Carlos Monte*
Lançado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) com a adesão de seus sindicatos filiados, entre os quais o SEESP, o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” realizou, em junho último, mais um evento, desta vez abordando a engenharia de manutenção. Iniciativa mais que oportuna, tendo em vista o momento em que vivemos, com redução quase completa de novos investimentos públicos e privados desde o início da gestão Bolsonaro.
Prédios, estradas, obras de arte, barragens, represas e outras construções são organismos vivos que ficam sujeitos a permanente desgaste, o que compromete sua estabilidade e a função para que foram erguidos, muitas vezes entrando em colapso.
Quando ocorrem alterações em nossos organismos, registramos sensações que nos fazem procurar médicos especialistas para examinar os sintomas, identificar as causas e receitar os medicamentos adequados. À medida que envelhecemos, os sintomas são mais fortes e frequentes e podem mesmo causar o fim de nossas vidas.
Ao contrário dos seres humanos, estruturas não falam e não sentem dor, razão pela qual precisamos ter uma atitude proativa, examinando os sinais de seu envelhecimento: corrosão de componentes metálicos, infiltrações em superfícies externas, perda de partes por colisões ou abalos, alterações em juntas de dilatação, falhas no escoamento de águas pluviais, elevação ou rebaixamento dos depósitos para contenção de fluidos, deterioração de camadas externas de pintura.
Por isso, torna-se imperativa a permanente manutenção das estruturas para que continuem a cumprir as funções a que foram destinadas.
Fatos recentes ocorridos nas barragens de Mariana e Brumadinho (ambas em MG), em viadutos localizados em Brasília e São Paulo, nos prédios levantados irregularmente na região denominada Muzema, no Rio de Janeiro, demonstram que a atuação da engenharia de manutenção precisa ser reforçada onde já existe e criada onde inexiste, conforme proposta defendida pela FNE e pelo SEESP no decorrer do evento mencionado.
Por oportuno, gostaria finalmente de me referir ao enorme contingente de obras paralisadas em todo o País, cujas estruturas incompletas exigem também cuidados para que não se percam totalmente.
Conforme recente editorial de O Globo do último dia 7 de julho, há mais de 14 mil obras interrompidas por diversos motivos.
Em grande número de casos aparecem situações que decorrem de mau emprego dos conhecimentos fundamentais que a engenharia poderia ter fornecido, tais como estudos de viabilidade, projetos básicos, falta de projetos executivos e respectivos orçamentos.
E, naturalmente, os cuidados permanentes que o emprego da engenharia de manutenção teria assegurado a essas estruturas.
Carlos Monte é engenheiro e coordenador da consultoria técnica do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”