José Roberto Cardoso
O financiamento à pesquisa é oriundo de diversas fontes, cada uma com um objetivo distinto, de modo que não podemos avaliá-las sob o mesmo prisma. Aquele que tem como fonte as agências de fomento, por exemplo, contempla investimentos em trabalhos originais, que podem levar à ampliação do conhecimento, sem ter como exigência aumento imediato de riqueza ao País.
Há ainda os recursos que podem ser obtidos junto a fundos internacionais, especialmente se é de interesse global, como é o caso dos estudos que se destinam a melhorar as condições de vida no planeta, combatendo as mudanças climáticas.
As verbas provenientes das indústrias e fundos setoriais são destinadas a trabalhos que buscam a solução de problemas imediatos. Raramente resultam em evolução do conhecimento, mas necessariamente devem estar associadas ao melhor desempenho industrial.
Caso típico dessa categoria são os projetos que contam com suporte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), voltados ao que costumamos chamar de pesquisa aplicada. O órgão regulador tem feito muito boa gestão desse sistema, já que a avaliação para a aceitação das propostas de P&D é rigorosa, o que exige análise criteriosa pela empresa contratante, sob pena de ter que arcar com o investimento sem a utilização dos benefícios econômicos previstos em lei.
Normalmente, trata-se de projetos de aplicação de conhecimentos consagrados, que, em uma combinação criativa, resolvem uma demanda existente. Temos vários exemplos que não geraram artigos científicos, mas que produziram grandes avanços na gestão das empresas do setor elétrico.
Por suas características, o volume desses recursos não sofreu cortes, pois estes estão vinculados a percentual do faturamento das empresas (do setor elétrico, informática etc.). O mesmo não ocorre com os oriundos das agências de fomento, os quais estão sujeitos a decisões governamentais.
Em recente entrevista à Academia Nacional de Engenharia, o professor Álvaro Prata, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), citou reflexos do corte de investimentos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cujo objetivo é fomentar a pós-graduação. Apesar de todo o esforço desse órgão, desde sua criação, há mais de 60 anos, nosso país ainda apresenta um indicador inferior a 1.000 pmh (pesquisadores por milhão de habitantes). Para se ter ideia da fragilidade desse número, a média mundial é 1.400 pmh, enquanto países como Canadá, Portugal e Austrália se aproximam de 4.500 pmh, Japão e Alemanha atingem valores acima 5.500 pmh e, por fim, a Coreia do Sul chega a invejáveis 8.000 pmh – o que remete à recorrente comparação com esse país que, na década de 1980, apresentava indicadores sociais bem semelhantes aos do Brasil e hoje está muito mais avançado.
O volume de recursos destinados ao financiamento à pesquisa é sempre associado ao Produto Interno Bruto (PIB), o que denota a importância que os dirigentes de uma nação atribuem ao seu desenvolvimento tecnológico. Segundo Prata, também nesse quesito, o Brasil vai mal, com investimentos de 1,2%, enquanto China, Canadá e França apresentam 2%, Coreia do Sul, 4%, e Alemanha, 6%.
Importante lembrar ainda que se tivermos aporte mais significativo a P&D, poderemos corrigir distorções que levaram à evasão de talentos para o exterior. Como é possível reter um estudante talentoso, que deseja se dedicar à carreira acadêmica, com R$ 1.500,00 ao mês de bolsa de mestrado ou R$ 2.200,00 para doutorado? Convenhamos, não é um ganho atrativo quando comparado a bolsas internacionais.
Por fim, é fundamental ter em mente que o investimento em pesquisa favorece a interação entre academia e setor produtivo, estimulando o retorno do círculo virtuoso de desenvolvimento que precisamos para readquirir nosso protagonismo tecnológico entre as grandes nações.
José Roberto Cardoso é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP
Imagem interna e do destaque: Freepik / Arte Fábio Souza - Foto José Roberto Cardoso: Beatriz Arruda / Acervo SEESP