Com praticamente metade de sua PEA (População Economicamente Ativa) atuando junto ao setor, Limeira tem sua economia baseada na produção de jóias folheadas. São aproximadamente 450 indústrias do setor funcionando legalmente, as quais garantem por volta de 9 mil empregos diretos e 45 mil indiretos no município. A informação é do vice-presidente da ALJ (Associação Limeirense de Jóias), Rodolfo Dib Mereb Júnior.
Para ele, o grande diferencial do produto feito na cidade em relação ao importado – principalmente o chinês e o indiano – é o design e a qualidade superior. No preço, não há como competir. “O setor hoje está com dificuldades para vender em função da concorrência e do câmbio desvalorizado, que deixa de ser atrativo à exportação”, lamenta. Mesmo assim, conforme sua informação, o volume assegurado com a comercialização de jóias folheadas ao estrangeiro tem sido significativo: somente entre janeiro e junho último, ingressaram em Limeira US$ 53 milhões, cerca de 10% a mais do que em igual período de 2006. Em situação favorável, esse incremento, diz Mereb, poderia ser da ordem de 25%. A cidade tem como mercados consumidores América Latina, Estados Unidos, África e Europa. Esses destinos levam 30% da produção limeirense, aponta o vice-presidente da ALJ. De acordo com ele, há quatro ou cinco anos esse percentual era de 60%. Os principais compradores conhecem as novidades apresentadas pela indústria e fecham negócios durante a Aljóias, feira internacional do setor promovida pela associação no mês de agosto. Neste ano ocorrerá entre os dias 28 e 31. A estimativa, afirma Mereb, é movimentar US$ 30 milhões durante o período.
Além da exportação, Limeira garante o fornecimento de jóias folheadas a todo o Brasil. É reconhecida como o município que conta com o principal APL (Arranjo Produtivo Local) do setor, segundo assegura o vice-presidente da ALJ. E aumenta ano a ano o número de indústrias que têm se instalado na cidade, atraídas pelo pólo local consolidado.
Desafios
O crescimento do segmento, contudo, é acompanhado do estabelecimento de fabricantes que têm atuado na informalidade. Segundo Mereb, a quantidade é assombrosa: deve se equiparar à de empresas formais. Um dos desafios é regularizar a situação desse contingente, prejudicial ao município. “Não tem nenhum tipo de registro de seus funcionários ou cuidado com sua segurança, bem como não trata seus efluentes (resultantes da galvanoplastia, processo eletrolítico de banho das peças que visa revestir suas superfícies com outros metais, mais nobres, como ouro e prata) antes de liberá-los na rede de esgoto. Para se ter uma idéia, uma empresa em Limeira, para funcionar, precisa de cinco licenças. Esse pessoal opera sem nenhuma.”
Na Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental), segundo o gerente em exercício de sua agência ambiental em Limeira, João Humberto Sumere, estão cadastradas 322 empresas do setor, sendo que 163 dedicam-se à galvanoplastia. Esse é, portanto, o total de licenciadas pela companhia, “operando sob condições permitidas pela legislação”. Tal, de acordo com ele, estabelece limites aos resíduos de metais que podem ser encontrados nos efluentes a ser descartados após o tratamento físico-químico. Ao cobre, por exemplo, cuja presença é mais significativa nesse processo, restringe a 1,5 miligrama por litro. Não obstante o grande volume de indústrias de jóias folheadas atuando na cidade, Sumere afirma que “se se comparar com qualquer outra atividade galvânica industrial, o volume de banhos e descarte de águas de lavagem é reduzido.” Conseqüentemente, mesmo na Estação de Tratamento de Esgoto de Tatu, que recebe 70% desses efluentes, o acompanhamento feito pela Cetesb mostra que “invariavelmente o lançamento final atende a legislação”.
Não é o que indica estudo sobre os efluentes oriundos da produção de jóias folheadas em Limeira, elaborado por técnicos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e apresentado durante simpósio de toxicologia realizado na Espanha em outubro de 2005. Responsável pela pesquisa, o professor do Centro de Ensino Superior em Tecnologia da instituição, Abílio Lopes de Oliveira, salienta que “o resultado no município é dos mais tóxicos do Brasil, inclusive quando se considera o efluente tratado”. Ele continua: “Mesmo para baixa quantidade será necessário volume muito grande de água dos rios para diluir isso”. Na sua opinião, o estudo revela ser preciso aumentar a capacidade de tratamento, o que pode ser feito com a adoção de diversas tecnologias. Como alternativa para se reduzir o índice de contaminação, Oliveira apresenta projeto que vem sendo elaborado em parceria com Cuba. Trata-se do uso do tanino presente na casca do eucalipto, que hoje não é aproveitado, para remover esses metais. Para tanto, informa, “estamos buscando parcerias com as indústrias galvanoplásticas de Limeira”.
Soraya Misleh