além de uma camada suporte formada por pedregulhos em diferentes granulometrias.
O processo continua com a correção final do pH da água, com a colocação de cal para diminuir o ataque de acidez, evitando a corrosão das tubulações. Também é feita uma última adição de cloro para garantir que a água fornecida chegue isenta de bactérias e vírus e acrescentado flúor para a prevenção de cáries. Finalizado o processo, a água é armazenada nos reservatórios de distribuição.
Além de percorrer todas as etapas de purificação, os membros do Conselho Tecnológico puderam ver de perto a lavagem de um filtro. O processo que dura cerca de oito minutos é determinado pelos valores de perda de carga e turbidez da água filtrada. O líquido utilizado na lavagem é reaproveitado para dois tanques, retornando ao início do processo de tratamento. Ainda na ETA Guaraú, os engenheiros passaram pelo Laboratório de Operação Administrativa, responsável pelo controle físico-químico de todas as fases de tratamento da água. Saindo dali, visitaram também a Represa Juqueri