A comemoração do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, numa bela homenagem a Zumbi dos Palmares, é momento propício a uma reflexão essencial sobre a necessidade premente de a sociedade brasileira superar desigualdades e injustiças que remontam séculos atrás. Pesa ainda hoje sobre nós o triste passado de escravidão e está mais do que evidente ser urgente dar fim à herança nefasta que essa tragédia histórica nos legou. A tarefa que se coloca a todos é erradicar a discriminação e o preconceito que ainda atingem a população afrodescendente, a qual representa mais da metade dos habitantes do País.
Por sinal, alguns números dão a dimensão dessa situação. Embora sejam 52,9% da população, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, os negros são minoria, por exemplo, no mundo acadêmico – do total de 387,4 mil pós-graduandos, apenas 112 mil são negros. O mesmo se dá nos cargos de representação política: na Câmara dos Deputados, quase 80% dos parlamentares se declararam brancos. Também são minoria nos cargos de chefia, conforme levantamento do Instituto Ethos. Em 2010, apenas 13,2% dos quadros executivos das 500 maiores empresas do Brasil eram negros. A situação melhorava um pouco nos níveis de gerência (25,6%) e supervisão (31,1%). Temos ainda aspectos mais trágicos desse contexto. Os dados apurados pelo Mapa da Violência no Brasil mostram que em 2012 registraram-se 56.337 assassinatos no País, sendo quase metade das vítimas jovens e negros.
Desconstruir esse quadro perverso exige empreender um esforço coletivo de transformação da nossa realidade. O primeiro ponto a ser observado aqui é que extirpar o racismo da nossa dinâmica social certamente beneficiará os indivíduos e comunidades que são vítimas diretas dessa forma de intolerância, mas também nos colocará num patamar mais elevado como seres humanos, cidadãos e nação. Portanto, esse avanço imprescindível interessa a todos.
A partir dessa conscientização, é preciso lançar mão de todos os meios para se atingir tal objetivo. Isso passa pela educação e cultura, mas também por políticas públicas e legislação. Um instrumento nesse sentido é o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 12.880/2010, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), que em 65 artigos traz orientações gerais positivas, mas, para ter efeito prático, depende de normas específicas ainda inexistentes, além da participação e comprometimento dos órgãos públicos e do setor privado.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) vem propondo um interessante debate sobre a celebração do bicentenário da Independência, que acontecerá em 2022, e como atuar nesses sete anos que temos até lá para dar um salto no nosso nível socioeconômico e cultural. Parece-nos que, nesse contexto, uma belíssima meta a se atingir seria a igualdade racial.
Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente
Jucélio Rocha da Silva, José Marcos da Costa Beserra e Rubens Augusto Vieira Mesquita
Desde a criação da primeira fábrica de veículos no Brasil em 1919, a indústria nacional não parou de crescer. No ano de 2014, a produção alcançou o número de 3.172.750 unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O País ocupa a sétima posição no ranking mundial entre os fabricantes de veículos e ocupa o quarto maior mercado interno do globo. São Paulo possui a maior frota do Brasil, com cerca de 26.733.748 unidades, sendo 29,5% apenas na metrópole, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
No Estado, o número de sinistros registrados no primeiro semestre de 2014 alcançou 1.246.403 unidades, ante 5.178.834 em nível nacional no mesmo período, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Ou seja, do total, 24,06% em São Paulo. No primeiro semestre de 2015, a Secretaria de Segurança Pública do Estado contabilizou 95.216 veículos roubados ou furtados, dos quais 52,1% não são recuperados de imediato ou em curto prazo, aumentando o número de automóveis fora de uso. Com base nesses dados oficiais, é possível comprovar o aumento de resíduos decorrentes desse pujante mercado.
Em maio último, após um procedimento licitatório, o governo paulista assinou um contrato de R$ 16,5 milhões com duas empresas para construção de dois pátios de veículos, em razão de os 45 atualmente existentes na Capital não comportarem a grande quantidade de apreensões de forma adequada (ambientalmente correta). O formato atual dos pátios apresenta sinais de abandono, possibilitando a proliferação de vetores urbanos, estoque de sucatas que geram impactos ambientais, tais como contaminação do solo, dos mananciais, do lençol freático e da atmosfera.
