Em seu ciclo “A engenharia, o Estado e o País”, o SEESP recebeu em sua sede, na Capital, até agora três candidatos nas eleições de 2014, sendo dois ao Senado – José Serra, pelo PSDB e Coligação Mais Trabalho, e Carlos Alberto Santos (o indígena Kaká Werá), pelo PV, respectivamente em 30 e 31 de julho último – e um ao Governo paulista – Gilberto Maringoni, pela Frente de Esquerda PSOL-PSTU, no dia 8 de agosto.
A todos, foi entregue ao final, pelo presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, a publicação “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento –– Novos desafios”, atual versão do projeto da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), que reúne as propostas da categoria ao desenvolvimento sustentável com distribuição de renda no País.
Estão confirmados ainda os candidatos ao Governo de São Paulo Gilberto Natalini (PV), Wagner José Gonçalves Faria (PCB) e Laércio Benko (PHS), nos dias 15, 18 e 19 deste mês, além dos concorrentes ao Senado Eduardo Suplicy (PT) e Marlene Machado (PTB), em 22 próximo e 8 de setembro. O ciclo acontece desde 1998 e é aberto ao público. Neste ano, recebe os que disputam os cargos majoritários, o que inclui também os presidenciáveis. Os debates podem ser acompanhados ao vivo aqui.
Prioridade à saúde
Acompanhado de seu suplente, José Aníbal, e de candidatos da Coligação aos Legislativos federal e estadual, Serra ressaltou os principais pontos em que pretende atuar caso seja eleito. Entre eles: reconstruir o sistema do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), melhorar a saúde pública e o saneamento básico, defender mais investimentos no Estado paulista e combater a utilização e o tráfico de drogas em território nacional.
Tendo ocupado vários cargos públicos, na sua apresentação aos engenheiros, Serra frisou que começou seus estudos de graduação na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), no início dos anos 1960, mas se formou em Economia. À época, salientou, engenharia “era uma profissão em que se ganhava bem”. Agora, considerou, o cenário é outro, pois o Brasil enfrenta “lentidão no desenvolvimento”. E continuou: “De 1980 para cá, a economia brasileira caiu três vezes. São 34 anos sem crescimento. Isso está por trás dos problemas da engenharia brasileira.”
Sobre o FAT, Serra afirmou que o fundo está “desfinanciado”. Quanto à saúde, citou pesquisa que a coloca, atualmente, como uma das grandes preocupações do brasileiro, defendendo melhor gestão dos recursos públicos, volta do profissionalismo e se opondo à ideia da “medicina para pobre”.
Foco no meio ambiente
Já Kaká apresentou como eixos do seu programa de gestão garantir um modelo que não envenene o solo, devolva aos rios e nascentes águas limpas, garanta ar de qualidade e o uso de fontes alternativas de energia. O candidato ao Senado pelo PV apresentou sua trajetória, marcada pela defesa dos povos tradicionais. Com cinco livros escritos, ao lado da candidata a vice-governadora por seu partido, Maria Lúcia Aidar, e a seu primeiro suplente, Jean Nascimento, ele expressou a política do PV para o Senado.
Com foco no desenvolvimento sustentável, Kaká defendeu a mudança de um modelo que agride o meio ambiente, para que se preserve a “civilização”. Segundo lembrou ele, na Eco 92 estudiosos já sinalizavam que se se mantiver o atual, “serão necessários três planetas Terra. Essas ideias e desejos de outro paradigma para uma política de Estado precisam ser incorporados ao modo de pensar de quem faz tecnologia e engenharia”.
Resgatar o papel do Estado
Primeiro candidato ao Governo paulista a participar do ciclo, Maringoni apontou o papel essencial do SEESP e da FNE ao recolocarem, a partir de 2006, com a apresentação do projeto “Cresce Brasil”, “no centro da política nacional a questão do desenvolvimento”. Para assegurar inversões à realização dos projetos ali elencados, conforme considerou, a iniciativa coloca a questão crucial de se rediscutir o papel do Estado. Sua capacidade de planejamento e indução do desenvolvimento foi retirada com as privatizações dos anos 1990, segundo avaliou.
Ele citou ainda a mudança na composição de acionistas na Sabesp, que hoje tem 50,26% sob capital público e 49,74%, privado – pano de fundo à crise hídrica verificada hoje em São Paulo. “Faltam investimentos. Seu lucro hoje é de R$ 1,932 bilhão e R$ 532 milhões destinam-se a dividendos aos sócios privados. A companhia precisa ser reestatizada.”
Na sua concepção, é necessário ter um Estado transparente a que se tenha o desenvolvimento almejado, que implica “transformação social, com garantia de distribuição de renda e da propriedade”. Para tanto, concluiu, os engenheiros são fundamentais. “São os grandes projetistas do futuro do Brasil.”
Por Soraya Misleh, com colaboração de Rosângela Ribeiro Gil