Jéssica Silva
Em teste na cidade de Campinas (SP), nova tecnologia de bilhetagem eletrônica em ônibus apresenta as vantagens de um modelo totalmente conectado. O sistema ABT (Account Based Ticketing) cria uma conta de crédito armazenada em nuvem, ou seja, online, para cada bilhete. No cartão do usuário se encontra apenas um código de identificação (ID), que acessa a conta para debitar o valor da passagem.
“É o mesmo circuito usado nos pedágios rápidos”, explica João Ronco Jr., presidente da Prodata, empresa responsável pelo projeto. Segundo ele, esse tipo de bilhete possibilita benefícios ao usuário como milhagens que geram descontos, além de mais segurança para as empresas gestoras, pois os dados obtidos são em tempo real.
O projeto, funcionando há aproximadamente seis meses, está agora, conforme Ronco Jr., em fase de experimentos com carteiras virtuais. “É só baixar o aplicativo no celular e comprar os créditos. Então você seleciona a passagem e gera um QR Code, que será lido pelo validador”, detalha. E comemora: “Esse é o futuro.”
Em Jundiaí (SP) também está em implantação nos ônibus um sistema semelhante que, ao invés do QR Code, possibilita o pagamento por cartões de crédito ou débito sem contato (contactless). Gerenciado pela empresa de tecnologia e soluções para mobilidade urbana Autopass, criadora do cartão BOM, a modalidade já é usada em serviços de companhias aéreas e bancos, por meio de apps em smartphones ou relógios inteligentes (smart watch). Grace Perez, superintendente de produtos, marketing e digital da companhia, defende que pesquisas de novas tecnologias de bilhetagem são importantes, mas devem ser pautadas pela realidade brasileira. “O público que usa ônibus (no País), em sua maioria, não tem um celular compatível com tecnologia contactless. Cases como o de Jundiaí buscam avaliar o comportamento viável de cada região”, aponta.
Atualmente modelos como BOM ou Bilhete Único utilizam identificação por radiofrequência (Radio Frequency Identification – RFID), via checagem criptográfica. Os validadores transmitem as informações gravadas ao sistema central quando os veículos chegam às garagens, por uma rede wi-fi ou de computadores, de acordo com cada operadora. Apenas com um chip de internet móvel instalado no validador é possível repassar os dados à central em tempo real.
Mesmo offline, tal sistema capta uma grande quantidade de informações, como de usuários por data e hora, linha, tipo de pagamento, frota operacional por empresa, volume de créditos vendidos e utilizados por período, entre outros, conforme relata o chefe do Departamento de Arrecadação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), José Constanzo. A companhia é responsável pelo transporte em média de 2,2 milhões de usuários nas cinco regiões metropolitanas do Estado (São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba/ Litoral Norte e Sorocaba).
Combate às fraudes
O sistema atual de bilhetagem eletrônica é apontado por especialistas como eficaz, mas fraudes são frequentemente noticiadas. Para combatê-las, a São Paulo Transporte S.A (SPTrans), responsável pela viagem de 10 milhões de passageiros por dia, cancelou recentemente o Bilhete Único anônimo. “A partir de agora, todos são vinculados a um CPF, o que coíbe seu aluguel e a possibilidade de o fraudador ter mais de um cartão sob sua posse, com créditos falsos”, comenta o presidente da empresa, Paulo Cézar Shingai.
Ronco Jr. afirma que a tecnologia ABT elimina esse problema. “Ao obter a informação de que dois IDs iguais estão sendo usados ao mesmo tempo, a central pode cancelar os cartões automaticamente”, explica. O ID, se clonado, não gera saldo em outro cartão, pois “ambos remeteriam à mesma conta na nuvem”, outro ponto de segurança destacado pelo engenheiro. Associado ao reconhecimento facial, Perez reforça a ideia de segurança com o validador online: “É possível comparar (a imagem) no exato momento com o cadastro da pessoa, pegando um falso cartão sênior (de idoso), por exemplo.”
Política social
A bilhetagem eletrônica está presente em 86,5% da frota nacional, que tem hoje 107 mil veículos, segundo dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Na visão do superintendente da entidade, Luiz Carlos Mantovani Néspoli, o sistema cumpre finalidades de controle, como de informações sobre usuários e antecipação de receita das operadoras, mas também tem papel social quando atrelado à política tarifária. “O Bilhete Único é um instrumento de inclusão social. Quando ele permite a troca de veículos durante a viagem sem acréscimo tarifário, amplia-se a possibilidade de acesso de pessoas que residem longe, sem nenhum tipo de ônus”, exemplifica.
Para Néspoli, outro benefício é quanto à segurança: “Hoje só 6% das viagens na cidade de São Paulo são pagas em dinheiro. Isso reduz riscos e assaltos.”