A partir dos dados encontrados, analisou-se o cenário automobilístico no Estado de São Paulo, revelando a urgência e a necessidade de se iniciar uma manufatura reversa de veículos. A reciclagem desse importante produto, com base no peso, pode alcançar até 70% de materiais ferrosos. E se os componentes do veículo estiverem em boas condições durante a desmontagem para a sua reutilização, esse número poderá alcançar 85% do total.
O procedimento deve ser efetuado baseado nas legislações vigentes. Pode ser realizado da seguinte forma: despoluição do veículo, com a drenagem dos fluídos, desmontagem e identificação dos seus componentes, separando os rejeitos dos materiais recicláveis e reutilizáveis. Por último, a fragmentação desses materiais, que poderão voltar a servir de insumo para indústria.
Cabe destacar que o sucesso da reciclagem depende de uma gestão semi-integrada com a participação de empresas capazes de realizar o reaproveitamento ou destinação adequada dos resíduos, como fluidos, gases, pneus, entre outros.
A metodologia apresentada é absolutamente sustentável, pois reduz o número de etapas operacionais e a utilização de recursos naturais, além de gerar novos empregos e diminuir os impactos ambientais, se comparados com a extração da matéria-prima virgem na natureza.
Jucélio Rocha da Silva, José Marcos da Costa Beserra e Rubens Augusto Vieira Mesquita, formandos em Engenharia de Produção pela Universidade Cidade de São Paulo
Rosângela Ribeiro Gil
Por intermédio de seu Núcleo Jovem Engenheiro, o SEESP reuniu, em 7 de novembro, estudantes e recém-formados na área no primeiro seminário que discutiu os desafios profissionais e o protagonismo do jovem engenheiro. Realizada na sede do sindicato, na Capital, a atividade atraiu mais de 100 pessoas. À abertura, o vice-presidente dessa entidade, João Carlos Gonçalves Bibbo, considerou o evento como um marco na história do SEESP, ao projetar um novo olhar sobre os movimentos social, sindical e político do País.
“Estamos aqui para compartilhar conhecimento e experiências”, conclamou. Ressaltando a importância da criação do Núcleo Jovem Engenheiro pela entidade em julho último, seu presidente, Murilo Celso de Campos Pinheiro, reforçou o convite para que os jovens da área se envolvam na construção da engenharia unida. “Vocês podem ajudar a fazer um sindicalismo moderno e ainda mais atuante.”
No ensejo, Antonio Florentino de Souza Filho, presidente do Sindicato dos Engenheiros do Piauí (Senge-PI) e diretor da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), parabenizou o SEESP pela iniciativa que servirá de base a outros sindicatos da categoria fazerem o mesmo – ao encontro do que ficou definido durante o IX Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), em que se decidiu construir o FNE Jovem (leia no JE 484). “O movimento sindical precisa ser renovado com essa geração para buscar novos rumos à engenharia”, realçou.
O Núcleo Jovem Engenheiro e a área de Oportunidades e Desenvolvimento do SEESP viabilizaram o evento ao visitarem, entre agosto e outubro último, várias universidades paulistas de engenharia, o que possibilitou o contato com mais de mil estudantes. Marcellie Dessimoni, coordenadora do núcleo, classificou o seminário como um “pontapé” inicial do movimento do jovem engenheiro. “Estamos num momento de construção, por isso precisamos da participação ativa do estudante e do recém-formado. Queremos e precisamos fazer a diferença”, enfatizou.
Papel civilizatório e humano
No painel “A participação dos jovens engenheiros na construção de uma nova etapa do sindicalismo brasileiro em defesa de sua profissão”, o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto falou sobre a formação da classe trabalhadora brasileira, nos anos 1900, integrada por negros recém-libertados da escravidão, completamente desorganizados, e mão de obra estrangeira, vinda principalmente de Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha. “Naquela época, o Brasil era uma imensa fazenda ainda. Estávamos iniciando as nossas indústrias.” Foram os estrangeiros que criaram os primeiros sindicatos do País.
Vargas Netto mostrou que o movimento sindical, ao longo da história, em todo o mundo, sempre desempenhou papel civilizatório e humano. Para ele, a partir da década de 1970, o capitalismo se propôs a destruir as formas de convívio da sociedade, colocando em xeque as organizações. Como resultado, tem-se hoje um estranhamento entre o movimento sindical e as aspirações da juventude. Júnia Dark, diretora do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), relatou que ficou encantada ao se aproximar do movimento. “Cresceu em mim a semente da indignação.” E frisou: “Não existe categoria forte com sindicato fraco.”
