Rita Casaro
Aconteceu em 8 de dezembro, num evento online transmitido pelo canal no YouTube e página no Facebook do SEESP, a 36ª edição do Prêmio Personalidade da Tecnologia. Criada em 1987 para celebrar o Dia do Engenheiro, cuja data oficial é 11 de dezembro, a iniciativa homenageia profissionais que se destacaram em suas áreas de atuação. Os premiados neste ano são Guilherme de Oliveira Estrella (Energia), Carlos Afonso Nobre (Mudanças climáticas), Vicente Abate (Reindustrialização), Wilma Regina Barrionuevo (Segurança alimentar); Markus Francke (Transporte sustentável) e Ivani Contini Bramante (Valorização profissional).
As categorias e nomes escolhidos para a edição 2022 “representam as urgências do momento e apontam caminhos para o futuro de avanços socioeconômicos com sustentabilidade e qualidade de vida”, destaca o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro. Com a seleção das áreas, reforça o coordenador do Conselho Tecnológico da entidade, José Roberto Cardoso, “o sindicato emite uma mensagem que está engajado ao processo de atendimento dos Objetivos do Desenvolvimento sustentável (ODS)”.
Para além da sintonia com essa agenda estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) com vistas a 2030, pondera ele, os temas colocados em pauta pela premiação estão na ordem do dia. “As mudanças climáticas são uma urgência que afeta toda a humanidade. A crise energética é um problema do mundo, especialmente com a guerra na Ucrânia. No Brasil, temos 33 milhões de pessoas passando fome”, o que torna a segurança alimentar absolutamente relevante, exemplifica. Cardoso lembra ainda os desafios tecnológicos a serem enfrentados no País em relação ao transporte sustentável, entrando em debate as opções eletrificação, biocombustíveis ou ainda o hidrogênio verde. Por fim, “o sindicato está buscando há anos estimular a retomada do protagonismo industrial, setor que gera os melhores empregos, especialmente para engenheiros”, completa.
“Engenharia, ciência, tecnologia e inovação são instrumentos preciosos para a geração de riqueza com preservação de recursos naturais, proteção ambiental e promoção da igualdade. Os agraciados em 2022 personificam esses ideais na prática e para eles contribuem com seu saber, dedicação e competência”, ressalta Murilo. “São de fato pessoas muito atuantes nesses setores”, atesta Cardoso (saiba mais sobre os premiados abaixo).
Ele conta que o processo para chegar a esse grupo seleto teve início há cerca de seis meses, com uma consulta aos 250 integrantes do Conselho Tecnológico que foram convidados a sugerir as categorias a serem agraciadas neste ano, das quais foram selecionadas cinco pelo comitê gestor, grupo de 40 pessoas que constituem a comissão julgadora do prêmio a cada ano. O próximo passo foi solicitar as propostas de nomes nos respectivos setores e, mais uma vez, fazer o “pente fino” para chegar aos laureados.
Não entra nessa dinâmica “Valorização profissional”, que é permanente e sempre definida pela Diretoria Executiva do SEESP. “A doutora Ivani, homenageada na categoria neste ano, é um exemplo de brilhantismo intelectual, competência, dedicação e compromisso com a aplicação correta da Justiça do Trabalho”, afirma Murilo.
Conheça os homenageados
Energia
Guilherme de Oliveira Estrella
Geólogo, graduado em 1964 pela Escola Nacional de Geologia, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1965, foi contratado pela Petrobras, empresa à qual dedicou toda a sua carreira profissional e onde exerceu cargos de liderança nas áreas de exploração e produção de petróleo. Desempenhou ainda papel decisivo na consolidação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes) como órgão de excelência reconhecido internacionalmente.
Concretizou grandes descobertas científicas na área da Geologia do Petróleo. Dentre essas, destacam-se as reservas de óleo e gás natural localizadas na camada do pré-sal, nas bacias de Campos (RJ) e Santos (SP). Publicou trabalhos considerados clássicos, entre os quais “O estágio rift nas bacias marginais do leste brasileiro”, referência obrigatória sobre o tema. Recebeu título de Doutor Honoris Causa das universidades do Porto (Portugal) e Federal de Ouro Preto (Minas Gerais, Brasil). É membro da Academia Nacional de Engenharia desde 2016.
