Cid Barbosa Lima Junior
Ontem eu tive um sonho, que virou um pesadelo. Nele, uma certa empresa implantou um programa que limpava as praias do Litoral Sul. Porém, a partir daí, as águas já começaram a ficar turvas, embora a mesma companhia continuasse a alardear inúmeros projetos para melhorar a vida de todos. Criou o programa “Onda legal” no Litoral Norte, que não saiu do papel. Criou o “Córrego Legal” e dizia que deixara 45 córregos limpos, quando em verdade deu conta de apenas dois.
Porém, essa empresa começou a fazer outras estripulias. A chamada para a reunião de diretoria era a sirene de incêndio. Depois de várias correrias por causa dos supostos riscos de fogo, os funcionários acostumaram-se. Já dos cartões corporativos não se fazia alarde, não se prestava contas à população.
A companhia detestava os funcionários, tanto que resolveu dispensar os contratados em nome da Constituição de 1988. Em seguida, voltou atrás. Quis demitir mediante um PDI (Plano de Demissão Incentivada) cerca de 2.500 empregados, mas não conseguiu. Daí, o governador sugeriu que fosse retirado da gaveta um processo contra esses empregados, que adormecia em uma repartição estadual. Também não teve êxito. Os trabalhadores ganharam uma liminar na Justiça.
A companhia entendeu, logo no início, que os funcionários eram todos ignorantes, assim trouxe inúmeros assessores para cargos (obviamente de livre provimento), criados por “absoluta necessidade”. Diante dessa concepção acerca dos empregados, manteve e acelerou a terceirização.
Passaram a existir atos secretos. Eram as DDIs (Deliberações de Diretoria Interina) classificadas como confidenciais, semiconfidenciais (atos secretos, mas que todos sabiam o porquê) e abertas (às quais a patuleia interna podia ter acesso). Quando tudo parecia se acalmar, a empresa resolveu arranhar a Constituição, fixando as metas e objetivos de 2009 para a Participação nos Resultados (os lucros foram cortados anteriormente), sem a participação dos sindicatos.
Insatisfeita ainda com a plebe ignara, resolveu acabar com o plano previdenciário vigente – o maior patrimônio dos funcionários – e criar outro, sem o respaldo dos empregados, fadado a falir no momento do nascimento.
Apesar de nunca aceitar os empregados na direção da fundação previdenciária e de ter o voto de Minerva no Conselho Deliberativo, a empresa entendia que o déficit atuarial por ela criado era responsabilidade do corpo funcional e, portanto, esse deveria pagar metade da conta.
Estava ficando agitado e suando, quando fui acordado por minha esposa, que disse que tudo era um pesadelo. Ainda bem!
Cid Barbosa Lima Junior é engenheiro