Conforme balanço do Ministério da Educação (MEC) apresentado no início de janeiro, entre as 20 notas de corte mais altas da primeira edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2014, 13 foram da área de engenharia – desde naval (a nota mais alta, 869.15), aeroespacial, eletrônica e computação, elétrica (sistemas de potência) até robótica e automação industrial. Civil e agronomia ficaram entre os dez cursos com maior número de inscrições, respectivamente, 130.059 e 104.560.
José Otávio Machado Menten, coordenador do curso de engenharia agronômica da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), não se surpreende com os números. Para ele, essa elevada procura é consequência direta do mercado. “O Brasil precisa de profissionais que resolvam problemas de infraestrutura, logística, produção etc.”, afirma. E os jovens, analisa, vislumbram que essas necessidades estão nas áreas tecnológicas.
O diretor da Escola Politécnica da mesma instituição (Poli/USP) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, José Roberto Cardoso, lembra que o cenário nem sempre foi assim. “Depois de um gap no setor, o País se insere, mesmo como economia emergente, na corrida do desenvolvimento mundial.” Como consequência, explica, a primeira área a ser acionada é a da engenharia. A posição é reforçada por Ronaldo Faustino, professor do curso de engenharia de produção civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – um dos mais concorridos entre as instituições de ensino superior (IES), com 100% das vagas no Sisu. Para ele, a área é importante na medida em que o Brasil terá de triplicar, até 2020, o número desses profissionais, caso a economia nacional cresça a um ritmo de 4% ao ano.
Brasil: locomotiva do momento
Os números mostram, também, segundo o professor do IFPE, que, apesar de atrasado em infraestrutura, o Brasil reúne inúmeras condições favoráveis para ser a grande locomotiva do momento. Já na área agrícola, Menten lembra que, nos últimos anos, os cursos de ciências agrárias, em especial de engenharia agronômica, vêm apresentando aumento de candidatos. “É o reconhecimento de nossa vocação. Trata-se do setor onde temos vantagens claras sobre os demais países: solos, água, clima, tecnologias agrícolas tropicais e produtores rurais competentes.” Em 2012, segundo o docente da Esalq/USP, existiam no País 262 cursos de engenharia agronômica, ofertando 20.532 vagas. Hoje, mais escolas estão sendo criadas em diversas regiões.
Ao mesmo tempo em que comemora números do Sisu, Menten observa que os cursos de engenharia precisam estar preparados para formar profissionais que atendam às demandas do mercado. Dessa forma, defende como essencial para garantir esse boom o aprimoramento constante das matrizes curriculares e dos projetos pedagógicos, para que o ensino continue primando pela qualidade e seja cada vez mais atraente para os jovens. Cardoso reforça a preocupação, argumentando que o País tem uma quantidade enorme de vagas disponível, em torno de 300 mil, mas o número de formados é ainda bem menor. “O Sisu mostra a entrada, não a saída”, esclarece. Desse número, informa, concluem o curso, no máximo, 20% – em torno de 50 mil. Tal ocorre, segundo o professor da Poli, porque há uma formação fraca dos estudantes brasileiros no ensino médio.
O professor José Marques Póvoa, consultor acadêmico do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), mantido pelo SEESP, corrobora a necessidade de atualizar o ensino de engenharia no Brasil, dizendo que há um verdadeiro “choque” de transição do aluno do ensino médio para a universidade. “Esse jovem vem de uma fase onde ele estuda com o professor, e não sozinho.” O que pode causar, argumenta Póvoa, já no primeiro ano do curso, um trauma, que pode levar à desistência. “Na proposta do instituto, o estudante deve virar engenheiro já no primeiro dia de aula.”
O Sisu – que seleciona estudantes com base nas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – ofereceu, nesta primeira edição de 2014, 171.401 vagas em 4.723 cursos de 115 instituições públicas de educação superior em todo o território nacional, com destaque para as regiões Nordeste e Sudeste. Neste ano, cada candidato pôde fazer até duas opções de curso, o que elevou o número de inscrições para 4.988.206.
Por Rosângela Ribeiro Gil