Mudanças climáticas
Carlos Afonso Nobre
Engenheiro eletrônico graduado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em 1974, com doutorado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1983, é um dos mais renomados climatologistas do País. Atuou nos institutos de pesquisas da Amazônia (Inpa) e Espaciais (Inpe), tendo sido conselheiro científico do Panel on Global Sustainability da Organização das Nações Unidas (ONU). É membro de diversas academias científicas e participou de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), inclusive da edição agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais.
É pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA). É o proponente do Projeto Amazônia 4.0, que busca demonstrar a viabilidade de uma nova bioeconomia de floresta em pé e rios fluindo para a Amazônia, integrando ciência, tecnologia e inovação aos conhecimentos de povos indígenas e comunidades locais.
Reindustrialização
Vicente Abate
Engenheiro metalurgista formado pela Escola de Engenharia Mauá, é pós-graduado em Tratamento Termomecânico de Metais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) e possui MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e Babson College (EUA).
Consultor das empresas Greenbrier Maxion e Amsted-Maxion, preside a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). Exerce ainda a Vice-presidência da Associação Brasileira de Fundição/Sindicato da Indústria da Fundição no Estado de São Paulo (Abifa/Sifesp), da Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção (Abendi), do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre) e do Departamento da Indústria da Construção e Mineração da Fiesp (Dconcic).
Integra o conselho de inúmeras instituições, como Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (NPTrilhos) e Fórum Nacional da Indústria.
Segurança alimentar
Wilma Regina Barrionuevo
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina e em Gestão de Tecnologia da Informação pela Universidade Paulista, tem mestrado e doutorado em Ecologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pela Universidade de Nevada (EUA). Tem ainda três pós-doutorados pela USP nas áreas de Engenharia Ambiental, de Química e Física Computacional. Desenvolveu o projeto sobre automação de hortas verticais com uso de LED, visando a produção de hortaliças, leguminosas e ervas medicinais com a utilização de energia limpa. O objetivo é evitar o uso de pesticidas, de modo a proporcionar melhor qualidade de vida e segurança alimentar em classes sociais diversas, em todas as regiões brasileiras.
Atua no Instituto de Física de São Carlos da USP, sendo coordenadora de Difusão Científica do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF), por meio do qual capacita professores e estudantes de escolas públicas e participa da formação de centenas de clubes de ciências. É autora e coautora de obras nas áreas de ciências e saúde e também de inovação empresarial. Recebeu premiações como cientista emérita nas áreas de Tecnologia, Inovação e Educação.
Transporte sustentável
Markus Francke
Diretor do projeto H2Brasil na GIZ, é PhD em Biologia Agrícola e tem mais de 30 anos de experiência de trabalho gerenciando projetos internacionais, sempre com foco em aspectos ambientais e de combate às mudanças climáticas, como economia circular, tratamento de resíduos e eficiência energética.
Durante sua carreira profissional, passou por muitas posições internacionais, entre as quais gerente de uma empresa alemã para o desenvolvimento de novos projetos de proteção ambiental na América Latina, China, Vietnã e Indonésia. Foi ainda vice-presidente de uma companhia chinesa, em Beijing, focada em meio ambiente e energia, gerente de uma equipe de projeto da empresa de consultoria GFA na Indonésia, além de gerente do programa de energia da GIZ em Uganda.
Valorização profissional
Ivani Contini Bramante
Desembargadora desde 2005 no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, onde compõe a 4ª Turma e a Seção de Dissídios Coletivos. Na mesma Corte, é membro originário do Comitê do Trabalho Decente e Seguro e autora do projeto que define ações institucionais voltadas à erradicação do trabalho em condições análogas à escravidão e à proteção de crianças e adolescentes. Graduada pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo em 1988, concluiu o doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) em 2004 e é especialista em Relações Coletivas Comparada pela Organização Internacional do Trabalho (Torino, Itália). É professora titular da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, além de docente convidada do Instituto Jus Gentium Conimbrigae Núcleo de Direitos Humanos da Universidade de Coimbra.
Foi procuradora do Município de Santo André (1989-1993), juíza do Trabalho do TRT da 15ª Região (outubro a dezembro de 1993) e procuradora Regional do Trabalho (1993-2005). Pertence à Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (ABDSS) e ao Instituto de Pesquisa e Estudos de Direito da Seguridade Social (Ipedis).
Matéria publicada originalmente 1º/12/2022 e atualizada em 9/12/2022.
Imagem no destaque: Arte - Eliel Almeida / Fotos dos premiados: Acervos pessoais