Presidente da Delegacia Sindical do SEESP na Baixada Santista, Newton Guenaga Filho, salientou que essa é a organização que defenderá os direitos dos engenheiros. Já os conselhos têm a atribuição de fiscalizar o exercício da profissão regulamentada e as associações desenvolvem sobretudo ações sociais. Nesse escopo, a advogada do SEESP, Karen Blanco, salientou que são as contribuições, em quatro modalidades (sindical, assistencial, confederativa e associativa), que garantem estrutura adequada à busca de direitos e conquistas à categoria.
Mercado de trabalho
Os desafios e oportunidades ao jovem iniciar sua carreira também foram abordados durante o seminário. Entre eles, atender às exigências das empresas, como experiência e fluência em línguas estrangeiras, principalmente o idioma inglês, como destacou a coordenadora da área de Oportunidades e Desenvolvimento do SEESP, Mariles Carvalho. “Muitas vezes o jovem que sai da faculdade não atende a todas as exigências do mercado, isso causa uma grande frustração e confusão no recém-formado.” Para ela, é preciso enfrentar as pressões e não desanimar.
O diretor do sindicato e professor da Universidade de São Paulo (USP), Balmes Vega Garcia, falando sobre empreendedorismo, estimulou os estudantes a irem atrás de fontes importantes de conhecimento, citando que é próprio da engenharia a criatividade e a busca por resolver problemas. Fator ligado a esse universo é a inovação, já invocada em 1942 pelo economista austríaco Joseph Alois Schumpeter em “Capitalismo, socialismo e democracia” como fator decisivo na concorrência entre as companhias. “Sem inovação, a empresa perece. Ou seja, o profissional da engenharia está num ponto-chave.”
Mídia antissindical
A discussão sobre a democratização da mídia no Brasil e comunicação sindical encerrou o evento. Altamiro Borges, o Miro, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, explicou que há um consenso no mundo sobre a forte influência da mídia na vida das pessoas e dos países e de que ela está nas mãos de poucos grupos econômicos. No Brasil, por exemplo, informou, são sete famílias controlando 80% do que se produz em termos de informação e comunicação em todo o território brasileiro. “É um grande poder que mexe com a subjetividade humana”, advertiu.
Ele criticou a mídia brasileira que, diferentemente de outros países, não tem um projeto nacional. “É totalmente colonizada e antissindical, sem espírito democrático, e não vacila em apelar ao autoritarismo, como fez em 1964, ao preparar e apoiar o golpe civil-militar.” Diante disso, prosseguiu, a sociedade tem o grande desafio de lutar pela democratização da comunicação. Com esse objetivo, Miro citou o projeto de lei de iniciativa popular com 33 artigos, que precisa ter mais de um milhão de assinaturas para ser apreciado pelo Congresso Nacional.
Já João Franzin, da Agência Sindical, atuando há 30 anos na mídia sindical, enalteceu a engenharia por ter propiciado avanços tecnológicos que ajudaram a comunicação operária, que hoje tem mais facilidade e rapidez em elaborar jornais e boletins informativos. Ele observou que o trabalhador, para a mídia comercial, é clandestino e invisível. Daí a importância da imprensa sindical, “militante, engajada e que tem lado, cuja credibilidade se garante ao falar a verdade”.
Ratificando essa visão, Rita Casaro, gerente do Departamento de Comunicação do SEESP, apresentou a área que coordena no sindicato, a qual produz conteúdos para seu jornal impresso, sites, redes sociais, programa de televisão, boletins e outras publicações. Ela chamou os estudantes, assim como os profissionais, a acessarem esses veículos, que “são feitos para vocês”.
Uma explosão de conhecimento
O auditório do SEESP, na Capital, no dia 7 de novembro, foi ocupado, em sua maioria, por jovens com menos de 25 anos de idade. Todos sedentos de informação e satisfeitos com o contato com o sindicato. Seguem as impressões
de alguns dos participantes sobre o seminário:
July Nicoli Barbosa Bitencourt
Segundo semestre de Engenharia de Inovação no Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec)
Esse contato com o sindicato faz com que o jovem entenda o que está estudando e saiba quais são os seus direitos e deveres. O seminário foi bem interativo e dinâmico. Acredito que o SEESP, com esse evento, plantou a semente da participação no jovem. Foi bem legal.
