Dez proposições para orientar ação unitária nestas eleições gerais, em prol da democracia, soberania e desenvolvimento nacionais. Esse foi o resultado dos debates realizados em 10 de agosto, na sede do SEESP, na Capital, por ocasião da 12ª Jornada Rumo ao Brasil 2022, promovida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU).
As contribuições estão condensadas na Carta aberta "A CNTU e as eleições 2018", aprovada por unanimidade ao final do evento. A atividade incluiu ainda homenagem ao jornalista Audálio Dantas, conselheiro consultivo da entidade com amplo legado em prol do País, que faleceu em 30 de maio último. Também foram empossados na oportunidade 60 novos integrantes do Conselho Consultivo da CNTU, em sua 13ª Plenária. Agora são 1.378 membros.
À abertura, o presidente da confederação – que também está à frente do SEESP –, Murilo Pinheiro, lembrou que na data ocorria o “Dia do Basta”, promovido pelas centrais sindicais, com agenda de mobilizações por todo o País em defesa de empregos, preservação dos direitos e da aposentadoria. Ao encontro disso, ele apontou “a grandeza de nossas profissões, cada vez mais contribuindo ao Estado e ao Brasil”. E frisou a importância do pleito deste ano para se retomar a rota do desenvolvimento nacional.
A CNTU se coloca como protagonista nesse processo, representando mais de 2 milhões de profissionais de nível universitário, conforme destacou o coordenador do evento e diretor de articulação nacional da entidade, Allen Habert. “E nós temos um enorme desafio de reconstruir a democracia e o desenvolvimento do País”, salientou. Em sua fala, ele pontuou a venda da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) como símbolos da desnacionalização e perda da soberania nacional. “A CNTU diz não a isso”, frisou. Apesar da 'deforma' trabalhista, o dirigente defendeu: “Vamos atravessar sim essa tempestade e mostrar a importância do sindicalismo.”
Também compuseram a mesa de abertura a vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida de Souza, e os representantes das entidades congregadas à confederação (Economistas, Engenheiros, Odontologistas, Farmacêuticos, Nutricionistas). Estiveram presentes ainda o vereador de São Paulo Gilberto Natalini (PV) e o deputado federal Carlos Zarattini (PT).
Cenário e oportunidades
“O Brasil parou. O desenvolvimento depende muito de instituições que o promovem, as quais foram pegas de maneira violentíssima nos últimos quatro anos”, enfatizou no ensejo Júlio Sérgio Gomes de Almeida, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, é preciso reconstruí-las. Caso por exemplo do “BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financia o investimento e está numa camisa-de-força”.
Para Almeida, é crucial retomar o investimento público para o País avançar. Ao que “tem que se rever a lei do teto (Emenda Constitucional 95, que congela gastos públicos sociais por 20 anos)”. A partir daí, ele acredita que seja possível vislumbrar “uma luzinha no fim do túnel em menos de três anos”. Vinculada a essa questão, o diretor do Iedi indicou também a demanda por se repensar o orçamento de ciência e tecnologia, “se quisermos fazer parte da quarta revolução industrial”. Por fim, assinalou a premência de se fortalecer o mercado interno. “Não podemos deixar que esse processo, não inteiramente dizimado, acabe. É necessário defender programas sociais como instrumentos de crescimento”, frisou.
Antonio Corrêa de Lacerda, diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), enxerga como principal desafio “trazer a decisão econômica para o que interessa à nação”. Ele explicou: “A ideia de que pretensa ‘austeridade’ levaria ao resgate da chamada confiança permeia a fala dos rentistas e os discursos na grande mídia. É uma escolha equivocada.” E questionou: “Como é possível sair da crise se os elementos centrais para a tomada de decisões estão distorcidos? Tem-se alta taxa real de juros, o menor nível de investimentos públicos (30% abaixo do de 2014) e sem perspectiva de se rever esse volume enquanto não se alterar a Emenda Constitucional 95(inserir link).” Para ele, as eleições se apresentam como oportunidade para mudar esse estado de coisas. Não obstante, para Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo (FespSP), “democracia” não existe no Brasil para 60% a 70% de sua população, submetidas a exclusão, opressão e violência de Estado.
Professor do lnstituto de Economia da Unicamp e diretor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit), Denis Maracci Gimenez acredita, por sua vez, que um novo governo comprometido com canais de mobilidade social, desenvolvimento e crescimento terá que lidar com o alto número de desempregados – 13,2 milhões, além de 4,3 milhões no desalento. A força de trabalho subutilizada alcança 26 milhões de pessoas e praticamente 35% estão no Nordeste. Como explicou Gimenez, a regressão no trabalho levou ainda à queda de 1,5 milhão de postos na indústria e mais 1 milhão na construção civil, dos quais 500 mil somente no Nordeste. Ademais, entre os empregados, a maioria recebe até R$ 1.307,00. “Assentado historicamente em baixos salários e elevada rotatividade, o mercado está muito desorganizado e é sobre esse que se propõe reforma trabalhista como lenitivo aos problemas brasileiros, um desastre completo”, lamentou o diretor do Cesit. E acrescentou: “É mister repensar isso.”
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Por Soraya Misleh (*Colaborou Jéssica Silva)