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Fortalecimento do diálogo e boas perspectivas nas negociações coletivas

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Soraya Misleh

 

Representantes das empresas e entidades patronais, além de especialistas que realizaram análise de conjuntura, durante seminário que abre negociações coletivas. No púlpito, Murilo Pinheiro.

Realizado pelo SEESP em sua sede, na Capital, no dia 27 de abril último, o tradicional Seminário sobre Campanhas Salariais visa sedimentar o caminho a negociações coletivas exitosas, cuja importância foi ressaltada ao longo do evento não apenas aos trabalhadores diretamente alcançados, mas com impactos positivos a todo o seu entorno e sociedade em geral. Nessa direção, em sua 22ª edição, a iniciativa indicou boas perspectivas a partir do fortalecimento do diálogo.

 

Essa ótica foi predominante tanto entre especialistas que promoveram análise da conjuntura quanto entre representantes das empresas e entidades patronais onde atuam os engenheiros que estiveram presentes.

 

À abertura, Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, enfatizou que nesse processo de negociações coletivas a busca é por ganha-ganha, tendo a premissa básica de que “a saúde do engenheiro é a saúde da empresa”, e vice-versa. Conforme ele, essa é a linha adotada pelos diretores do sindicato no processo de interlocução com as companhias, “um caminho bom para todo mundo, ao lado dos profissionais e, na verdade, do povo, porque engenharia está presente em tudo”.

 

Murilo apresentou a importância fundamental de se assegurar um SEESP cada vez mais forte em sua tarefa precípua: “Negociamos com várias empresas do Estado de São Paulo. Temos 66 mil associados, 350 mil representados, 450 diretores e em torno de 100 negociadores.” Aproximadamente 100 mil profissionais são beneficiados com acordos e convenções coletivas alcançados pelo sindicato.

 

 

Convivência e esperança

A participação da entidade no relacionamento com as empresas do Estado, “de maneira estável e duradoura”, é simbolizada pelos 22 anos de realização do Seminário sobre Campanhas Salariais, na opinião do cientista político e sindical João Guilherme Vargas Netto. Ele frisou: “É parte da tradição e da história do SEESP, assim como o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” [iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) com a adesão do sindicato paulista que apresenta propostas factíveis à retomada do desenvolvimento nacional com inclusão social].”

 

JG seminário campanhasJoão Guilherme Vargas Netto: convivência como ideia nova no Brasil. Na sua visão, a marca do encontro deste ano é a convivência como “uma ideia nova no Brasil”, pautada na valorização e possibilidade do diálogo. Para Vargas Netto, sintetizam esse pensamento iniciativas que revelam que o movimento sindical vem retomando a interlocução com o Executivo Federal e seu protagonismo nas discussões sobre temas cruciais ao mundo do trabalho e à sociedade como um todo. Citou, nesse contexto, a participação de seus representantes em encontros internacionais e reunião chamada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também no dia 27 de abril, com as centrais sindicais para discutir o 1º. de Maio – Dia do Trabalhador –, quando a expectativa é que sejam anunciadas algumas medidas, como a retomada da política de valorização do salário mínimo. “Essa situação quadriplica nossa responsabilidade [do SEESP e demais sindicatos]. É uma mudança na conjuntura pela convivência, não abolição de interesses, pontos de vista e idiossincrasias”, pontuou.

 

João Franzin: melhores resultados nos acordos e convenções de 2023.João Franzin, jornalista e diretor da Agência Sindical, agregou outro elemento como novidade nas campanhas salariais deste ano: a esperança.

 

Ele apresentou levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre negociações coletivas como embasamento para tanto: em março de 2022, 45,3% dos acordos e convenções não conseguiram sequer repor a inflação; já no mesmo período de 2023, foram apenas 4,5%. Quanto àqueles que garantiram ao menos reposição da inflação, foram 38,3% no ano passado, ante 21,4% agora. E os que conquistaram ganho real saíram de 18,4% em 2022 para 74,1% em março último. “É uma mudança concreta e efetiva na vida de milhões e milhões de brasileiros”, comemorou. Além disso, informou que há resultados alvissareiros por exemplo no incremento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

 

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultor do “Cresce Brasil”, destacou: “Acredito nos sindicatos, nos conselhos profissionais, nas entidades representativas da sociedade. Exercem papel crucial.”

 

Reindustrialização e oportunidades

Ao encontro de Franzin e Vargas Netto, vislumbra que “o Brasil está voltando a ser dono de seu próprio destino e recuperando a capacidade de interlocução com todos”. Lacerda, que participou do grupo de transição ao novo governo na discussão sobre economia, enxerga condições de se reverter o processo de desindustrialização do País e avançar na nova industrialização. “Nesse sentido, o programa do governo dialoga com o ‘Cresce Brasil’”, observou. Em sua última edição, intitulada “Hora de avançar – Propostas para uma nação soberana, próspera e com justiça social”, nota técnica de autoria do engenheiro Carlos Monte, coordenador do projeto, apresenta as contribuições da FNE e do SEESP para tanto.

