Jéssica Silva
Pela primeira vez a Universidade de São Paulo (USP) está entre as 100 melhores universidades do mundo, conforme avaliação da consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS), o QS World University Rankings 2024, um dos principais rankings universitários internacionais. O feito marca também a aparição inédita de uma instituição brasileira entre as 100 primeiras.
Nesta edição, divulgada em junho último, a USP conquistou o 85º lugar – uma evolução de 30 posições em relação ao ranking anterior, em que ficou em 115º. Antes disso, em 2022, a universidade paulista havia aparecido entre as 100 melhores pelo World Reputation Ranking, elaborado pela também britânica Times Higher Education (THE), que considera a opinião de 29 mil pesquisadores e acadêmicos. Já na classificação da QS diversos indicadores são avaliados, como reputação acadêmica e entre os empregadores, citações científicas, além de sustentabilidade, empregabilidade e rede internacional de pesquisa.
“Se comparada ao primeiro lugar do ranking, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla original em inglês de Massachusetts Institute of Technology), a USP fez muito mais com muito menos”, afirma José Roberto Cardoso, coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e professor de sua Escola Politécnica (Poli-USP).
Em 2022, o MIT teve orçamento de US$ 4,2 bilhões, ou seja, R$ 21 bilhões, e formou 4.700 alunos de graduação e 7.200 de pós-graduação. Enquanto a USP, no mesmo ano, com o aporte de R$ 7,5 bilhões – chegando a, no máximo, R$ 9 bilhões com os valores de agências de fomento, segundo Cardoso –, formou 90 mil discentes.
Com excelência reconhecida, a instituição ganha ainda mais visibilidade e prestígio internacional. “O primeiro impacto que vai causar é no interesse dos alunos, até mesmo de outros países, que se baseiam nesses rankings quando pesquisam onde estudar. Isso também vai ajudar a universidade a captar mais recursos e financiamento para pesquisas no exterior. E vão surgir mais convites a congressos, palestras, encontros globais”, lista Cardoso.
Na sua avaliação, os benefícios podem refletir em toda a comunidade acadêmica brasileira. “O que a USP faz pode ser replicado em todas as universidades”, atesta o professor. Ele relembra que em sua passagem pela diretoria da Poli-USP, de 2010 a 2014, foi feita uma mudança na estrutura curricular dos cursos de engenharia. “E hoje é adotada em diversas outras escolas”, afirma.
“Essas classificações são apenas um efeito, não uma finalidade. De toda forma, esse efeito é sempre bem-vindo e reforça a convicção de que estamos no caminho certo”, declarou o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, em artigo institucional publicado em julho. Ele frisa que a política de diversidade e inclusão, adotada pela universidade desde 2017, e prioritária em sua gestão, fez com que o desempenho da USP crescesse. Segundo a instituição, em 2023, 54% dos ingressantes na graduação vieram de escolas públicas e quase 20% destes são do grupo de pretos, pardos e indígenas (PPI). Para dar suporte a esse contingente, foram investidos R$ 290 milhões na expansão de moradias estudantis, transporte, alimentação e auxílios financeiros aos estudantes.
“A diversidade trazida pela adoção das cotas sociais e étnico-raciais está tornando nossa universidade ainda melhor. Ao contrário do que alguns imaginam, as cotas contribuíram decisivamente para reforçar a excelência. Com mais diversidade, o ambiente acadêmico se torna mais criativo, mais plural, mais vivo”, ratificou Carlotti Junior em seu texto.
Engenharia de ponta
Na classificação por áreas da QS World University Rankings, a USP também teve destaque, ficando entre as 50 melhores do mundo em 12 cursos, sendo três deles de engenharia: 24ª posição em Engenharia de Petróleo, 30ª em Engenharia de Minas e 45ª em Engenharia Civil e de Estruturas.
De Petróleo, em especial, é uma grande conquista, por se tratar de um curso reformulado recentemente, conforme ressalta Cardoso. “Foi criado em 2002, em São Paulo, e os nove primeiros anos não foram fáceis, em função da escassez de professores experientes no setor”, conta Laurindo de Salles Leal Filho, professor titular do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli-USP.
Em 2011 a universidade transferiu o curso para Santos, mais próximo às atividades extrativas do pré-sal. “A iniciativa trouxe oportunidades para a contratação de jovens e talentosos professores, aliada aos projetos de P&D financiados pela Petrobras e ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis] que impulsionaram o curso”, diz Leal.
“Com o gás dos jovens professores e conhecimento dos veteranos, a reformulação atraiu recursos de pesquisa de empresas de petróleo do exterior. Atualmente, a equipe é de fato líder no assunto, com inserções e participações em projetos internacionais”, relata Cardoso.
O curso, que tinha uma média de dez alunos, tem atualmente 40 vagas para ingressantes. A expectativa, segundo Leal, é de que sejam ainda mais impulsionados, a partir do ranking, os programas de pós-graduação em Engenharia Mineral e de Petróleo. O professor credita o bom desempenho à cultura cultivada no ensino de engenharia da universidade, do saber aplicado à solução de problemas práticos, “onde professores e alunos se encontram sintonizados com os desafios e necessidades da indústria”.
No caso das especializações, a atenção dos professores e a oportunidade de estágio em laboratórios situados na vanguarda tecnológica são destacadas por Leal como diferenciais. “Nossos cursos vêm sendo muito bem posicionados já faz alguns anos. Tal tendência nos sinaliza que estamos no caminho certo, que adotamos uma cultura organizacional que traz resultados”, avalia.
Não obstante, a educação de qualidade deve ser alinhada a uma indústria pujante, para que os benefícios de todo esse trabalho da instituição reflitam no crescimento e desenvolvimento do País. É o que considera Leal: “A engenharia nacional precisa de bem mais do que jovens engenheiros bem formados; precisa de uma economia em franca expansão, em que as empresas demandam e geram produtos, insumos ou serviços de alto valor agregado.”