Murilo Pinheiro – Presidente
A esmagadora maioria dos mais de 200 milhões de habitantes do País – cerca de 85% – vive em áreas urbanas, enfrentando lamentavelmente as mais diversas dificuldades. Entre essas, problemas de infraestrutura, envolvendo saneamento básico não universalizado, coleta e destinação inadequadas de resíduos, enchentes, falta de arborização e falha nas podas, perigosos emaranhados de cabos em postes, ruas, avenidas, calçadas, pontes e viadutos danificados. Há ainda a escassez de equipamentos de esporte, lazer e cultura, além da insegurança pública que aflige a todos, sem falar na insuficiência dos sistemas de saúde e educação públicas.
Às questões corriqueiras, agora somam-se dramaticamente os efeitos devastadores dos eventos extremos, cada vez mais intensos e frequentes, provocados pela crise climática marcada pelo aquecimento global.
O exemplo recente e estarrecedor é o Rio Grande do Sul, onde centenas de municípios sofreram impacto monumental das chuvas sem precedentes que caíram sobre o estado, causando alagamentos de proporções nunca vistas. O saldo trágico foram centenas de mortos e feridos, milhares de desabrigados e um cenário de destruição assustador.
Um episódio dessa proporção, que infelizmente não pode ser encarado como acontecimento isolado, precisa servir de alerta e divisor de águas na forma como o Brasil de um modo geral tem lidado com a demanda urgente tanto por mitigação das emissões de poluentes quanto por adaptação das cidades à nova realidade. Não é mais possível procrastinar; planejar e executar com competência e eficácia estão na ordem no dia e não podem ser adiados.
O cenário exige consciência de todos e real responsabilidade e compromisso público por parte de governantes e parlamentares. Os recursos precisam ser destinados a estudos, obras e projetos tecnicamente embasados, com extrema seriedade. A política terá de ser feita com objetivo de obter resultados que sirvam ao bem-estar da população, ao desenvolvimento sustentável e à preservação ambiental.
Com o intuito de contribuir para que o País rume nessa direção, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) lança, no dia 15 de julho, em evento na sede do SEESP, mais uma etapa do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, sob o mote “Cidades inteligentes – Garantir qualidade de vida à população”.
O debate proposto a partir de notas técnicas de especialistas e discussões com profissionais segue a premissa segundo a qual cidade inteligente é aquela que funciona de forma adequada, assegurando bem-estar aos seus habitantes, e não só a que lança mão de recursos de tecnologia da informação em sua gestão, embora esses sejam essenciais.
Como já é tradição da iniciativa, a publicação, editada em ano de eleições municipais, será entregue aos candidatos em todo o Brasil como contribuição à melhoria da infraestrutura urbana, juntamente com a imprescindível instituição de política de manutenção, conservação e preparo aos desafios contemporâneos, tendo por princípio absoluto a sustentabilidade.
O papel da engenharia nessa empreitada é fundamental e, por isso mesmo, a publicação contempla a preocupação quanto à formação, qualificação e valorização dos seus profissionais. Esses devem ser protagonistas desse salto de qualidade absolutamente necessário e urgente na organização da vida urbana.
Esperamos que esse esforço possa colaborar para que a população brasileira viva de forma digna e mais feliz, deixando para trás os tempos de tragédias anunciadas.
Imagem: Foto - Gustavo Mansur/Palácio Piratini | Arte - Eliel Almeida