Robson dos Santos
Quinto semestre de Engenharia Civil nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)
Senti falta apenas de uma mesa para enfocar a questão do negro na engenharia. Acho que em outras atividades o sindicato deveria mostrar que o negro tem capacidade de ocupar qualquer função e cargo na sociedade. Mas estar aqui hoje é uma grande realização para mim.
Carlos Henrique Santos Alves
Quinto semestre de Engenharia Civil na Universidade Nove de Julho (Uninove)
O seminário foi bem desenvolvido, abordando vários assuntos que não conhecíamos profundamente, e a experiência que os engenheiros trouxeram nos faz ver qual é o mundo que nos espera. Ao mesmo tempo, mostrou outro lado da profissão, o da responsabilidade.
Robinson Luiz Quirino Muniz
Terceiro ano de Engenharia Ambiental na Associação de Ensino e Cultura de Mato Grosso do Sul (Aems)
Viemos prestigiar o evento para buscar informações para o nosso estado. Vamos copiar as boas práticas. Tivemos uma verdadeira explosão em nossa mente.
Soraya Misleh
Diante da histórica desigualdade no Brasil, representantes de faculdades de engenharia paulistas defendem as cotas em universidades como medida importante. “Dadas as condições socioeconômicas e as metas para melhoria dos índices educacionais, sua implantação como política de ação afirmativa é fundamental”, enfatiza Wagner Souza dos Santos, coordenador de ingresso na graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
No País, embora os negros correspondam a mais da metade da população, representam apenas 11% dos que estão no ensino superior. A informação consta de Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgado em 2014. A despeito de ter havido expansão nos últimos anos – em 1992, conforme o documento, eram ínfimos 2,2% do total –, os números indicam que ainda há muito o que avançar.
Contribui a essa evolução a chamada “Lei de Cotas” (Lei Federal 12.711/2012), que obriga todas as universidades federais a reservarem no mínimo 50% das vagas a egressos de escolas públicas no processo seletivo até agosto de 2016. Conforme a norma, o preenchimento deve se dar “por candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual” a sua presença na população total do estado em que se localiza a instituição. Em seus três anos de execução, de acordo com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a medida garantiu o ingresso de 150 mil estudantes negros. Segundo divulgado pela pasta, em média, do total de 49,6% dos cotistas, 20% são pardos, negros e indígenas.
Antes, as ações afirmativas nas instituições federais dependiam da compreensão de sua importância à democratização do acesso ao ensino superior. É o caso da UFSCar, que segundo Santos adota a reserva de vagas na graduação desde 2008. O sistema, explica ele, foi concebido “para estudantes que cursaram o ensino médio integralmente na rede pública, e uma parte do percentual atendia ao critério de autodeclaração de raça/cor”. Até 2010, afirma que tal reserva equivaleu a 20% das vagas, abrangendo em torno de 120 estudantes nas engenharias por ano. Entre 2011 e 2013, o percentual dobrou, englobando 270 ingressantes/ano nos cursos da área.
Resultados
Conforme o professor, em 2013, a universidade substituiu esse programa pelo definido na Lei 12.711/2012, “em que os estudantes podem concorrer em quatro modalidades”. A partir de 2014, a UFSCar “já atingiu os 50% em todos os cursos de graduação, com cerca de 415 ingressantes” nas engenharias. Somando os quatro campi – São Carlos, Araras, Sorocaba e Buri-Lagoa do Sino –, são oferecidas formações em 12 modalidades. Em São Paulo, dentro da Lei 12.711, oferecem graduação na área, além da UFSCar, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – campus São José dos Campos e a Universidade Federal do ABC (UFABC).
Segundo o Ministério da Educação (MEC), com sua implantação, o percentual de vagas para cotistas saltou de 33% em 2013 para 40% um ano depois. “A meta de atingir 50% está prevista para 2016.” Agora, o MEC e a Seppir discutem política afim também para a pós-graduação.
Entre as instituições particulares, o acesso se dá pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), também do governo federal. A iniciativa concede bolsas parciais ou integrais a alunos que atendem a critérios como baixa renda familiar e ter cursado ensino médio em escola pública. Segundo informações do Ministério da Educação divulgadas no Blog do Planalto, atualmente, beneficia 562 mil jovens brasileiros, sendo 49,9% pardos, negros e indígenas. O Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) não adota o sistema em sua graduação em Engenharia de Inovação, mas concede bolsa integral a todos os ingressantes, o que já garantiu a diversidade na primeira turma iniciada em 2015, com 10% dos alunos negros.
