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Memória – Movimento sindical lembra 50 anos do golpe militar

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O primeiro ato da série que deve marcar o ano de 2014, para lembrar os 50 anos do golpe militar de 31 de março de 1964 e exigir justiça, teve como protagonistas os trabalhadores. Realizada em 1º de fevereiro, a iniciativa denominada “Unidos, jamais vencidos” lotou o Teatro Cacilda Becker, no Paço Municipal de São Bernardo do Campo (SP). O ato foi organizado pelo Grupo de Trabalho 13, que investiga, junto à Comissão Nacional da Verdade (CNV), a repressão sobre o movimento sindical e os trabalhadores, bem como a colaboração do empresariado com a ditadura.

O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, prestigiou o evento, além do deputado estadual Adriano Diogo (PT), coordenador da Comissão Estadual da Verdade, e de João Vicente Goulart, filho do presidente deposto no golpe, João Goulart, o Jango. Vários outros parlamentares também estiveram presentes, como o deputado federal Vicentinho (PT) e os estaduais Ana do Carmo, Hamilton Pereira e José Zico Prado (todos do PT).

Num exemplo de ação unitária, teve a participação das dez centrais brasileiras – Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Intersindical, Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Intersindical Central.

No ato, foram homenageados mais de 400 trabalhadores que lutaram contra a ditadura, inclusive alguns mortos nas mãos dos militares, representados por seus familiares. Depoimentos de ex-presos e perseguidos políticos foram exibidos em vídeos durante a iniciativa, que contou ainda com duas apresentações teatrais, do Grupo Solano Trindade e de Tin Urbinati, o qual realizou performance baseada no poema de Vinícius de Moraes intitulado “O operário em construção”.


Capital x trabalho

Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT, destacou no ensejo o papel fundamental desempenhado pela classe trabalhadora para pôr fim ao período de exceção, que perdurou no País até os anos 1980. Não obstante, ele ponderou que o processo democrático ainda está incompleto. “Avançamos do ponto de vista da política, mas não temos democracia nos locais de trabalho. Nas fábricas, ainda impera a ditadura do patrão. Enquanto isso não mudar e houver um único brasileiro à margem da sociedade, essa luta não estará completa.” Nobre apontou algumas das bandeiras fundamentais à classe trabalhadora nesse sentido, como redução da jornada sem diminuição de salários e fim do fator previdenciário. Luiz Gonçalves, presidente estadual da NCST, afirmou que é preciso fazer frente a ataques pelo Congresso Nacional, como o representado pelo projeto de lei 4.330, relativo à terceirização, que precariza as relações do trabalho. Assim, lembrou que no dia 9 de abril haverá em São Paulo um ato unitário para “avançar na luta e conquistas da classe”.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, foi outro a chamar os trabalhadores a continua­rem a luta e homenagear aqueles que contribuíram à derrubada da ditadura. Entre eles, citou o jornalista Sérgio Gomes e o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, que ajudaram a inserir os trabalhadores na luta. José Gonzaga, diretor executivo da UGT, também lembrou alguns nomes, entre eles o de Luiz Inácio Lula da Silva, liderança na greve de 1978 em São Bernardo do Campo.

Emocionado, Adilson Araujo, presidente da CTB, enfatizou: “O Brasil sempre esteve acordado, porque vocês nunca dormiram.” Ele cedeu sua fala a João Batista Lemos, trabalhador da Volkswagen à época da ditadura, o qual afirmou que a empresa enviou uma lista com 30 nomes de militantes ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), como consta em relatório relativo à anistia. “As grandes multinacionais entregaram os trabalhadores à repressão. As empresas que colaboraram com o golpe têm que ser punidas também”, completou Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário nacional da CSP-Conlutas, para quem parte da estrutura que vigorou no período continua intacta, com torturas policiais como herança e leis de exceção. A falta de democratização nas comunicações foi outro aspecto lembrado durante o ato.

Para Rosa Maria Cardoso da Cunha, coordenadora da Comissão Nacional da Verdade e do GT 13, o golpe de 1964 deve ser denominado civil-militar, pela participação do empresariado, com cessão de equipamentos como veículos, combustíveis e patrocínio da tortura. Segundo ela, houve cinco outras tentativas de golpe antes de 1964. “Foi gestado desde o Estado Novo por um consórcio de civis e militares que não queriam o povo na política.” Rosa Cardoso ponderou que a CNV tem atua­ção limitada, com mandato de 2,7 anos. A justiça, explicou, não alcançará as empresas, porque não se pode criminalizar pessoa jurídica. “Mas faremos essa reparação, nas lutas.” Por sua atuação junto à CNV, ela foi homenageada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) com o prêmio Personalidade Profissional 2013, em Excelência em gestão pública. Adriano Diogo concluiu: “Na resistência à ditadura estávamos todos juntos. Agora, para punir os torturadores e abrir os arquivos militares, temos que continuar juntos.”


Por Soraya Misleh


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