Edilson Reis
Em recente congresso promovido por importante associação de engenheiros, um palestrante internacional difundiu conceitualmente o funcionamento do tráfego: “Comporta-se mais como gás do que como líquido, mas planejadores aprenderam a pensar o tráfego como líquido, que inunda tudo se você não propicia canais de escoamento.”
Essa tendência, associada ao crescimento desordenado das cidades e à descentralização de moradias, longe dos locais de trabalho e das infraestruturas de transporte existentes, trouxe como consequência a opção pelo transporte individual. Esse domínio do viário pelos automóveis causa os grandes congestionamentos diários que, na cidade de São Paulo, atingem o pico de 243km. Nessa situação, o tempo de viagem dos ônibus é aumentado, fato que agrega custos estimados em 16%, com impacto direto na tarifa.
Essa deseconomia, somada a outros eventos causados pelo trânsito, segundo o professor Marcos Cintra, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), gera prejuízos da ordem de R$ 33 bilhões por ano, equivalentes a 10% do PIB (Produto Interno Bruto) do município.
Para se ter uma ideia da irracionalidade da ocupação do viário e do consumo de energia por passageiro na comparação entre os modais coletivo e individual, para o transporte de 190 pessoas, são necessários 127 automóveis ou apenas um ônibus articulado, e a energia consumida é de 13kWh e 2kWh respectivamente.
De modo geral, dos 17 mil km de infraestrutura viária disponível na cidade de São Paulo, apenas 4.500km destinam-se à circulação do transporte coletivo sobre pneus. Desses, só 120km têm tratamento adequado à sua preferência. Os automóveis, pela sua flexibilidade de origem e destino, têm acesso livre a todas as ruas e avenidas.
Estudo feito pela Confederação Nacional dos Transportes, em 2002, correlacionando a ocupação de espaço e a capacidade de transporte nos deslocamentos motorizados, aponta que nos principais corredores de tráfego os automóveis particulares ocupam 60% do espaço viário para transportar 20% dos passageiros, enquanto o modo público sobre pneus transporta 70%, ocupando apenas 25% desse espaço.
Nos debates e seminários que tratam do assunto, o encaminhamento recorrente é o atendimento da boa e velha relação: menor custo/maior benefício, que necessariamente passa pela adoção de políticas públicas para a área e do uso e ocupação do solo para qualificação do transporte coletivo de forma a torná-lo competitivo e atrativo e desestimular a opção preferencial pelo transporte individual, consolidando-se, dessa forma, a vocação de cada sistema.
Como contribuição à melhoria das condições de circulação e para criar um círculo virtuoso na busca da melhor solução de distribuição do espaço viário, o Comitê Temático “Cidade em Movimento” do Conselho Tecnológico do SEESP defende que sejam feitos investimentos contínuos para implantação de sistemas de transporte de alta e média capacidades, sustentáveis ambiental, social e economicamente, sobre trilhos ou pneus, articulados e integrados aos sistemas de transporte individual.
Edilson Reis é diretor do SEESP e coordenador do Comitê Temático “Cidade em Movimento” do Conselho Tecnológico da entidade