Escolas estaduais
A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) concedem bônus nos vestibulares a estudantes oriundos de escolas públicas e, dentro desse universo, pontuação adicional às notas de corte aos afrodescendentes. A partir do próximo vestibular, a instituição oferecerá 1.489 vagas do total de 11.057 pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Contudo, a Poli não aderiu.
A única das estaduais paulistas que adota sistema de reserva de vagas é a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). O programa funciona desde 2014. A meta, segundo a assessoria de comunicação, é que até 2018 contemple 50% das matrículas em cada curso com alunos vindos da rede pública. “O percentual de negros, pardos e indígenas deverá ser, no mínimo, de 35%, equivalente a essa população do Estado no censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010.” Ainda conforme sua informação, os matriculados nas cinco graduações de engenharia pelo sistema ampliaram-se de 25% em 2014 para cerca de 32% neste ano. Marcelo dos Santos Pereira, diretor da Faculdade de Engenharia da Unesp – campus Guaratinguetá, ressalta que não houve queda na qualidade do ensino. “O rendimento e a avaliação do curso se mantiveram.” Na sua ótica, essa é uma política muito importante. “Vai refletir na inclusão social no Estado e no País e garantir a formação de mão de obra necessária ao desenvolvimento nacional.” Para assegurar a inserção, a Unesp adota iniciativas que contribuam à permanência na escola e ainda, em convênio com a Secretaria Estadual da Educação, desconto na taxa de inscrição ao vestibular. “De R$ 150,00, esse contingente pagará R$ 37,50.
A centralidade do trabalho nas políticas públicas
Em comemoração aos seus 60 anos de existência, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) realiza nos dias 3 e 4 de dezembro próximo o seminário internacional “A centralidade do trabalho nas políticas públicas e no desenvolvimento do País”. A atividade tem o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Entre os temas abordados, estarão “Crescimento e igualdade”, com a secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Alicia Bárcena; “Trabalho e produtividade”, com o professor David Kupter, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e “A importância do crescimento para o desenvolvimento”, com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A atividade será no auditório do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na Praça da República, 282, Centro, Capital. Inscrições gratuitas.
Qualificação
Marketing – uma poderosa ferramenta estratégica
Estão em formação pelo Programa Engenheiro Empreendedor do sindicato as turmas para o curso “Marketing – Uma poderosa ferramenta estratégica”. O objetivo é desenvolver novas competências e contribuir para que as oportunidades sejam transformadas em resultados duradouros. Preço promocional em novembro: R$ 108,00 para sócios do SEESP e R$ 137,00 para o público em geral. Os interessados devem se inscrever pelo telefone (11) 3113-2641. O curso será realizado pelo engenheiro civil Marcel Neumann, às segundas e quartas-feiras, das 19 às 22h (totalizando carga de seis horas).
Processo seletivo para o curso de Engenharia de Inovação
Estão abertas até o dia 15 de janeiro de 2016 as inscrições para o processo seletivo à graduação em Engenharia de Inovação no Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), mantido pelo SEESP. O curso terá 30 vagas, e os candidatos aprovados terão bolsa de estudo integral, além de ajuda de custo para os que obtiverem pelo menos 60% de acerto nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e presencial. Mais informações em www.isitec.org.br .
CNTU e OIT farão evento conjunto
Seminário sobre o mundo do trabalho e as relações internacionais entre trabalhadores será realizado em parceria pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU). A atividade foi anunciada após o encontro, em Brasília (DF), no dia 4 de novembro último, entre Murilo Pinheiro, presidente da última entidade e do SEESP, e Stanley Gacek, representante da OIT no Brasil. O diálogo entre as organizações vem se aprofundando neste ano, tendo havido outras reuniões ao longo de 2015 com o objetivo de estreitar relações. A programação e a data do seminário serão divulgados em breve.
