João Guilherme Vargas Netto
Durante vários anos e ondas sucessivas, os trabalhadores brasileiros – e seu movimento sindical – sofreram as consequências da globalização da economia (com a reestruturação do sistema produtivo para atender os rentistas), da pior recessão de nossa história e das agressões desencadeadas pela lei trabalhista(inserir link) celerada.
Essa conjugação de poderosos fatores negativos para a organização dos trabalhadores e para sua representação sindical causou estragos incomensuráveis, aumentando o desemprego e a informalidade, derrubando salários, restringindo o acesso à Justiça do Trabalho, diminuindo o número de acordos e convenções coletivas e fazendo cair a taxa de sindicalização de uma rede social com muito menos recursos financeiros.
Tudo isso antes da eleição de Jair Bolsonaro. O novo governo, aplicando na prática o que o candidato propagandeou na campanha eleitoral, agravará ainda mais todos aqueles elementos negativos já existentes e explicitará novos desafios.
A grande estratégia neoliberal em curso tentará isolar o movimento organizado dos trabalhadores da massa dos desempregados, informais, subutilizados, desalentados e desorganizados, com graves agressões à capacidade de representação sindical e à relevância das direções, forçando o abandono de direitos consagrados e da representação coletiva.
Frente a esta situação e para o ano que se avizinha, a estratégia prioritária deve ser a garantia da própria existência ameaçada e o exercício de resistência. Para garantir a existência e exercer a resistência, é preciso cultivar com empenho e inteligência a unidade de ação.
A principal referência para essa unidade é o reforço do vínculo representativo entre as entidades (sobretudo os sindicatos) e a base dos trabalhadores, uma tarefa tão necessária quanto difícil. Para categorias como a dos engenheiros, torna-se imperiosa uma ressindicalização permanente e ativa, com o oferecimento de novos serviços úteis e o fortalecimento das redes de comunicação social entre os profissionais, e deles com as entidades.
Eis, portanto, o tripé ativo para os tempos novos: unidade, existência e resistência. Cada luta, cada etapa dela e de suas implicações e alianças vai merecer das direções responsáveis a atenção, a iniciativa e a criatividade compatíveis com a nossa experiência e história de dificuldades e de superações.
João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical do SEESP