 

Antônio Corrêa de Lacerda: condições de reverter desindustrialização.No âmbito da nova industrialização a partir da necessidade de transição energética e economia verde, além da transição digital em curso, como lembrou Lacerda, o País tem “vantagens competitivas fantásticas, especialmente na área de biodiversidade”. “Há grandes desafios a serem enfrentados, como a taxa de juros absurdamente elevada e as questões fiscal e tributária”, nesse caminho da política industrial voltar à pauta. Mas, assevera, “as oportunidades estão dadas, e certamente isso representará uma nova realidade” – em particular aos engenheiros, em face da demanda por desenvolvimento tecnológico. A valorização profissional, bandeira prioritária do SEESP, ganha ainda mais relevância em tal conjuntura.

 

Abertura ao diálogo

Nesse cenário, os representantes de empresas e entidades patronais com que o sindicato negocia sinalizaram a abertura ao diálogo. Cristina Auxiliadora Rodrigues, relações trabalhistas da Embraer S.A., empresa que reúne em seu quadro de pessoal 3 mil engenheiros, salientou que o SEESP “é muito importante no dia a dia, por sua capacidade de resolver os problemas. Temos uma relação muito boa e vimos firmando acordos coletivos sobre vários assuntos. Esperamos continuar com a parceria de sempre”.

 

Márcio Afonso, gerente de relações trabalhistas e sindicais da Telefônica/Vivo, elogiou o respeito nas negociações expresso pelo sindicato e garantiu: “Vamos dialogar para encontrar alternativas, como sempre fizemos, construindo acordos bons para os engenheiros e a empresa.”

 

Na mesma linha, Ana Cristina Russo Nascimento, gerente de recursos humanos da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), foi categórica: “Fortalecer as relações do trabalho é muito importante para nós. Convivência é ideia perseguida e alcançada na empresa.” Ela anunciou a assinatura de mais um Acordo Coletivo de Trabalho com o SEESP, “construído por meio do respeito que temos”. O resultado foi ganho real aos engenheiros, como fez questão de informar João Carlos Gonçalves Bibbo, vice-presidente do sindicato e seu negociador junto à companhia.

 

 

Na plateia, dirigentes e negociadores do SEESP que têm assegurado conquistas à categoria.William Di Mase Szimkowski, advogado do Departamento Sindical da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também sublinhou: “Estamos sempre abertos ao diálogo e à boa convivência, conseguindo fechar convenções nas negociações coletivas. Espero que este ano isso aconteça novamente.”

 

Já Luiz Brasil Dias Runha, gerente de desenvolvimento organizacional e recursos humanos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), foi categórico: “Se não fossem os engenheiros unidos ao chão de fábrica, não teríamos uma empresa com todos os índices de excelência”. Com 81% de aprovação de seus serviços pelos usuários, segundo ele, a estatal que transporta 1,5 milhão de passageiros/dia conta 6 mil funcionários, dos quais 253 profissionais da categoria. “São 24 mil pessoas que dependem dos aumentos salariais e negociações [no padrão médio de uma família com quatro membros]”, ressaltou.

 

A CPTM e o SEESP, como informou Runha, também acabaram de firmar Acordo Coletivo de Trabalho, com reajuste de 6,7%: “Devemos muito ao sindicato, juntamente com os outros três [que representam os trabalhadores da empresa], para chegar a esse resultado, com equilíbrio e bom senso.”

 

Na mesma direção, Edson Araújo Barreto Júnior, gerente executivo do Sindicato das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), disse que a entidade patronal representa 30 mil empresas. “Muitas famílias dependem desses acordos. Que as reuniões transcorram com boas negociações para fechar convenção de modo que os principais interessados sejam beneficiados, em breve período de tempo”, almejou.

 

Ele indicou – assim como outros representantes de empresas –que há preocupação com valorização do jovem profissional e das mulheres. A importância dos dois pontos foi levantada por Marcellie Dessimoni, coordenadora-geral do Núcleo Jovem Engenheiro do SEESP.

 

Pela São Paulo Transporte (SPTrans), o diretor de representação dos empregados, Claudio Bispo, ponderou que há algumas dificuldades para as negociações, por se tratar de empresa pública, já que definições de índices de reajuste, por exemplo, passam pela aprovação de órgãos como a Junta Orçamentário-Financeira (JOF). “Vamos quebrar o protocolo e criar novos encaminhamentos junto ao Ministério do Trabalho e Emprego.”

 

Na sua ótica, ainda, é necessário construir possibilidade de ascensão profissional. “Se a empresa não estiver forte, o trabalhador vai enfraquecer. Vamos construir uma força-tarefa. O sindicato tem condições de nos ajudar”, concluiu.

 

Por fim, Edson Gonçalves Franco, diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Sistema de Operação, Sinalização, Fiscalização Manutenção e Planejamento Viário e Urbano do Estado de São Paulo (SindViários) – entidade parceira do SEESP nas negociações com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) –, enfatizou o poder de representação dessas entidades rumo a resultados positivos nas campanhas salariais.

 

Murilo finalizou: “Contem conosco. Vamos fazer deste um estado cada vez mais justo e um país melhor, com mais oportunidades. Isso depende de negociações, conversa e, sem dúvida, vontade. O sindicato está pensando na sociedade, no crescimento, desenvolvimento e qualidade de vida.”

 

Confira o XXII Seminário sobre Campanhas Salariais na íntegra:

 

 

 

 

Fotos da capa e internas: Beatriz Arruda / Artes: Eliel Almeida (capa) e Fábio Souza (quadro das campanhas salariais)

 

 

 

 

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