Tecnologia, o gargalo nacional

As discussões sobre programas de governo, em razão das eleições de outubro próximo, têm apresentado aspectos interessantes, fruto de análises sobre a economia brasileira. Os jornais impressos e televisivos têm sido pródigos em dissecar todas as alternativas conjunturais que, se bem escolhidas, deverão conduzir o País a um novo ciclo de desenvolvimento sustentável.

Alguns posicionamentos que chamam atenção, e que já são aceitos pelos analistas da nossa macroeconomia, estão relacionados à tese de que o Brasil já atingiu um estágio de equilíbrio em seus principais fundamentos econômicos, portanto está preparado para suportar eventuais turbulências nos mercados interno e externo. Outro dado visível é a unanimidade quanto ao timing para a retomada do crescimento nacional. Para os mais ansiosos, a bandeira é “crescimento já“.

Deixando de lado as intermináveis discussões sobre a banda de inflação, câmbio flutuante e queda dos juros, três temas são cruciais nesse contexto: tecnologia, exportação e desemprego. Desses, apenas a exportação é fonte geradora de significativas receitas, em dólares, para o País. A inovação tecnológica e a redução do desemprego são itens que exigem altíssimos investimentos para os quais o Brasil não tem sido capaz de gerar recursos suficientes. Por exclusão, a ordem é exportar.

Mas, exportar o que?  Avião, soja, suco de laranja, aço e sapato?  É muito pouco para um desejável faturamento anual de US$ 100 bilhões. Sendo assim, necessitamos urgentemente exportar inovações tecnológicas made in Brasil para competirmos nos mercados globalizados. Isto é, precisamos fabricar e exportar os denominados “manufaturados dinâmicos”, produtos de alto valor agregado que hoje representam 60% do comércio mundial. Esses produtos avançados têm que nascer, obrigatoriamente, de patentes brasileiras. Só para ilustrar, em 2001, a Coréia registrou 3.538 patentes de inovação e o Brasil, 110.

Bem, e o desemprego?  Ora, o desemprego será gradativamente reduzido à medida que o setor tecnológico, principalmente, for tomando corpo e estimulando o surgimento de novas indústrias de produtos dinâmicos para alimentar o segmento exportador.

Portando, não devemos esperar por milagres e principalmente não acreditar em discursos fáceis e de ocasião. O presente cenário nacional está claro, é um momento importante para que o setor tecnológico faça um grande movimento para que se invista pesado em inovações e pesquisas aplicadas.  Esse deve ser o compromisso do futuro presidente para que não nos deparemos com um cenário em que o setor tecnológico nacional surja como o “gargalo” que impedirá o próximo ciclo de crescimento.

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

Texto anterior
Próximo texto

JE 193