Campanha salarial
CPFL Santa Cruz – Com data-base em 1º de novembro, os engenheiros que atuam na empresa aprovaram no dia 28 de outubro último a pauta de reivindicações de 2015. Destacam-se reajuste salarial correspondente ao maior dos índices econômicos apurados nos últimos 12 meses mais 2% a título de aumento de produtividade; equiparação de todos os demais benefícios de caráter econômico aos padrões atualmente em voga nas outras empresas de distribuição do Grupo CPFL Energia; aplicação do piso da categoria estabelecido na Lei 4.950-A/66; pagamento de abono em janeiro de 2016.
Diretor do SEESP é homenageado em Santo André
Como tradicionalmente ocorre, foi realizada em 10 de novembro solenidade na Câmara Municipal de Santo André em celebração ao Dia do Engenheiro (11 de dezembro). Na ocasião, foi homenageado o vice-presidente da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC, o engenheiro mecânico Sérgio Scuotto. O evento tem a realização conjunta da delegacia e das associações de engenheiros e arquitetos do ABC, Santo André e São Caetano do Sul.
Engenheiro merece ser valorizado no setor público
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) falou ao Jornal do Engenheiro sobre a tramitação do Projeto de Lei da Câmara nº 13/2013, que cria a carreira de Estado para engenheiros e arquitetos nos três níveis de governo. A matéria aguarda, no Senado, votação de requerimento de autoria do parlamentar que desvincula a tramitação do PLC do Projeto de Lei do Senado 122/2014, o qual dispõe sobre o exercício profissional dos economistas. Antes desse apensamento, decidido em junho último, o projeto estava pronto para ser apreciado pelo Plenário da Casa.
“Estamos tentando dar celeridade à votação da matéria”, informa Jucá. O senador observa que o projeto não é inconstitucional, porque é uma sinalização política e técnica que não infringe em acréscimo de salário. “Os servidores concursados dessas áreas já estão atuando, mas precisam ter o papel reforçado e valorizado, como ocorre com outras carreiras no serviço público”, defende.
Presidente da FNE recebe honraria em Roraima
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Roraima (Crea-RR) concedeu, por unanimidade, honraria ao presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Celso de Campos Pinheiro, por seu empenho em apoiar a engenharia no estado. O reconhecimento ao dirigente, que também está à frente do SEESP, se deu em solenidade no dia 6 de novembro último, em Boa Vista.
PM reprime trabalhadores da Usiminas em ato pacífico
Uma manifestação em frente à portaria da siderúrgica Usiminas, no polo petroquímico de Cubatão (SP), no dia 11 de novembro, foi violentamente reprimida por um grande aparato da Polícia Militar. “Era um ato pacífico do trabalhador em defesa do seu emprego”, disse, revoltado, o presidente da Delegacia Sindical do SEESP na Baixada Santista, Newton Guenaga Filho, que aspirou muito gás lacrimogêneo.
O ato ocorreu em protesto ao anúncio pela empresa, no dia 29 de outubro último, de desativação da área de metalurgia primária, nos próximos quatro meses, o que vai significar a demissão de mais de 4 mil funcionários. Logo após, os trabalhadores pretendiam realizar uma assembleia.
Três dirigentes foram presos, sendo liberados após depoimentos na polícia. Representantes dos sindicatos das categorias disseram que será enviada uma carta ao governador Geraldo Alckmin cobrando explicações e prometem novas ações.
As dificuldades econômicas e políticas pelas quais passa o Brasil têm sido tema constante do debate público, que se divide em duas vertentes principais. Uma, que infelizmente vigora no Ministério da Fazenda, acredita que a saída são cortes de gastos, arrocho, elevação da taxa de juros. Outra, a qual nos filiamos, aponta a necessidade de o País andar para a frente. Nessa linha de pensamento, permanecem válidas as premissas do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, o qual propugna estímulo à produção e incremento da infraestrutura nacional, ainda precária em diversos setores.
Um aspecto fundamental aqui, pois implica a circulação de mercadorias no território nacional e o seu escoamento para exportação, é a nossa matriz de transporte que necessita de ajuste estrutural.
Conforme a fonte consultada, obtêm-se dados variados, mas em todos eles é excessiva a participação das rodovias. Segundo o Relatório Final do Plano Nacional de Logística e Transporte, em 2011, no País essa era de 52%. De acordo com informações apresentadas pela Frente Nacional pela Volta das Ferrovias em atividade realizada no SEESP em 14 de outubro, atinge 70%. Ou seja, a ferrovia, opção mais econômica e ambientalmente correta, continua à margem. Para se ter uma ideia de quão irracional é essa opção, basta olhar para a comparação entre os valores dispendidos nos dois modais. Enquanto o transporte sobre trilhos custa entre US$ 0,30 e US$ 1,00 por tonelada/km, o rodoviário fica entre US$ 4,00 e US$ 5,00, conforme levantamento feito em 2012 pelo consultor do “Cresce Brasil”, engenheiro Carlos Monte.
