Deborah Moreira
Para manter a frota de ônibus e vans circulando com segurança pela cidade de São Paulo, as concessionárias realizam manutenção preventiva. Esse mercado apresenta oportunidades de trabalho aos engenheiros, sobretudo em meio a discussões quanto à mecanização das inspeções.
Lei 9.503/1997), normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), resoluções da Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos e do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Além disso, para a emissão de gases poluentes e de ruído, a Resolução 458/2001 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) estabelece que essas atividades precisam ser inspecionadas por engenheiros de diversas áreas ou técnicos capacitados em mecânica.
“A inspeção veicular avalia o estado de manutenção do veículo. Tão importante quanto essa atividade é a execução de planos de manutenção preventiva, que seguem as orientações dos fabricantes. Essas intervenções garantem a segurança operacional do equipamento rodante”, detalha Edilson Reis, diretor do SEESP, que enfatiza a importância de seguir a resolução do Confea, bem como recolher as Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs).
São os profissionais da engenharia que elaboram o check-list das inspeções. Na SPTrans, são 163 itens. De acordo com a empresa, são feitas aproximadamente 80 mil vistorias por ano nos 15 mil ônibus do sistema, o que representa uma média mensal de 6.700 veículos, nas garagens das concessionárias.
“A inspeção periódica é realizada em 100% dos veículos do sistema de transporte público de São Paulo, nas dependências das operadoras, no mínimo uma vez por semestre", conta o engenheiro eletricista e de produção Idário Branco, da Gerência de Inspeção e Auditoria Técnica da companhia, responsável pelo trabalho de 51 técnicos de inspeção, com formação na área de mecânica automobilística ou cursos similares. Nessa modalidade, garante ele, são verificados todos os itens mecânicos, de conservação, acessibilidade, sistema elétrico e estrutura da frota.
Na EMTU, como explica a engenheira civil Alexandra Renata Rodrigues Domingues, chefe do Departamento de Inspeção da Região Metropolitana de São Paulo, são 134 itens verificados no veículo. "De acordo com levantamento que fizemos, esses itens podem ter 931 possibilidades de falhas”, aponta.
Ela conta que todos os técnicos recebem treinamentos periódicos. Atualmente, a empresa possui sete inspetores no período diurno, quando são vistoriados os ônibus fretados no Centro de Inspeção da EMTU, e seis à noite, quando os veículos do sistema regular são verificados nas garagens. Estão divididos em grupos de segurança; sistemas elétricos, carroceria e equipamentos obrigatórios; acessibilidade; e emissão de poluentes.
Toda a inspeção, ainda segundo Domingues, é realizada visualmente, de acordo com o manual da EMTU, cuja última revisão foi realizada em 2019, conforme as legislações pertinentes de transporte. Em 2019, a frota de 5 mil veículos registrou 23.471 inspeções, uma média de 1.950 ao mês. Com a pandemia, o número caiu. Foram efetuadas até outubro deste ano 16.203.
As falhas mais comuns apontadas pelas empresas dizem respeito a vazamento de óleo, limpador de pára-brisa, danos na lataria externa e interna, limpeza dos componentes mecânicos do chassi e iluminação interna e externa. As estatais garantem que caso sejam detectados problemas que colocam o passageiro em risco, o ônibus é lacrado e impedido de circular. Somente com o conserto e uma nova inspeção o carro volta às ruas.
Mecanização
Hoje apenas as inspeções de emissões de poluentes, ruído e material particulado são feitas mecanicamente nas empresas públicas. Todas as demais são realizadas manualmente. O diretor do SEESP defende que, devido à importância na prevenção de acidentes e segurança viária, “a atividade poderia ser modernizada e ser realizada com o uso de estações que simulem a operação real e de equipamentos e instrumentos”.
“Tecnologia existe. É preciso avaliar a viabilidade operacional. Incorporado esse upgrade, a atividade operacional deverá ser de atribuição exclusiva de engenheiro, como o mecânico”, acrescenta Reis, que também é conselheiro da Câmara Especializada em Engenharia Mecânica e Metalúrgica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP).
Sergio Lourenço, professor da Universidade Federal do ABC na área de engenharia, que atuou como coordenador da mesma Câmara Especializada do Crea-SP, explica que o engenheiro deve ter atribuições específicas a esse segmento de atuação. Na sua avaliação, é um mercado de trabalho interessante para os profissionais da categoria, uma vez que cabe ao engenheiro verificar se as condições de segurança e dirigibilidade estão preservadas caso seja necessário realizar qualquer modificação no veículo.
O engenheiro mecânico Marcos Scomparin, que fundou em 1995 o Centro de Avaliação Técnica Automotiva, conhecido por Grupo Cata, lembra que a inspeção de segurança veicular mecanizada está prevista e normatizada pela NBR 14040 de 2017.
Em suas três estações de inspeção, acreditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e licenciadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), no segmento de transporte modificado na cidade, como escolar e táxi, existem equipamentos para verificação de alinhamento, suspensão, freios e outros dispositivos como placas que simulam o carro em movimento. São ainda bastante utilizados os medidores de nível sonoro e de vazamento, estes para veículos modificados para uso de Gás Natural Veicular (GNV).
A atividade realizada pelo Grupo Cata também é regulamentada pelo Departamento de Transporte Público (DTP), da Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito, e pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pelo credenciamento de engenheiro mecânico ou empresa especializada para promover vistoria técnica nos veículos das empresas, que operam nos serviços intermunicipais de transporte coletivo de passageiros. Segundo dados da Artesp, 38 locais como os da Cata estão habilitados em todo o Estado.
Scomparin lembra que desde o final da década de 1990 houve muitas tentativas de se estabelecer uma lei de inspeção periódica, mecanizada por meio de estações fixas ou móveis. No entanto, "o governo acaba voltando atrás”. De acordo com Idário Branco, há estudos para a instalação de linhas mecanizadas, ainda sem data prevista.