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Uma tragédia grega que poderia ser evitada

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Peter Alouche

 

Para analisar a tragédia de trens na Grécia, no dia 1º. de março último, é preciso lembrar que os trens, antes do acidente, circulavam, na mesma linha, por vários quilômetros, sem nenhum problema. A linha férrea liga as duas maiores cidades gregas, Atenas e Tessalônica, no Norte. De repente, há uma colisão de trens frontal, causando a morte de pelo menos 57 pessoas, muitos jovens estudantes. Uma tragédia humana sem precedentes na Grécia.

 

O mundo técnico e a população atingida querem entender por que um trem com 342 passageiros e dez ferroviários foi autorizado a usar a mesma via única de um trem de carga.

 

O chefe da estação reconheceu que cometeu um erro de manobra dos aparelhos de mudança de via. Erro humano do operador que vai ser, certamente, o bode expiatório desse acidente, livrando assim as poderosas empresas de sua real culpa.

 

Para explicar essa tragédia, é necessário destacar alguns fatores determinantes para que o acidente acontecesse. Em relação à empresa estatal grega de ferrovias, a Hellenic Train Company, é preciso admitir que é inconcebível uma circulação de trens, de passageiros e de carga, em sentidos opostos, numa única via de circulação. É inadmissível. O pior é que na linha não havia um sistema de sinalização automática que garantisse a segurança de circulação dos trens. Um absurdo absoluto.

 

A empresa se defende alegando que a gestão, a manutenção e a modernização da rede eram de responsabilidade da estatal italiana OSE. De fato, a Hellenic Train Company pertence à companhia estatal italiana Ferrovie dello Stato Italiane (FS), que teria como compromissos de contrato efetuar investimentos nas ferrovias gregas, para assegurar sua modernização, expansão e segurança. Mas não o fez.

 

Por outro lado, os trabalhadores do serviço ferroviário na Grécia afirmam que a má gestão de sucessivas administrações contribuiu para a tragédia. De acordo com o sindicato local, cerca de 750 trabalhadores estão hoje empregados no setor, número bem abaixo das 2.100 pessoas que deveriam estar atuando para que o sistema operasse de forma eficaz, seguindo um plano aprovado pelo Estado.

 

Quais são as lições que poderíamos tirar de uma tragédia ferroviária tão desastrosa?

 

A primeira, certamente a mais importante, é que não se pode circular numa via com trens, principalmente de passageiros, sem uma proteção de segurança provida de um sistema de sinalização automático. Também não se pode admitir que trens de passageiros e de carga circulem numa mesma via, ao mesmo tempo.

 

Enfim, numa concessão de serviço ferroviário, é preciso exigir que a concessionária cumpra, de fato, com seus compromissos de investimentos e segurança. Isso o Brasil tem adotado e cumprido. Aleluia!

 

Peter Alouche é engenheiro eletricista formado pela Universidade Mackenzie, mestre em Sistemas de Potência pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou por 35 anos no Metrô-SP, sendo assessor técnico da Presidência para Projetos Estratégicos, representante da companhia na Associação Internacional do Transporte Público (UITP) e na Comunidade de Metrôs (CoMET). Foi professor titular de linhas de transmissão na Escola de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e no Mackenzie. Hoje é consultor de transportes na área de tecnologia

 

 

Imagem no destaque: Arte - Eliel Almeida / Foto Peter Alouche: Divulgação Portal Aeamesp

 

 

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