Dando continuidade à sua jornada de ciência e tecnologia, o Conselho Tecnológico do SEESP realizou em 16 de junho visita técnica ao LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncroton). Além disso, pôde conhecer de perto o C2Nano (Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes), a ele vinculado, e obter dados sobre o CTBE (Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol), em construção. O complexo está sediado em Campinas, interior paulista, e abrange ainda o CeBiME (Centro de Biologia Molecular Estrutural).
A operação é feita pela ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncroton), para o CNpQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Ministério da Ciência e Tecnologia.
O LNLS é o único do gênero na América Latina e o primeiro instalado no Hemisfério Sul, segundo informações de sua assessoria de comunicação. Coloca o Brasil no seleto grupo de países capazes de produzir luz síncroton – no mundo, há apenas 55 máquinas, sendo seis na Alemanha, que reúne a maior estrutura, de acordo com o líder da área de projetos do LNLS, Regis Terenzi Neuenschwander. Para ele, o grande diferencial desses centros é o modelo de laboratório nacional, em que o uso é gratuito, mediante a contrapartida do pesquisador de que os resultados obtidos nos estudos sejam públicos. O conceito data de 1981, ainda conforme ele. Quatro anos depois, foi feito o primeiro projeto do equipamento de luz e a construção teve início em 1987. Quase 12 anos após sua inauguração – em 22 de novembro de 1997 –, conta com 15 linhas de luz, cujo investimento em cada uma variou entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões, conforme as características, entre elas a extensão. A maior delas tem 25 metros de comprimento e a menor, cerca de oito. No momento, o laboratório está sendo ampliado, inclusive com a construção de uma de ultravioleta que terá em torno de 37m.
Além dessa, a luz síncroton abrange raio X, faixas infravermelha e visível. Conforme a assessoria de imprensa do LNLS, nada mais é do que intensa radiação eletromagnética produzida por elétrons de alta energia injetados num acelerador de partículas. Essa carga é dada às 7h da manhã. Uma hora depois, a corrente atinge seu pico (250 miliampéres) e é liberado o primeiro feixe de luz. O segundo o é às 16h. Esses seguem por uma cavidade de radiofrequência (linha de luz) em cuja ponta é colocada a amostra a ser analisada, em áreas como física, química, biologia, engenharia.
Aplicações
As pesquisas de base possibilitadas, como divulga a assessoria, são “o passo inicial que pode levar ao desenvolvimento de novos materiais de alto desempenho – mais econômicos e menos nocivos ao ambiente – e a conhecimentos sobre materiais biológicos, como as proteínas, que propiciarão mais adiante o surgimento de soluções para problemas de saúde”. Somente em 2008, foram realizadas no LNLS aproximadamente 400, feitas por mais de 1.400 usuários. Dez por cento deles provêm de países como Argentina, Cuba, México.
Entre as aplicações, como explicitou Terenzi, análises de novas ligas, detecção de metais em um determinado ambiente, geração de radiofármacos, estrutura molecular e da cadeia de proteínas, cujo mapeamento pode permitir a cura de doenças, por exemplo. Esse trabalho está sendo desenvolvido complementarmente pelo Cebime. “Depois do genoma, a etapa seguinte é o proteoma. Entender como cada proteína interage com os genes pode culminar num remédio que as bloqueie e seja a cura definitiva para o câncer”, ilustra. Para se ter uma ideia da importância desse trabalho, ele cita como exemplos na história a descoberta do raio x e dos discos rígidos, resultantes respectivamente de estudos de partículas atômicas e de eletromagnetismo.
Outros centros
Importante contribuição à efetivação de pesquisas nanométricas, o C2Nano passará a ser de uso público no segundo semestre deste ano. Até lá, suas potencialidades estão sendo testadas internamente, para que seja possível orientar os usuários na realização de pesquisas. Segundo explicação durante a visita, o prédio requereu investimentos de US$ 5 milhões – somente o microscópio eletrônico japonês de alta resolução custou US$ 2 milhões. O centro é inteiramente preparado levando em conta a sensibilidade do equipamento, para evitar interferências externas – vibrações sonora, mecânica, eletromagnética, térmica –, que poderiam comprometer a análise. As paredes do laboratório são revestidas com espuma chumbo, no piso, um bloco de 60 toneladas e isolantes separam a área em que está o microscópio, o ar-condicionado conta, em sua boca, com uma proteção.
Com investimento de R$ 39 milhões somente na construção, o CTBE – cuja concretagem da segunda laje do prédio que vai abrigá-lo está sendo preparada – também seguirá o conceito de laboratório nacional. Contudo, logicamente, será restrito a pesquisas nas áreas de cana-de-açúcar e etanol. A ser inaugurado ainda neste ano, conforme a pesquisadora e assistente da diretoria, Alexandra Pardo Policastro Natalense, sua instalação visa a solução de gargalos identificados na área, de modo a garantir melhor eficiência e produtividade nesse segmento, bem como inovação tecnológica e, assim, fortalecer a liderança brasileira no setor de agroenergia. “Dentro dos planos desse centro, está o estudo sobre sustentabilidade”, conclui. Poderá, por exemplo, apontar caminhos ao aproveitamento da palha e do bagaço. Para tanto, está em construção uma biorrefinaria virtual, um software com uma série de modelos matemáticos que descreverão cada uma das etapas da cadeia da cana e do etanol.
Soraya Misleh