A nossa atual situação em relação ao setor remete a décadas de sucateamento da ferrovia, o processo de privatização dos anos 1990 e a incapacidade atual de retomar efetivamente os investimentos, apesar de esses terem sido anunciados. O mais recente deles, a segunda etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL), que prevê R$ 86,4 bilhões para o setor, tem levantado preocupações de técnicos quanto à concretização dos projetos, que correm o risco de não saírem do papel, a exemplo do que ocorreu com a primeira fase da iniciativa.
Embora incluída no PIL, também continua na berlinda e gerando dúvidas quanto a sua execução a proposta de integração ferroviária com o Peru, o que abriria uma saída aos produtos brasileiros para o Oceano Pacífico.
Outro ponto a ser levado em consideração é o transporte ferroviário de longa distância de passageiros, praticamente extinto no Brasil e ainda excluído de projetos de retomada dos trilhos. Nessa seara, ficou abandonada ideia do trem de alta velocidade que faria a ligação Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro. A nosso ver, essa seria uma opção de mobilidade válida e necessária, além de ser oportunidade para dotar o País de tecnologia que ainda não domina.
Enfim, se nosso intuito é seguir adiante, deixar a crise para trás e buscar o desenvolvimento, é preciso ter em mente que isso se fará necessariamente sobre trilhos.
Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente
Allen Habert
A multidão em Paris, em torno da Torre Eiffel, explodiu em entusiasmo. Um dirigível mágico a contornava. Era 1901. O vencedor do concurso, de fazer o homem voar e sonhar, era mesmo Santos Dumont. O dirigível contornou a Torre em 30 minutos. Depois disso, em 1906, o impacto e a magia do 14-Bis estimularam centenas de malucos solitários a inventarem o avião em muitos países. O século XX, de ilusões e desilusões, decolava pelas mãos e inteligência de nosso Petitsantôs, fazendo o mundo encolher. Só se falava nesse brasileiro, que fazia seu aprendizado na profissão de pássaro, em todas as rodas dos salões chiques pelo mundo.
Mineiro, teve um pai engenheiro de obras públicas, um dos maiores plantadores de café do Estado de São Paulo na época, que o enviou a estudar no velho continente. Tornou-se um engenheiro de mão cheia, um designer, um arquiteto, um homem de moda, um ambientalista, um visionário. Acima de tudo, um inovador. Obstinado, indicou mais tarde a necessidade de se construir uma fábrica de aviões entre São Paulo e Rio de Janeiro. O brigadeiro Casimiro Montenegro, cearense, personagem ímpar e genial, entende a senha lançada e na década de 1940 cria as bases do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) nasce em 1968, em São José dos Campos. Educação, pesquisa e empreendedorismo, o tripé chave para levar nosso país ao seu destino de grandeza na conquista de uma sociedade do conhecimento.
Os jovens e os profissionais da área tecnológica devem conhecer a fundo a trajetória desses dois brasileiros. É uma pista para ganhar a batalha da inovação, de projetos de engenharia assinados e da autoestima de um povo.
Chamo a atenção de quatro iniciativas em curso que devem ter mais apoio e atenção da sociedade, pois delas surgirão os novos guerreiros da inovação:
• O Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que forma engenheiros de inovação e desenvolve a educação continuada do SEESP;
• A Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), que estimula estudantes secundaristas na pesquisa e inovação nas escolas públicas e privadas;
• O Programa Ciências Sem Fronteiras, que já enviou 101 mil universitários para 39 países;
• As Olimpíadas das áreas de exatas e biológicas que motivam milhões de estudantes.
Dumont e Montenegro, engarrafadores de nuvens, inconformados e intransigentes, nos inspiram nos desafios do século XXI, pois precisamos de uma imaginação institucional para construir um Brasil que dê conta de sua missão civilizatória da esperança desprotegida de ilusões.
Allen Habert é engenheiro de produção e foi presidente do SEESP.É atualmente diretor de articulação nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) e desse sindicato